Adventismo sul-americano retribui investimentos em missões
Dados históricos indicam que adventismo na região cresceu com missões e, hoje, torna-se um importante colaborador para alcançar mais países.
O relatório da Secretaria Executiva da sede sul-americana adventista, em 2023, apresentou uma significativa diferença em relação aos anos anteriores. Durante a Comissão Diretiva Plenária, o secretário-executivo pastor Edward Heidinger promoveu um resgate histórico com reflexões atuais. Ele mostrou como o adventismo no subcontinente sul-americano foi alcançado por missões estrangeiras e, hoje, retribui a tal investimento, impulsionando a missão em vários outros países.
Campo negligenciado
A preocupação de expansão missionária adventista remonta os primórdios da organização. Pouco depois da organização da Associação Geral, 1863, nos Estados Unidos, surgia a primeira missão estrangeira. Em 1874, John Nevis Andrews havia sido nomeado como missionário oficial adventista na Europa (Suíça).
Mas a América do Sul parecia não receber tanta atenção. Um boletim da assembleia mundial adventista, de novembro de 1889, foi o ponto de partida para um olhar mais atento à evangelização adventista na América do Sul. O documento recomendava que as doações mundiais da Escola Sabatina, dos últimos seis meses de 1890, fossem direcionadas para dar início à obra adventista na América do Sul. O valor arrecadado, na época, era de 4.235,95 dólares (equivalente a 146.668 dólares atualmente).
Em publicação de novembro de 1890 (The Home Missionary)[1], William White, filho da pioneira e profetisa Ellen White, escreveu que “recebemos notícias de vários nobres jovens em diferentes partes dos Estados Unidos que eles estavam prontos para consagrar suas vidas para o trabalho de levar a mensagem à América do Sul”. Um ano depois, novo boletim mundial da assembleia mundial adventista chamava o subcontinente sul-americano de campo negligenciado, destacando o potencial missionário da região por meio de colportagem e presença de homens e mulheres com “bons ofícios profissionais” a fim de estabelecer núcleos ou centros evangelísticos.
Colportagem e guarda do sábado
Heidinger lembrou, ainda, que em 29 de maio de 1891 um voto foi tomado pela comissão de missões estrangeiras. Ficou registrado que a Igreja Adventista enviaria Elwin Snyder para distribuir literatura na região explorada. Finalmente, no mesmo ano, ele, juntamente com Albert Stauffer e Clair Nowlin foram destacados para ir até a Argentina.
A chegada dos missionários ao território sul-americano veio ao encontro das necessidades de pessoas que já conheciam a mensagem adventista. Foi o caso de pessoas de origem alemã, e que guardavam o sábado, e fizeram contato por carta com a liderança adventista. Eles chegaram a prontificar o custeio dos missionários para que os visitassem e os instruíssem.
Em 1894, foi então definido que o pastor Frank Westphal iria para a Argentina a fim de atuar diretamente na atividade missionária. Lá, inclusive, ele conheceu Jorge Riffel, um converso adventista suíço. Riffel tem uma história curiosa. O missionário já pregava o evangelho sustentado com recursos próprios; ele passara pela Argentina no final de 1876, depois se mudou para os Estados Unidos e posteriormente retornou à Argentina.[2] Foi um importante apoio na evangelização sul-americana. No dia 9 de setembro de 1894, Westphal organizou a primeira congregação adventista sul-americana, na localidade de Crespo, Argentina.
Participação sul-americana
Passados vários anos, desde os primeiros movimentos da evangelização, a igreja na região tem um papel de protagonismo no cenário adventista mundial. Os dados do relatório da Secretaria Executiva estabelecem um interessante comparativo: em 1915, os adventistas sul-americanos representavam 3,58% do total de membros da organização frente a 11,79% em 2022.
Já a participação em termos de dízimos dos adventistas sul-americanos chegava a escassos 2,19% (1915). Em 2021, a fatia sul-americana corresponde a 16,73%. No caso de ofertas, em 1915 o percentual doado pelos adventistas do subcontinente representava 0,81% e, em 2021, chegava a 15,24% do total doado pelos adventistas no planeta. Quando se fala de habitante por membro, a Igreja Adventista do Sétimo Dia na América do Sul tem uma ótima proporção (137 habitantes por membro, segundo dados de 2021. Apenas para comparação, o escritório da Igreja que atende a região norte da África e Oriente Médio, por exemplo, registra 103.862 habitantes por membro.
Voluntariado e missionários
A avaliação quanto ao envio de voluntários pelo sistema oficial adventista (Serviço Voluntário Adventista - SVA) aponta para um crescimento constante. Segundo dados do SVA, em 2021 foram enviados 166 voluntários dentro do próprio território da Divisão Sul-Americana e 82 para outras divisões.
Isso inclui capacitação específica, designação de atividade a ser realizada e uma estrutura de acompanhamento de tal missionário. Entre 1999 e 2021, 910 voluntários foram enviados pela Divisão Sul-Americana para países fora do seu território. No mesmo período, o número de pessoas enviadas para evangelizar como voluntários, dentro do mesmo território (mas em países diferentes do seu), chegou a 782780. Ou seja, o maior percentual de voluntários preparados (53,8%) foi de pessoas para pregar o evangelho fora do território sul-americano contra 46,2% (de dentro).
Ao mesmo tempo, atualmente, há duas famílias estrangeiras servindo no território da Divisão Sul-Americana e 70 famílias atuando em várias partes do mundo. São missionários pagos pela Igreja Adventista em âmbito mundial. No mundo inteiro, 351 famílias estão servindo de maneira geral no planeta. A Divisão Sul-Americana é a segunda sede administrativa mundial que mais envia missionários.
Desafios futuros
No final da apresentação, o pastor Edward Heidinger frisou que há enormes desafios de evangelização na ótica adventista. Ele listou pelo menos três grandes grupos a serem alcançados. O primeiro deles é o do alcance para o evangelho de pessoas na faixa da chamada Janela 10/40, conhecida região do mundo (60% da população mundial). Nesta região específica do globo, vivem 2,6 milhões de adventistas dentro de um universo total de 23 milhões de adventistas em todo planeta.
Outra faixa que se mostra como desafiadora para o evangelho pregado pelos adventistas é a Janela Pós-Cristã. Há, segundo o relatório, uma tendência crescente em regiões como Europa, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia de decréscimo no número de membros das igrejas cristãs em geral, um aumento de adesão de imigrantes e altas taxas de abandono da fé, especialmente por parte de jovens.
E há, ainda, a Janela Urbana, isto é, 543 cidades com 1 milhão de habitantes ou mais. Nelas, há apenas 1 adventista para cada 89 mil habitantes. E, em 100 cidades destas, há 1 adventista para cada 200 mil habitantes. Globalmente, é o caso de metrópoles como Tóquio (37 milhões de habitantes), Deli (31 milhões), Xangai (27 milhões), Daca (21 milhões), entre outras.
Referências:
[1] White, William. The Home Missionary, volume 2, número 11, Extra, novembro de 1890.
[2] Jorge Riffel fugiu da Europa ao ser perseguido por sua fé. https://noticias.adventistas.org/pt/noticia/missao/jorge-riffel-fugiu-da-europa-ao-ser-perseguido-por-sua-fe/