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ADRA espera COP30 para financiar projeto de açaí sustentável no Pará

Projeto da ADRA une sustentabilidade e desenvolvimento econômico para transformar a realidade de famílias ribeirinhas produtoras de açaí


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Produtores esperam projeto da ADRA para implantar fábrica e diversificar a geração de receita com o cultivo do açaí. (Foto: Heron Santana)

O sol já estava alto na sexta-feira, 3 de outubro, quando o pequeno barco deixou a orla de Curuçambaba, vila de Cametá, a 170km de Belém, PA. A proa apontava para o interior, rumo ao rio Joroca — um braço do Tocantins onde o tempo corre devagar, mas o açaí nunca para. Assim como acontece em todo o Pará, o pequeno fruto é a estrela do desenvolvimento econômico.

É nessa região ribeirinha que a ADRA (Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais) espera contribuir para transformar a realidade de famílias produtoras. O projeto Açaí Sustentável da Floresta — que concorre a um financiamento internacional durante a COP30, que acontecerá na capital paraense no próximo mês — quer transformar a colheita artesanal em uma cadeia produtiva inteligente e justa. Se vencer o concurso, o projeto poderá financiar a instalação de uma fábrica de beneficiamento local, capaz de aumentar em até 300% a renda das famílias que vivem do açaí.

“Hoje a gente vende o caroço por um preço baixo e as fábricas que compram ficam com a maior parte do lucro”, explica Fernando Viana, produtor de terceira geração no Joroca. “Na época do meu avô, o lucro era melhor porque vendia direto na feira. Agora é tudo controlado por quem tem fábrica. A solução é ter a nossa própria”.

A voz de Fernando carrega décadas de tradição. O pai e o avô também viveram do açaí. E agora, ele vê no projeto da ADRA a chance de realizar um sonho antigo: “O plano da fábrica está virando realidade. Já montamos a cooperativa e, com a ajuda da ADRA, vamos conseguir ficar com o lucro aqui”.

O ouro roxo que move a Amazônia

Iguaria presente na mesa do paraense, o açaí é o motor econômico do Estado. O Pará responde por 93% da produção nacional, e só em 2023 movimentou mais de 1,7 milhão de toneladas na cadeia produtiva, segundo dados do IBGE e da Emater. Mas, apesar dos números impressionantes, o lucro ainda escorre para longe das margens dos rios. A maioria dos ribeirinhos vende o fruto in natura a atravessadores, que o revendem para fábricas nas cidades, que produzem a polpa e exportam para outros Estados e mesmo para fora do Brasil.

É essa lógica que o projeto da ADRA tenta transformar. O plano é organizar 80 produtores em uma cooperativa, com treinamento técnico, manejo sustentável e uma fábrica de polpa. Com isso, as famílias deixariam de vender o fruto cru a até R$ 70 a lata, e passariam a comercializar a polpa, com lucro maior e com mais controle sobre a própria produção.

“Hoje, uma boa safra dá 100 latas por semana. Se a cooperativa funcionar como planejado, vamos chegar a quatro mil”, calcula Dael Silva Viana, produtor e líder comunitário. “A fábrica vai permitir que a gente bata a polpa aqui mesmo. Isso aumenta o lucro e mantém a renda dentro da comunidade. A ADRA tá ajudando a gente a dar um passo que sozinho não dava pra dar”.

A instalação da fábrica e a capacitação sobre o manejo beneficiarão produtores e o meio ambiente.

Mas o impacto do projeto vai além da economia. A proposta da ADRA também quer preservar a floresta por meio de manejo sustentável, em parceria com instituições como a Embrapa.

“O equilíbrio é o coração do projeto”, explica Adimilson Duarte, diretor regional da ADRA no Pará. “Vamos ensinar técnicas que permitam colher o açaí o ano todo, recuperar áreas degradadas e usar até o caroço, que hoje é descartado, como biocombustível. É economia, sustentabilidade e justiça na mesma linha de produção”.

O caroço, lembra Adimilson, pode substituir o carvão em usinas, com uma queima mais limpa e eficiente. A ideia é criar uma cadeia circular, em que nada se perca, nem o fruto, nem o futuro. Uma união de sustentabilidade e desenvolvimento econômico. O projeto pretende capacitar jovens e mulheres em gestão cooperativa, rastreabilidade e empreendedorismo.

A COP30 como janela de oportunidade

Para que tudo isso saia do papel, o projeto depende de votos. Ele concorre a um financiamento internacional na COP30, que apoiará iniciativas amazônicas de impacto socioambiental. O público pode votar acessando o link do projeto e confirmando a escolha pelo login Gov.br.

“É simples pra quem vota, mas é enorme pra quem vive disso”, diz Adimilson. “Se o projeto for aprovado, vamos conseguir instalar a fábrica e mudar a história dessas famílias”, concluiu.