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Assistente social ensina música gratuitamente a crianças há mais de 15 anos

Nesse Dia Internacional da Mulher, conheça a história de Rute Lessa Candelório, assistente social e professora de música apaixonada por ensinar crianças a desenvolverem dons e talentos musicais


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“O dia em que eu não toco nenhum instrumento, pra mim, é um dia perdido”. A frase é da assistente social e educadora musical Rute Lessa Candelório. Aos 61 anos de idade, desses, metade do tempo foi dedicado a ensinar música a crianças. “Trabalhei em várias profissões. Fui costureira, professora da Educação Adventista, do Estado, mas nada me deu mais amor do que lecionar música”, conta.

Em três décadas de dedicação ao ensino musical, há 15 anos Rute deu início a um projeto que ensinaria música de forma gratuita para crianças da Igreja Adventista na cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul. “Desde criança meu sonho era ser professora e fui por muito tempo. Quando passou a exigir-se o nível superior, parei de atuar na área. Depois que meus filhos cresceram fiz faculdade de Assistência Social e hoje atuo como assistente social do município. Dentro do assistencialismo social atendi muitas crianças carentes e foi aí que comecei a ensinar de forma gratuita violão, violino, flauta e piano”, lembra.

Rute Candelório: 30 anos de dedicação ao ensino da música.

Ao ensinar as crianças, Rute conta que lembra dela mesma em seu início musical. “Com 15 anos comecei a estudar piano e foi o primeiro instrumento que aprendi. Encontrei uma professora que precisava de uma ajudante que entendesse um pouco de música. Nesse período tive a oportunidade de ir para um conservatório, onde estudava e auxiliava a professora nas aulas e ainda recebia um salário por isso. Dessa forma, surgiram as ferramentas para que eu pudesse dar aula. Foi através dessa experiência que aprendi todo o processo de ensinar música. De lá pra cá, nunca mais parei”, ressalta.

Mais de quatro décadas depois, Rute uniu duas de suas maiores paixões: música e crianças. Membro da Igreja Adventista do bairro Alves Pereira, em Campo Grande, e diretora do clube de aventureiros local, ela já passou por outras igrejas da capital sul-mato-grossense e em todo esse tempo, em cada uma dessas igrejas Rute anunciava para o clube de aventureiros que havia vagas para aulas de música. Pouco a pouco a notícia se espalhava e as crianças apareciam. Boa parte delas não tinha incentivo da família, tampouco condições de adquirir um instrumento musical para praticar aquilo que era ensinado nas aulas. “Há 15 anos comecei a dar aulas de piano de forma gratuita para crianças que chegavam até a igreja através do clube de aventureiros. Depois dei aula de flauta e violino. Para que essas crianças continuassem aprendendo eu comprava os violinos e emprestava para elas pelo tempo que precisassem e continuo fazendo isso ainda hoje. Sempre que um novo aluno meu não tem condições, eu compro o violino e entrego e digo que ele pode usar para praticar pelo tempo que for e quando tiver condições pode me pagar da maneira que puder”, conta Rute, enfatizando ainda que já perdeu as contas de quantos violinos já adquiriu ao longo da vida.

No total, três grupos desses já foram abertos pela professora. “Conforme o meu primeiro grupo foi crescendo, aprendendo os instrumentos e via que já estavam prontos para tocar, eu percebia a necessidade de abrir outra classe”, explica.

Dessa forma, entra uma conta e outra, fora os alunos formais da musicista – cuja parte da renda vem do ensino da música - Rute contabiliza mais de 50 crianças já ensinadas por ela de forma gratuita. “A música é um dom natural, mas é também algo que pode ser praticado, mesmo por aqueles que não têm talento nato e é isso que tento passar para os meus alunos. Que com esforço e dedicação todos podem se tornar ótimos músicos, especialmente para atuar em nossa igreja”, diz.

No decorrer de sua trajetória como professora de música, Rute destaca que todas as crianças a marcaram de alguma forma. Tanto as que ela ensinou de forma voluntária, quanto aquelas que pagavam por suas aulas. “Alguns alunos me marcaram mais que outros por conta de sua dedicação. Um deles, por exemplo, é o Ruben Godoy. Ainda menino chegou em minha casa para fazer aula e desde então sempre teve a música como parte importante de sua vida”, orgulha-se.

O doutor em Engenharia Elétrica, Ruben Godoy, aos 15 anos. Ruben marcou a vida da professora Rute por conta de sua dedicação e empenho nas aulas de música.

Engenheiro eletricista, PhD em Automação e Medição em Engenharia Elétrica e atual tutor do Grupo PET (Programa de Educação Tutorial) da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), o doutor Ruben Godoy tem um currículo acadêmico e profissional que impressionam. Mas, suas maiores realizações acontecem dentro da Igreja Adventista do Bairro Universitário, extensão da sua casa. “Atuo como pianista, ministro de louvor e regente do coral local há quase 19 anos”, conta. Ali na igreja, onde boa parte do seu tempo é dedicada, Rubinho, como é conhecido pelos amigos, lembra com carinho e gratidão a grande responsável pelo início de sua formação musical. “Comecei a estudar piano com a Rute aos oito anos de idade. Fiz aulas de música com ela por um período de nove anos e ela fez muita diferença em minha vida. É impossível descrever tudo o  que ela contribuiu para a minha formação”, reflete.

Formação que deu frutos e hoje alcança outras pessoas através de sua dedicação à igreja. “A música representa aquilo que ofereço de melhor em termos de adoração ao nosso Deus”, acredita Godoy.

Alunos da professora Rute em um dos grupos de aulas de música gratuitas.

E os anos de formação musical dedicados a tantas crianças – mais, inclusive, do que ela consegue mensurar – entregam a Rute um sorriso de satisfação e o brilho nos olhos que têm apenas  aqueles que compartilham amor através dos seus dons e talentos. “Sempre amei crianças e música. Para mim, ensiná-las e ajudá-las a desenvolverem dons musicais é motivo de felicidade, por saber que aquele conhecimento pode guiá-las na busca dos seus sonhos e planos ao longo da vida. E isso não tem preço”, conclui Rute.

Fotos: Reprodução