Arautos de uma era melhor
Saudações, amigos! Hoje veremos a vida de um homem incrível, apresentado no capítulo 5 do livro O Grande Conflito.
O homem estava morto e enterrado há mais de 40 anos, quando num dia cinzento um grupo de pessoas de aparência estranha se aproximou do cemitério de uma igreja em Lutterworth, Inglaterra, com pás na mão. Reunindo-se ao redor do túmulo, um padre ordenou que os escavadores exumassem os restos mortais de João Wycliffe, um pastor muito amado, pregador, diplomata, autor e professor de Oxford, falecido em 31 de dezembro de 1384. Declarado herege e excomungado retroativamente, Roma buscou vingança contra esse antigo reformador. Os ossos de Wycliffe foram queimados e suas cinzas espalhadas no rio Swift.
Wycliffe ousou falar a verdade
O que ele fez para merecer tal destino? Por que a Igreja de Roma estava tão empenhada em livrar a terra de seus restos mortais? Porque ele ousou falar a verdade e fornecer a Palavra de Deus às pessoas em sua língua nativa.
Um século antes do nascimento de Martinho Lutero, João Wycliffe proclamou: “Confie totalmente em Cristo; confie totalmente em seus sofrimentos; cuidado ao procurar ser justificado de qualquer outra maneira que não seja por Sua justiça."
Nascido por volta do ano de 1328 em uma fazenda de ovelhas, a 320 quilômetros de Londres, Wycliffe provou ser um excelente estudioso com talentos notáveis.
Ele também tinha um profundo amor por Deus. Enquanto estudava na Universidade de Oxford, ele foi, por meio de sua habilidade de ler as línguas antigas, capaz de acessar as Escrituras.
Ellen White escreve: "Na Palavra de Deus...ele viu revelado o plano da salvação, e Cristo apresentado como único advogado do homem. Entregou-se ao serviço de Cristo e decidiu-se a proclamar as verdades que havia descoberto" (O Grande Conflito, p. 81).
Abandono da Palavra de Deus
Wycliffe ficou chocado ao ver como Roma havia abandonado a palavra de Deus pela tradição humana e insistiu que as Escrituras fossem disponibilizadas ao povo e que sua autoridade fosse novamente estabelecida na igreja.
"Wycliffe era ensinador hábil e ardoroso, eloqüente pregador, e sua vida diária era uma demonstração das verdades que pregava", escreve Ellen White. "O conhecimento das Escrituras, a força de seu raciocínio, a pureza de sua vida e sua coragem e integridade inflexíveis conquistaram-lhe geral estima e confiança" (O Grande Conflito, p. 81).
Autoridade contra a razão e a revelação
Servindo como capelão do rei da Inglaterra, Wycliffe aconselhou o rei a não pagar o tributo reivindicado pelo papa e mostrou que "a pretensão papal de autoridade sobre os governantes seculares era contrária tanto à razão como à revelação" (O Grande Conflito, p. 82).
Ele também falou contra os males dos muitos frades católicos que pululam pela Inglaterra, vendendo indulgências, exigindo esmolas e vivendo luxuosamente enquanto roubam a riqueza do país e do povo. Wycliffe começou a escrever e publicar panfletos contra os frades, dirigindo a mente do povo aos ensinos da Bíblia e de seu Autor.
Wycliffe foi nomeado embaixador real, servindo dois anos na Holanda, onde defendeu a Inglaterra contra os representantes do papa da França, Itália e Espanha. Ele aprendeu muito e, depois de voltar para a Inglaterra, continuou a exaltar a Bíblia, “declarando que a cobiça, o orgulho e o engano eram os deuses de Roma" (O Grande Conflito, p. 84).
O papa logo enviou três declarações públicas, conhecidas como "bulas papais", para a Inglaterra, exigindo que esse professor de "heresia" fosse imediatamente silenciado. Deus interveio para proteger seu servo e, embora Roma tenha feito repetidas tentativas de acabar com a vida de Wycliffe, nenhuma foi bem-sucedida.
Fiel em face da morte
Mesmo quando parecia estar em seu leito de morte, Wycliffe permaneceu fiel. Pensando que esse suposto herege sucumbiria a uma doença grave, padres e frades correram para sua cama. "Tendes a morte em vossos lábios”, diziam; comovei-vos com as vossas faltas, e retratai em nossa presença tudo que dissestes para ofensa nossa" (O Grande Conflito, p. 87).
O reformador ouviu em silêncio. Então, sentando-se e olhando diretamente para seus algozes, ele respondeu com voz firme e forte: "Não hei de morrer, mas viver, e novamente denunciar as más ações dos frades."
Primeira tradução da Bíblia em inglês
"Cumpriram-se as palavras de Wycliffe. Viveu a fim de colocar nas mãos de seus compatriotas a mais poderosa de todas as armas contra Roma, isto é, dar-lhes a Escritura Sagrada, o meio indicado pelo Céu para libertar, esclarecer e evangelizar o povo" (O Grande Conflito, p. 88).
Esta foi a primeira tradução inglesa da Bíblia já feita. Embora Wycliffe tivesse falado claramente contra Roma, não foi permitido aos papistas torná-lo mártir. Mais tarde, ele morreu de causas naturais e sua obra fundamental sobreviveu, fornecendo uma base sólida para a Reforma que viria.
"O caráter de Wycliffe é testemunho do poder educador e transformador das Sagradas Escrituras. Foram estas que dele fizeram o que foi... O estudo da Bíblia enobrece a todo pensamento, sentimento e aspiração, como nenhum outro estudo o pode fazer. Dá estabilidade de propósitos, paciência, coragem e fortaleza; aperfeiçoa o caráter e santifica a alma" (O Grande Conflito, p. 94).
"A revelação das tuas palavras traz luz e dá entendimento aos simples" (Salmos 119:130 NAA).
A Bíblia de Wycliffe teve uma influência profunda, dando a milhares acesso direto à Palavra de Deus. No clássico Livro dos Mártires, John Foxe escreveu: "embora eles tenham desenterrado seu corpo, queimado seus ossos e afogado suas cinzas, ainda assim a Palavra de Deus e a verdade de Sua doutrina, com o fruto e o sucesso dela, eles não puderam queimar; que até hoje... permanece."
Agradeçamos a Deus pelo trabalho de João Wycliffe e muitos outros que permaneceram fiéis a Deus, não importando o custo. Convido você a orar comigo agora mesmo.
Oração
Pai nosso que estás nos céus, obrigado pelos maravilhosos e poderosos pregadores da justiça, pessoas que lideraram o caminho da reforma, como João
Wycliffe. Pedimos que o Senhor ajude a cada um de nós a permanecer firme pela verdade, a verdade pura, a verdade da Bíblia, e não deixar nenhuma tendência humana entrar em nenhuma de nossas crenças, mas basear nossas crenças em Tua Palavra Sagrada. Obrigado por esta inspiração do passado. E agora, enquanto nos dirigimos para o futuro, nos colocamos firmemente em Tuas mãos, pedindo que nos ajudes a permanecer firmes no Senhor. Em nome de Jesus, pedimos. Amém.
Ted Wilson é o presidente mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia.