‘Ambiente renovado contribui para formação de valores’, diz psicóloga do Lar Lygia Hans
A instituição passou por reforma para melhor atender as 13 crianças vítimas de abuso. Mas existem outros planos de dar continuidade às melhorias
Campo Grande, MS...[ASN] Inaugurado há quase 16 anos, o Lar Infantil Lygia Hans, localizado em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, há mais de uma década se dedica a atender crianças e adolescentes vítimas de abuso. Em geral, o Lar recebe crianças que precisam de amparo, e assume todo o trabalho educacional e responsabilidade social com as vítimas, para reinseri-las à sociedade e, em alguns casos, à família de origem. “As crianças chegam ao lar em uma situação de grande vulnerabilidade e a maioria não tinha o mínimo para sua existência. Quando chegam ao lar elas iniciam o processo de reabilitação e atingem um nível de satisfação, resgatando uma dignidade perdida, e passam a enxergar o mundo com outros olhos, fazendo planos para o futuro e criam expectativas com as próprias vidas”, conta Leidimara Rodrigues, assistente social do Lar.
A instituição atua como casa-lar, definido por lei como local apropriado para atender um limite de até dez crianças. Mas, hoje está acima desse limite permitido e atende 13 crianças, três delas portadoras de necessidades especiais. “Existe um pedido da Vara da Infância para que a gente atenda essas crianças especiais, porque falta esse tipo de apoio na Rede Municipal. E como no Lar temos uma estrutura capaz de recebê-los abriu-se uma exceção para o limite de assistidos pela nossa instituição”, explica Leidimara.
Desde o último ano a instituição iniciou uma reforma para melhor atender as crianças e dar a elas um local ainda mais aconchegante para o seu pleno desenvolvimento. “A estrutura passou por grandes mudanças. O quarto das crianças e dos especiais, por exemplo, estão reformados e adaptados. Além disso, a sala de convivência e os banheiros também ganharam ambientes completamente novos. Mas há ainda o projeto de construir lavandeira, biblioteca, sala de estudo, refeitório e sala de atendimento psicológico”, conta.
Mãos que ajudam
No final de março de 2016 a reforma foi finalizada com uma cerimônia de inauguração com a presença da líder da Educação Adventista para o Mato Grosso do Sul e também responsável administrativamente pela instituição, a professora Cinara Ciseski, além da presença do tesoureiro da Igreja Adventista para o Mato Grosso do Sul, pastor Anilson Soares. Entre os convidados também marcaram presença o doutor Gunter Hans e sua mãe, Lygia Hans – mentora da instituição, o pastor Maiquel Nunes – presidente da Igreja Adventista para o Estado à época da reforma e sua esposa, a administradora Julie Nunes, que passou a ajudar o lar frequentemente. “Sugeri para um grupo de amigas ajudarmos o lar de alguma maneira. Então, compramos roupas para as crianças e marcamos uma data para entregar a elas. Em uma manhã de dezembro do ano passado levamos os presentes e também cama elástica, bolo, salgadinhos e passamos uma manhã muito gostosa com elas”, conta Julie.
Mas a administradora quis fazer algo mais. “Continuamos nos encontrando com as crianças aos domingos e organizamos um encontro de meninas com oficinas de doces, brincadeiras e palestra com a escritora e professora Sônia Rigoli. Durante o encontro uma das meninas me disse ‘olha, eu achava que eu não poderia ser nada na vida, mas depois desse encontro eu acredito que posso ser alguma coisa’, tudo muito emocionante”, lembra Julie.
Outras melhorias
Para dar continuidade à reforma o Lar ainda precisa de ajuda financeira. “Nós temos convênio com as três esferas de governo, mas como esse valor não é suficiente para custear a folha de funcionários e também as despesas mensais buscamos parceiros. A igreja tem uma contrapartida fundamental na manutenção do Lar e a maior parte do auxílio vem daí”, explica Rodrigues.
Ainda que o caminho pareça longo, o que já foi conquistado até aqui trouxe mudanças inclusiva, comportamentais para as crianças. “Elas têm prazer em conviver em um ambiente aconchegante e a felicidade é nítida”, endossa.
Reforma simples, mudança complexa
Pode parecer simples, mas reformar e dar às crianças um ambiente mais agradável de conviver tem grande influência na solidificação de valores que elas estão formando. “O ambiente externo possui uma influência marcante no desenvolvimento da personalidade do indivíduo e a grande maioria das crianças que recebemos vêm de ambientes bastante degradados, desorganizados e em más condições de higiene. Esta realidade contribui para o desenvolvimento de insegurança, ansiedade, maior propensão à depressão e valores e princípios também degradados. Assim, as melhorias realizadas aqui no Lar contribuem para que elas desenvolvam sua personalidade de maneira mais saudável através de um ambiente muito mais organizado e aconchegante”, esclarece Simone Fernandes, psicóloga da instituição.
O atendimento psicológico prestado por Simone, aliás, é uma das várias ocupações que fazem parte da rotina das crianças, que inclui ainda o acompanhamento escolar e atividades que auxiliam no desenvolvimento físico, mental e também espiritual.
Ainda de acordo com a psicóloga, as melhorias contribuíram também para um maior engajamento das crianças nas tarefas domésticas, na organização e nos cuidados com o ambiente. “Isso é algo em que trabalhamos insistentemente com eles, ensinando-os os cuidados com o ambiente em que vivem e todos são colocados para ajudar em escalas de tarefas domésticas para que aprendam valores e princípios de organização e limpeza. Após a reforma eles se tornaram muito mais zelosos com a casa, mais dispostos a ajudar, mais preocupados em cuidar do ambiente em que vivem. Também observamos que agora eles têm orgulho em se referir ao Lar como a sua casa”, complementa.
Dados
O Lar Infantil Lygia Hans recebe crianças de até 12 anos, mas uma vez que a criança é admitida, pode permanecer até os 18 anos, quando ela é reencaminhada para uma extensão familiar – dependendo do caso e se a família está apta a recebê-la – e, em sua grande maioria, é encaminhada ao mercado de trabalho. “Já tivemos histórias de crianças do lar que quando atingiram a adolescência passaram a ser monitores no Colégio Adventista Campo-Grandense (CAC) em uma parceria entre o Lar e a escola. Essa porta está aberta caso algum deles manifeste interesse”, destaca a assistente social.
Só no primeiro semestre de 2016 cinco crianças foram reintegradas e outras crianças que vivem no Lar hoje estão em processo de reintegração. “Nos últimos sete anos 151 crianças vítimas de abuso foram atendidas pelo lar e reintegradas à sociedade”, finaliza Leidimara.
Se você tem interesse em ajudar o Lar Infantil Lygia Hans de alguma forma, você pode entrar em contato pelo telefone (67) 3373-7331. [Equipe ASN, Rebeca Silvestrin]
Fotos: Deivison Pedrê