Biografia de psicólogo adventista revela fascinante história de superação
Zaro conta a história do menino órfão e pobre que influenciou a prática e conhecimento da Psicologia no Brasil
Órfão de mãe, com um pai bruto e uma madrasta que o queria longe, Zaro, como o chamavam os irmãos, parecia cumprir o destino do próprio nome, Belisário, adjetivo que, segundo o dicionário, significa “desventurado”. Apesar de adversidades sem fim, o menino construiu um caminho que o conectou ao sentido original de seu nome, que no grego antigo significa “flecha ou dardo”.
Desde cedo, quando cuidava da venda da família no interior de Minas Gerais ou, mais tarde, quando saía às ruas da capital mineira vendendo frutas, demonstrou um perfil aguerrido, disposto a ir em busca de seus sonhos. Os irmãos mais velhos o socorriam conforme era possível. Em seus anos de privações e pobreza, poucos poderiam imaginar que Zaro seria conhecido como o psicólogo Belisário Marques, doutor em Psicologia pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. Sua atuação como psicólogo clínico, professor universitário, colunista de revistas e palestrante ocorre junto ao início da psicologia no Brasil, na qual exerceu influência reconhecida entre seus pares.
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Essa incrível história de superação é apresentada na narrativa construída pela jornalista Priscilla Stehling, no livro Zaro: Um Doutor na Sarjeta. O livro revela o potencial transformador da educação. O acesso ao internato adventista em São Paulo marca o ponto de virada no trajeto desafiador do personagem principal. O convívio cristão, o ambiente regrado e o acesso ao conhecimento, proporcionados pelo antigo Colégio Adventista Brasileiro, instituição que deu origem ao atual Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), transformaram o jovem caótico em um homem com um propósito: servir a Deus e ao próximo.
Estilo de vida
Um dos hábitos mais importantes adquiridos no percurso do aprimoramento pessoal foi a leitura de bons livros. O antigo consumidor de gibis aprofundou-se em leituras que construíram novos padrões de pensamento e interpretação da realidade. A Bíblia tornou-se sua leitura principal. Hoje nonagenário, Belisário já leu o Livro Sagrado completo mais de 40 vezes. A vasta obra de Ellen G. White também faz parte das leituras que mudaram seu rumo e o acompanham por todo o percurso da vida. “Daquelas páginas emergiam palavras que pareciam ter sido escritas diretamente para ele, conselhos de como vencer na vida, mesmo diante de circunstâncias adversas, desfavoráveis” (p. 121). Dentre as obras que considera leitura obrigatória, ele destaca o livro Mente, Caráter e Personalidade. “Se você não ler esse livro, dificilmente entenderá o ser humano”, assegura o doutor Belisário.
“Belisário passou a ler todas as publicações traduzidas para o português da norte-americana Ellen G. White. Lia, grifava, rabiscava. Ele encontrava conteúdos diversos que o atendiam em várias carências. [...] Ele se deparava com orientações de como se relacionar com as pessoas, como alcançar seus objetivos, o que são virtudes e por que são importantes. Aquelas páginas enfatizavam a relevância da educação, confirmando que tudo aquilo fazia muito sentido. Afinal, ele podia ver na própria vida pequenos e significativos progressos advindos como reais resultados da instrução e do conhecimento” (p. 121).
No internato adventista, Belisário conheceu Geny Daré, sua grande paixão, que se tornou sua esposa. O amor pela leitura e longas conversas os uniram, resultando em um casamento que dura até hoje. Aos 16 anos, Geny prometeu envelhecer ao lado de Belisário, promessa que renovam continuamente.
O livro A Vida é uma Arte, lançado pela Casa Publicadora Brasileira (CPB) em 2020, explora a obra e o pensamento de Belisário Marques, destacando suas contribuições à psicologia e ao aconselhamento. A biografia recém-lançada oferece uma visão íntima do homem por trás dessas lições e desses conselhos assertivos, narrando sua inspiradora história de superação e resiliência.
Guilherme Silva é editor na Casa Publicadora Brasileira.