Biólogo criacionista fala dos desafios da atividade científica
O profissional criacionista explica a importância da profissão e os desafios no mundo acadêmico
Brasília, DF ... [ASN] No Dia do Biólogo, comemorado em 3 de setembro, algumas reflexões interessantes podem ser feitas sobre essa profissão com atuação em tantas áreas do conhecimento humano como meio ambiente, biodiversidade, saúde e biotecnologia. Uma das reflexões tem a ver com os dilemas que vivem os biólogos criacionistas, por exemplo, que convivem com constantes embates com as defesas evolucionistas no meio científico. A Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou sobre esse e outros assuntos com o biólogo Marcio Fraiberg Machado, graduado também em História, pós-graduado em Biotecnologia (Engenharia Genética), com mestrado em Educação em Ciência e Matemática e doutorado em Educação. Marcio Fraiberg é casado com Reginéa de Souza Machado, com quem tem três filhos: Geórgia de Souza Machado, Wilgner de Souza Machado e Dassaev de Souza Machado. Atualmente ele é professor de Ciências Biológicas Aplicadas à Enfermagem na Faculdade Adventista Paranaense (IAP/FAP).
Qual é a rotina de um biólogo, especialmente o que trabalha em sala de aula e é pesquisador científico também? E o que você recomenda para quem deseja estudar Biologia?
A rotina é bem pesada e exige preparo e uma boa dose de bom humor. Boa parte dos biólogos formados acabam por desenvolver suas atividades na sala de aula. Essa atividade é fantástica, pois exige do profissional, bem mais que o treinamento universitário e lhe propõe outros desafios.
O professor de Biologia possui uma rotina dinâmica, que se abre em duas frentes:
Uma delas é a sala de aula e nessa área cabe-lhe:
- Ministrar as aulas, buscando as mais modernas informações. Isso é fundamental numa área como a Biologia que possui atualizações diárias. Vivemos o século da Biologia e, por isso, muitas são as informações que precisam de esclarecimentos a população, como é o caso da fosfoamina, a polêmica pílula do câncer;
- O preparo das atividades em laboratório. Dificilmente se pode remover do biólogo sua “veia laboratorística”. Está impressa em seu DNA. Se a escola não possui, é com sucata e a ajuda da comunidade que se monta um laboratório caseiro e, com certeza, ele estará lá;
- Os registros em diário e a tão famosa chamada, onde se pode ficar de olho no aluno que ja vem faltando e precisa de uma atenção especial. Essa atenção é mais sensível ao Biólogo pois, sua formação, lhe dá vantagens para identificar problemas de aprendizagem.
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E qual é a outra área especial de atuação?
São as atividades de pesquisa. Todo biólogo possui esse afã de buscar suas respostas por meio de pesquisa e, na escola não é diferente. São muito ricas as feiras de ciências onde os alunos mostram suas descobertas. Esse é o coração da escola. As atividades de pesquisa são onde os alunos acabam por fomentar propostas e questões que prescindem de uma análise mais acurada. Isso acontece no contraturno, geralmente em “janelas”, horários vagos entre as aulas. As reuniões de estudo são nos dois turnos e, por isso, é importante ao professor, buscar sua carga horária em uma só escola, criando o vínculo necessário para um projeto de longa duração.
A você que deseja estudar Biologia, recomendo empenho e dedicação. Você escolheu uma área de estudo que é compensadora, pois lhe permite estudar um leque fantástico de temas, trabalhar diretamente com a natureza, com as atividades de laboratório em grandes centros de pesquisa e, nas interações entre elas, espalhar esse conhecimento a uma turma antenada e sedenta por esse conhecimento em nossas escolas. Elas estão repletas de mini-gênios esperando serem guiados por você. Essa tutoria rende trabalho e muita interação, que geralmente é premiada nas feiras de ciências.
Quais são os principais dilemas com os quais os biólogos criacionistas convivem, levando em conta que muitos pressupostos da Biologia remetem à ótica evolucionista?
Acho que o principal é o de fazer ciência e não seguir um dogmatismo de outros. Desde o tempo na universidade levei isso a sério. Não costumo aceitar as “verdades” científicas porque outro assim deseja. Foi na pesquisa e no estudo das áreas em Biologia, especialmente o item evolução, que isso ficou claro.
Muitos dos temas estudados me foram informados não por que havia uma pesquisa sobre ele, mas sim, por que era a opinião do grupo dominante nessa área. Por que teria de ser assim.
A seleção natural, por exemplo, é usada para tudo. Existe uma seleção natural observável, que pode ser levada ao laboratório e analisada. Ela me explica toda a microevolução existente, desde bicos diferentes de pássaros a tipos diferentes de cachorros. Mas a tal seleção natural que informa que seres puderam transicionar, transformando espécies em outras, que, aliás, não pode ser analisada, que não se pode levar ao laboratório, e que, em última instância, é mágica, essa não se pode ver.
