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Alunos do Colégio Adventista de Macaé promovem imersão em inglês para crianças de comunidade carente

Iniciativa faz parte de projeto que defende implementação do ensino bilíngue desde o ensino fundamental nas escolas públicas do município


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A iniciativa mobilizou toda a comunidade acadêmica e marcou o início de uma parceria entre o High School e o coral. Foto: Paulo Araújo

Uma tarde de aprendizado, diversão e esperança marcou o Colégio Adventista de Macaé nesta semana. Alunos do High School — programa que permite obter diploma brasileiro e americano simultaneamente — receberam crianças do Coral Remidos em Cristo, de uma comunidade carente da cidade, para uma experiência inédita: aprender inglês de forma lúdica, prática e totalmente em imersão.

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A ação faz parte das 20 horas obrigatórias de serviço comunitário exigidas pelo currículo do High School e é o desdobramento prático de um projeto maior: uma proposta de lei apresentada pelos estudantes na Câmara Municipal que defende a implementação do ensino diário de inglês desde o ensino fundamental nas escolas públicas de Macaé.

Ensino que transforma

A proposta pedagógica vai além do idioma: forma cidadãos conscientes do papel social do conhecimento. “O serviço comunitário transforma. Ele muda realidades — tanto de quem serve quanto de quem é servido”, explica Raquel Assis, uma das coordenadoras do programa. “Queremos que nossos alunos aprendam a olhar o outro com empatia, indo além do currículo acadêmico.”

Durante três horas, as crianças participaram de aulas inteiramente em inglês, com foco em vocabulário relacionado a alimentos. Jogos, brincadeiras e aulas práticas de culinária — onde prepararam waffles e donuts — tornaram o aprendizado natural e divertido.

“Hoje a gente organizou um dia de inglês para receber as crianças, onde tivemos algumas atividades como culinária, aulas e outras atividades em conjunto como brincadeiras”, conta Maria Clara Dias, aluna do High School. Para ela, a iniciativa vai muito além do cumprimento de uma exigência curricular. “O nosso objetivo é receber elas e fazer elas entenderem que têm capacidade e que, se tiverem objetivo, vão conseguir aprender e seguir.”

De proposta acadêmica a política pública

O projeto nasceu no início do ano, quando os alunos do High School escreveram um artigo defendendo a importância do bilinguismo desde a educação infantil. “Hoje no Brasil a obrigação é a partir do sexto ano. E muitas pesquisas mostram que, continuando de uma língua desde o maternal, a pessoa vai crescer com uma facilidade maior de entender e de falar fluentemente”, explica Maria Clara.

A proposta foi apresentada formalmente na Câmara Municipal de Vereadores de Macaé, cidade reconhecida como capital nacional do petróleo, onde o inglês é essencial para o mercado de trabalho ligado à indústria offshore.

“A gente foi lá, estávamos todos muito nervosos, mas fomos bem recebidos pelo prefeito, pelos vereadores. Foi muito especial, nos sentimos muito acolhidos como estudantes e também como pesquisadores”, relembra a estudante. A experiência de participar de um processo político ainda no ensino médio foi marcante. “Foi uma experiência muito divertida, porque a gente viu que é algo muito real, muito palpável.”

Comunidade mobilizada

A realização da ação contou com o envolvimento de várias pessoas. “Toda comunidade escolar esteve envolvida para que esse projeto de serviço comunitário acontecesse. Então os pais, alunos, fornecedores, parceiros da escola — todos contribuíram para que os nossos alunos conseguissem realizar esse projeto”, destaca Raquel.

Fátima Lessa, mãe de um dos alunos do High School, fez questão de acompanhar a ação. “Eu achei muito lindo a forma como foi conduzido desde o início do projeto. Me passou muito carinho, muito cuidado com essas crianças. Eu vim mais cedo para buscar meu filho para poder ver a apresentação. Achei tudo muito cuidadoso.”

Ela destaca a importância da experiência para a formação dos jovens. “Eu tenho para mim que a gente que doa termina sendo mais abençoado do que quem recebe, sempre. Ver todos eles contribuindo para a vida dessas crianças — são coisas que vão marcar eles para a vida toda. É uma oportunidade de aprendizado e amadurecimento incrível.”

Mais que música: transformação social

O Coral Remidos em Cristo é um projeto evangelístico infantil da Igreja Adventista que atua na comunidade da Nova Holanda, em Macaé. Lá, as crianças aprendem música, adoração e valores cristãos.

