Aposentada gradua-se em Nutrição para promover princípios de saúde adventistas
Rosa, de 83 anos, voltou à sala de aula motivada pelo desejo de aprender a como auxiliar pessoas a se alimentarem melhor
Por Murilo Pereira
Da tarefa de estudar, Seetuko de Andrade jamais se aposentou. Aos 83 anos, ela recebeu o certificado de bacharel em Nutrição após uma jornada de quatro anos de estudos no Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), no campus localizado na capital paulista. Na cerimônia de formatura ocorrida no dia 1º de julho, ela foi homenageada pela instituição.
Descendente de imigrantes japoneses, sua infância e adolescência na zona rural do interior de São Paulo foi repleta de responsabilidades domésticas, o que atrasou seus estudos. A mudança para a capital do Estado aconteceu em 1954, quando seu pai se tornou proprietário de uma farmácia no centro da cidade. Rosa, como a nutricionista é conhecida, ajudava-o nos negócios.
Somente após o casamento com um também farmacêutico ela conseguiu concluir o ensino médio. A primeira tentativa de uma formação universitária aconteceu na década de 1960, ao mudar-se com o marido para perto do Instituto Adventista de Ensino (IAE), atual Unasp, campus São Paulo. Na época, com 29 anos, deu início ao curso Normal, que formava educadores. Porém, seis meses depois, ao precisar mudar novamente de endereço, ela precisou deixar o campus. Apesar disso, conseguiu concluí-lo na cidade de Guarulhos, em 1966.
Desde então, não parou mais de estudar. Graduou-se, em 1972, em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). No ano seguinte, entrou no programa de mestrado da mesma instituição, apesar de estar, à época, lidando com a perda do marido, vítima de infarto agudo do miocárdio.
Uma vida de aprendizados e ensinos
A saúde e a qualidade de vida das pessoas passaram a ter atenção especial na carreira de Rosa. Depois de estagiar no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e no Hospital do Servidor do Estado de São Paulo, trabalhou no Hospital do Mandaqui, principal unidade pública de saúde na Zona Norte da capital paulista, e no Ambulatório de Recuperação de Alcoólicos e Fumantes. Após obter o doutorado em Serviço Social pela PUC-SP, atuou, posteriormente, como professora do mesmo curso no campus de Franca da Universidade Estadual Paulista (Unesp) até se aposentar, em 1998, aos 63 anos de idade.
Mesmo após encerrar as atividades profissionais como docente, continuou estudando e servindo como voluntária em ações e projetos sociais. Ajudou muitas pessoas, especialmente alcoólatras, a adotar um estilo de vida saudável. Além disso, ensinou sobre o uso da soja numa época em que a mídia pouco falava a respeito de alimentação saudável.
Veja, na galeria, fotos da trajetória de Rosa:
Foi o ideal de ajudar pessoas a se alimentarem melhor que a levou a cursar Nutrição, quase 20 anos depois de se aposentar como professora universitária. Com uma rotina acadêmica intensa que começava bem cedo, “o esforço foi grande para chegar até o final”, observa ela. Para isso, foi preciso se adaptar a um cenário educacional e tecnológico bem diferente daquele presenciado na primeira graduação, lá no início dos anos 70. E mesmo no doutorado, na década de 1990, quando só havia um computador na universidade na qual estudou.
De volta ao ambiente acadêmico, Rosa encontrou novas oportunidades para nutrir o voluntariado. Os períodos de férias foram destinados para essa finalidade. Com outros estudantes do Unasp, ela já contribuiu em projetos no interior do Piauí e em Vitória, no Espírito Santo, nos quais orientou pessoas em feiras de saúde e ensinou sobre o cultivo de hortas dentro de casa.
Hoje, a professora adventista não tem dúvidas sobre o que quer fazer daqui em diante. “Como já me realizei profissionalmente, meu objetivo agora é levar esse conhecimento para a comunidade. Há muito desconhecimento nessa área, e meu propósito é prover orientação”, afirma.
Recebendo o carinho dos familiares, amigos e professores da instituição de ensino, ela deixou um conselho para as novas gerações de universitários. “Quando a gente trilha o caminho que Deus nos proporciona, conseguimos chegar lá. Não podemos destruir aquilo que Ele nos deu, que é a nossa vida, a nossa saúde e o nosso ideal. Ele já nos deu tudo isso. É só cumprir a meta que a gente chega lá”, reforça.