Colégio Adventista do RS promove Festival de Curtas para alertar crianças e adolescentes a respeito do abuso sexual
Estudantes do ensino fundamental e médio são desafiados a desenvolver pequenos filmes com as temáticas do projeto Quebrando o Silêncio
Cada dia que passa fica mais claro que abusos sexuais sofridos por crianças e adolescentes trazem consequências severas para as vítimas. Além de atrapalhar o pleno desenvolvimento, as feridas resultantes desses episódios traumáticos podem levar anos, às vezes uma vida inteira, para serem curadas.
Diante dessa dura realidade, a Igreja Adventista do Sétimo Dia lançou em 2002 o projeto Quebrando o Silêncio. O principal objetivo é conscientizar e prevenir o abuso sexual, a violência doméstica e entre outros crimes dessa natureza. Vinte anos se passaram desde a 1ª campanha do projeto e ainda se faz necessário falar sobre esse assunto, sobretudo para crianças e adolescentes.
Pensando nisso, escolas e colégios adventistas do sul do Rio Grande do Sul trouxeram os debates anuais do Quebrando o Silêncio para as salas de aulas. Lana César, coordenadora do Quebrando o Silêncio para essa região, explicou que quando os temas são abordados nas escolas, os alunos que passam por essa situação, denunciam. “Quando ouvidas, elas se sentem acolhidas e seguras”, declarou Lana.
Michele Vasconcelos, educadora e especialista em psicologia social, defende que falar sobre abuso sexual continua sendo um desafio nos dias atuais. “A sociedade ainda precisa avançar muito na criação de espaços seguros para que essas conversas ocorram de forma sensível, respeitosa e que realmente promovam a conscientização e o apoio às vítimas”, defendeu Michele.
A psicóloga acredita que a sala de aula é um ambiente propício para discussão de temas, já que é um ambiente de formação e conscientização. “Ao discutir o abuso sexual nesses espaços, criamos oportunidades para que eles reconheçam sinais de perigo e saibam como buscar ajuda”, ressaltou Michele.
Festival de Curtas
A maneira encontrada para abordar temas tão sérios com o público tão juvenil foi a criação de um festival de filmes curtos. Lana César parabenizou a iniciativa e disse que o projeto ajuda os alunos até mesmo a estarem preparados para acolherem seus colegas. “Esses curtas têm sido de grande importância para alertar alunos e comunidade contra o abuso em suas diversas formas”, salientou Lana.
O 1º colégio adventista do Sul do Rio Grande do Sul a promover um festival de curtas, com as temáticas do Quebrando o Silêncio, foi o Colégio Adventista de Porto Alegre (CAPA). Há 7 anos atrás, o projeto foi elaborado e desde então está presente no calendário letivo dos alunos. Talita Reis, vice-diretora do CAPA, explicou que trabalhar esses assuntos nos curtas faz com que os alunos entendam mais sobre como evitar e combater diversos tipos de abuso.
As temáticas da campanha são abordadas na matéria de ensino religioso. Gabriel Mendes, capelão do CAPA, confessou que é necessário ter muita sensibilidade e tato para conseguir tratar o assunto de maneira a confortar, cicatrizar as feridas e promover a superação. “É um desafio porque provavelmente há entre nós alunos, familiares e/ou funcionários que tenham sido vítimas de algum tipo de violência”, lamentou Gabriel.
O professor explicou como são feitos os preparativos e como os alunos respondem ao desafio. “Lançamos o edital no 2º semestre letivo e os alunos formam grupos para escrita dos roteiros e organização das ideias. Eles ficam muito eufóricos com isso. É claro que a principal motivação é poder contribuir com o combate à violência e restauração das vítimas”, revelou Gabriel.
Mélany Ferri, aluna do 9º, revelou que o maior desafio enfrentado por seu grupo foi ter que se colocar no lugar de personagens vítimas de abuso na vida real. “Muitas vezes isso ocorre no nosso dia a dia, com pessoas reais. E se a gente parar para pensar, é um assunto delicado, mas temos que discutir”, pontuou Ferri.
João Vitor Santana, aluno do 3º do ensino médio disse que, para ele, participar do festival de curtas foi uma experiência intensa e desafiadora. O estudante pontua que discutir sobre o assunto em um ambiente educacional pode ajudar a combater o silêncio que permite que o abuso continue. “Ensinar sobre limites pessoais, consentimento e direitos ao próprio corpo dá às crianças e adolescentes uma sensação de autonomia e segurança”, enfatizou João.