Dentista ensina detentos a confeccionar máscaras para profissionais de saúde
Depois de orar e jejuar, Luciana entendeu que poderia ajudar a comunidade produzindo máscaras. O projeto conta com a mão de obra de detentos da região.
A 450 quilômetros da capital de Minas Gerais, a cidade de Teófilo Otoni, o maior polo de produção de pedras preciosas do mundo, começa aos poucos a voltar à rotina normal. Comércios, feiras e consultórios médicos reabriram suas portas, com atendimento reduzido, desde o dia 22 de abril.
O município de mais de 140 mil habitantes conta com 424 casos suspeitos e 18 casos confirmados da Covid-19, segundo dados do último dia 1º, o que fez com que a população sentisse a necessidade de se proteger.
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Luciana Lorentz, membro do templo adventista de Grão-Pará, em Teófilo Otoni, é cirurgiã-dentista. Com o fechamento dos comércios decretado pela prefeitura, ela precisou fechar seu consultório durante 40 dias. Foi então que decidiu aproveitar o tempo para aumentar sua comunhão com Deus através de jejum e oração.
E foi aí que ela sentiu o desejo de fazer algo para Ele para ajudar sua comunidade. “No último dia [do jejum], o Senhor me acordou, literalmente, e me orientou a fazer máscaras”, recorda.
Veja o depoimento de Luciana:
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Ainda incerta sobre o chamado que recebeu, ela procurou ajuda do líder de sua congregação, o pastor Jorge Brito. Ele conta que Luciana falou sobre sua experiência e que não tinha certeza se estava realmente vindo de Deus. “Doutora Luciana, eu não tenho dúvida nenhuma que é de Deus, sim”, Brito disse a ela. O pastor a orientou ainda que não tivesse medo, pois o Espírito Santo iria providenciar as pessoas e os meios para fazer a obra dEle.
Luciana juntou todo o dinheiro que tinha no bolso e comprou materiais suficientes para fazer 200 máscaras em casa. “Eu nunca tinha feito máscaras. Deus me orientou até na forma como Ele queria as máscaras”, destaca. Ela ainda compartilhou sua história nas redes sociais, chamando outras pessoas para ajudarem em sua missão.
Uma das pessoas tocadas por sua história foi o diretor de Segurança da Penitenciária de Teófilo Otoni, Julimar Martins, que também é membro da Igreja Adventista na cidade.
Portas abertas
A penitenciária municipal fica a aproximadamente 40 do centro da cidade. O local já mantém a tradição de oferecer oportunidades de trabalhos manuais e reeducação civil para os internos em troca da redução da pena. Eles confeccionam roupas, seus próprios uniformes, tijolos e equipamentos, que são doados para a prefeitura e outras organizações da região. No entanto, devido à quarentena, os projetos foram interrompidos.
Martins conta que foi através de sua sobrinha que ele chegou até Luciana. “Ela [Luciana] foi lá, com as irmãs da igreja, e ensinou os presos a fazer máscaras. Foram confeccionadas mais ou menos cinco mil máscaras”, comenta. Todo o material produzido foi então doado para as forças de segurança e da saúde, que atuam diretamente no combate ao coronavírus.
Assista à reportagem sobre o projeto:
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=rpPJzGFj5pI]
Luciana e seu grupo de voluntários não pararam por aí. Estão agora levando o projeto de confecção de máscaras e aventais para a terceira penitenciária da região, na cidade de Itambacuri. “Deus sabe tão perfeitamente de tudo. Naquele momento que Ele falou comigo sobre as máscaras, eu jamais iria imaginar que hoje estaríamos precisando usá-las todos os dias”, explica a cirurgiã.
Cerca de 6 mil máscaras e 200 aventais de higiene médica já foram produzidos até o fechamento desta matéria. Luciana explica que a ideia do projeto é “ensinar também a eles [os internos] a fazerem as máscaras pra ajudar, pois somos uma região muito pobre, de poucos recursos”.
Segundo ela, o projeto tem crescido muito. Pessoas de outras cidades, até mesmo voluntários nos Estados Unidos, tem se juntado à Luciana em sua “força-tarefa” e aprenderam com ela a confeccionar máscaras.
Atualização 17/06/20
Segundo Luciana, 6 costureiras, todas irmãs adventista do sétimo dia, participaram da confecção das máscaras e outros equipamentos em Teófilo Otoni. O projeto foi abraçado por grande parte da rede penitenciária do Estado de Minas Gerais, que já confeccionou mais de 1 milhão de máscaras através do projeto de Luciana e suas costureiras voluntárias. O Estado também se prepara para encomendar mais 1 milhão de mascaras, que serão usadas por asilos, forças de segurança, profissionais da área da saúde e funcionários públicos.