A ótica evolucionista é isso mesmo, apenas a forma como alguém acha que deveria ser. Não existem provas dessa transformação. Mesmo quando existem possíveis exemplos, como o caso dos vírus, nenhum deles se transformou por “seleção natural” em outro ser. Então existe uma seleção natural empírica e testável e outra “seleção natural” mágica que resolve o problema.
E não é só esse tema que é controverso. Todos os ligados a tentar validá-la carecem de evidências. A famosa teoria endossimbiótica, os órgãos vestigiais, a Evo-devo, a analogia, a homologia, entre outras.
De modo geral, confunde-se ciência com a opinião de algum cientista, e isso eu não aceito. Os fatos, esses sim, são a bússola da ciência. Acho que esse é o dilema a ser superado na Biologia moderna. Se conseguíssemos dar esse passo, veríamos que a Bíblia possui uma versão muito mais atraente do ponto de vista para nos deixar pistas interessantes, como o modelo plano-paralelo das camadas geológicas, como a ausência de elos entre a “transformação” das espécies, enfim, uma série de características que se aproximam e muito das mais modernas pesquisas e, principalmente, do observável.
De maneira geral e sintética, o que os biólogos criacionistas ensinam que difere de maneira clara em relação aos pressupostos evolucionistas?
De modo geral, pretendemos quebrar dois grandes paradigmas. O primeiro, informando que existem muitos cientistas criacionistas em vários centros de pesquisa pelo mundo. E que essa forma de pensar não afeta o fazer ciência. Apesar de parecer banal, é importante quebrar esse paradigma que muitos possuem, pois acabam vendo os criacionistas como “crentes” e sem formação técnica.
O segundo paradigma é o de que existe uma “guerra” entre ciência e fé. E somente uma pode sair vitoriosa. Isso não existe.
Possuo bons amigos evolucionistas e dividia o laboratório com eles até pouco tempo, sem nunca possuir qualquer desafeto por ser eu criacionista. Parece existir pessoas que precisam que essa temática seja levada à frente, mas creio que é um marketing para vender algum produto ou vlog, em busca de uma atenção, em muitos casos midiática para poder existir, pois não o fariam por sua própria pesquisa.
Em sala de aula, biólogos criacionistas informam que existem vertentes que sustentam explicações para a origem da vida na Terra. Esses pressupostos possuem defensores e todos são guiados, em algum grau, por metodologia científica. Informamos que, em cada modelo, existem muitas lacunas e procuramos embasá-los na forma como a ciência se desenvolve. Usamos de honestidade para registrar que a ciência não está pronta, finalizada, mas que está em constante construção.
Procuramos informar como as modernas pesquisas servem de amparo à escolha de um modelo; o que registra o maior conjunto de evidências que respondam o que se observa, e não o que um grupo de pesquisa dominante deseja que seja o correto.
Existem muitas evidências que mantêm o criacionismo em evidência, como o fato de se terem encontrado Carbono 14 em ossos de dinossauros, o que coloca a idade desses grandes répteis em milhares de anos e não milhões. As camadas geológicas da terra, que mostram sinais de formação por grandes massas de água, o que nos leva a pensar num dilúvio, o desenho inteligente revelado em cada estrutura na natureza, a complexidade irredutível dos componentes orgânicos, enfim, diversas evidências que apontam que o modelo criacionista é relevante com as pesquisas modernas.
Você participa de uma inédita formação de pesquisadores criacionistas, idealizada pela Rede de Educação Adventista. Qual a importância dessa iniciativa para profissionais como os biólogos hoje e no futuro, especialmente para os que estão nessa carreira?
A iniciativa foi, sem sombra de dúvida, a mais audaciosa já realizada pois levou grupos de professores e pesquisadores criacionistas a um dos locais “sagrados” do evolucionismo para pesquisar. Isso mesmo, para colher em campo evidências de que a Bíblia possui fundamento.
As discussões envolveram geólogos, químicos, arqueólogos, paleontólogos, bioquímicos, físicos, biólogos, e um outro sem número de pessoas interessadas em ir a campo para pesquisar evidências que muitos apenas leram. Esse é um dos itens que os evolucionistas de modo geral sempre questionaram, ou seja, o de que a pesquisa não era conduzida nessa área.
Tivemos a oportunidade de estudar e debater essas evidências, sem dogmatismo, apenas seguindo a trilha dos fatos. Esses dados ainda vão gerar muitos artigos, pois se colheu muito material que precisa ser depurado.
De minhas “andanças” pela ciência, posso dizer que o ambiente é de respeito nas universidades e academias por onde passei. Só não vejo isso na Internet, onde parece que essa “guerra” rende dividendos, apenas por existir. Assim, por mais que um cientista negue a Bíblia, ele reconhece que seu relato se harmoniza com os eventos que são observáveis na natureza, apenas opta por não segui-la. [Equipe ASN, Felipe Lemos]