Alexandra Portela, responsável pelo coral, conta que a oportunidade de trazer as crianças ao colégio representa muito mais que um passeio. “Foi uma porta aberta que nós encontramos de tirar nossas crianças da realidade dura que elas vivem para um ambiente diferente. Elas gostaram muito.”

Para ela, o colégio tem um papel fundamental nessa parceria. “É uma oportunidade em mil. O colégio se dedica a fazer essa parte social com nossas crianças, e nós somos muito gratos por eles terem esse entendimento e fazerem essa parte social com a gente.”

Alexandra espera que as crianças levem para casa mais que conhecimento. “Pensamentos bons, lembranças boas. Isso dá um ar positivo, uma sensação de esperança, de que existe um mundo afora pronto para eles aprenderem a lidar.”

O trabalho do coral tem um propósito claro: “A gente ensina a criança o caminho que deve andar, planta sementinha, e no tempo certo vai dar o fruto. O interesse é formar cidadãos para um planeta melhor.”

Formação que vai além do currículo

O High School é um programa diferenciado oferecido pelo Colégio Adventista de Macaé. “Aqui no colégio, nós oferecemos o High School, que é o ensino médio americano, e o aluno consegue finalizar o ensino médio recebendo dois diplomas: o brasileiro e também um diploma americano”, explica uma das coordenadoras.

Parte do currículo exige que os alunos cumpram 20 horas anuais de serviço comunitário — uma prática comum no sistema educacional norte-americano que visa desenvolver consciência social e cidadania.

“O serviço comunitário vai muito além de uma exigência curricular. Ele transforma, por mais que pareça simples, a realidade. Transforma a realidade do outro e também, principalmente, a realidade dos nossos alunos, envolvendo cidadania, preocupação com o outro — que é o que nós desejamos aqui no Colégio de Macaé: transformar vidas além do currículo acadêmico”, afirma a coordenadora.

Cibele Alves Soares, diretora do colégio, reforça a importância de abrir as portas para esse tipo de iniciativa. “Como nós já conhecíamos esse projeto, os convidamos para vir aqui e participar. Eles vivenciaram tudo o que estudaram, que prepararam. Eles estão há seis meses trabalhando nesse projeto. Então, vê-los dando aula em inglês, vendo as experiências das crianças aqui, é muito gratificante.”

Educação como direito, não privilégio

Ao final da tarde, cada criança recebeu presentes conseguidos por meio de doações da comunidade escolar: uniformes personalizados para o coral — que não possuía uniforme próprio — e kits completos com máquina de waffle e os ingredientes necessários para reproduzir a receita em casa. A ideia é que o aprendizado e a experiência positiva do dia se prolonguem além das paredes do colégio.

Para Maria Clara, participar desse projeto reforçou valores aprendidos ao longo da trajetória escolar. “A gente cresceu nessa escola, né? A maioria dos alunos. E a gente aprendeu que é muito importante agregar valor à vida das pessoas. Então a gente está muito feliz desses alunos passarem por aqui.”

A proposta dos estudantes dialoga com pesquisas científicas que comprovam que a infância é o período ideal para aquisição de uma segunda língua. Crianças expostas a idiomas desde cedo apresentam maior fluência, melhor desenvolvimento cognitivo e ampliação de oportunidades acadêmicas e profissionais.

Em Macaé, cidade com forte presença de multinacionais ligadas ao setor de petróleo e gás, o domínio do inglês não é apenas um diferencial — é uma necessidade. E os alunos do High School querem que essa oportunidade seja acessível a todas as crianças do município.

O que começou como uma exigência curricular se transformou em um projeto com potencial de impactar políticas públicas educacionais no município. Enquanto isso, crianças que raramente saem de sua comunidade voltaram para casa com uniformes novos, kits de culinária, palavras em inglês no coração — e a certeza de que há um mundo de possibilidades à espera delas.

Como disse Alexandra, do Coral Remidos em Cristo: “A gente planta sementinha, e no tempo certo vai dar o fruto.”

As crianças receberam um novo uniforme, que também foi doado por pais dos alunos do colégio. Foto: Reprodução

Sobre o Colégio Adventista de Macaé

O Colégio Adventista de Macaé integra a Rede Adventista de Educação e oferece ensino desde a educação infantil até o ensino médio, com proposta pedagógica que integra excelência acadêmica, valores cristãos e formação para a cidadania. É a única instituição da cidade a oferecer o programa High School, que permite aos alunos obterem diploma brasileiro e americano simultaneamente.