ADRA devolve dignidade a pessoas acolhidas em abrigo de Porto Alegre
Com mais de 14 mil pessoas em situação de rua no RS, projeto da ADRA transforma abrigos em espaços de dignidade, esperança e recomeço, resgatando vidas e fortalecendo a reinserção social

Eles viviam às margens da sociedade, invisíveis aos olhos de muitos, mas cheios de histórias e esperança. Eram indivíduos que viviam em situação de rua e enfrentavam desafios inimagináveis. Para essas pessoas, o acolhimento em um abrigo pode ser o primeiro passo rumo à mudança de vida. No entanto, um dado apresentado pelo Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) revela uma realidade alarmante.
Levantamento realizado em 2024, por meio do projeto Rua Cidadã, elaborado pelo MPRS, identificou que 14.829 pessoas vivem em situação de rua no Rio Grande do Sul. Desse total, apenas 14,73% - o equivalente a 2.185 pessoas - são atendidas em equipamentos com proteção noturna, como albergues. A pesquisa mostra ainda que houve um aumento de 23,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando o número de pessoas nessa condição era de 11.647.
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É nesse cenário que a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), por meio de seu escritório no Rio Grande do Sul, tem realizado um projeto social de grande relevância. Após firmar parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, a ADRA passou a administrar sete abrigos na capital gaúcha. Um deles é o Abrigo Bom Jesus, que leva o nome do bairro onde está localizado.
Mais do que um lugar para dormir, o espaço oferece acolhimento, dignidade, apoio emocional e oportunidade de educação. Além disso, cada abrigado recebe a oportunidade de participar de projetos que resgatam a autoestima e abrem caminhos para a ressocialização.
Segundo a ADRA, desde o início da parceria, o abrigo já atendeu 158 pessoas, acolheu 51, serviu 218 mil refeições, emitiu 120 cursos do Senac e ajudou 34 pessoas a superarem a vulnerabilidade social.

Histórias de superação
Jefferson Luiz, de 52 anos, chegou ao Abrigo Bom Jesus em meados de agosto do ano de 2024, bastante debilitado e pesando apenas 58 quilos. Ele conta que vem de uma família com boa condição financeira, que lhe proporcionou um diploma de tecnólogo em logística. Em um momento de fragilidade, conheceu as drogas e indo parar nas ruas. “Quando cheguei aqui, sofri muito, pois meu corpo estava aqui, mas minha mente continuava nas ruas. O suporte psicológico oferecido no abrigo foi fundamental", relatou Luiz.
Jefferson relembrou as dificuldades que enfrentou enquanto estava em situação de rua e destacou a importância do trabalho da ADRA em sua recuperação. “Quando tu está nas ruas, você não tem perspectiva de vida, não tem norte [rumo]. Aí, você vai sempre pelo mais fácil. Sempre tem que ter aquele anjo que te puxa e te dá um incentivo para lutar. A ADRA, por meio do abrigo, me deu um propósito", reforçou Jefferson.
Sílvio José Padilha, de 60 anos, está deixando o abrigo após sete meses de atendimento. Assim como Jefferson, não chegou em boas condições ao abrigo. Com o fêmur fraturado e muito abaixo do peso, foi acolhido pela equipe da ADRA e, aos poucos, foi se recuperando. Hoje, com os olhos marejados, ele demonstrou gratidão. “Esse pessoal aqui não faz [apenas] o máximo, eles fazem além do máximo. Eles se doam de coração por cada um de nós", afirmou Sílvio.

O Bom Jesus
A ADRA não devolveu apenas dignidade e confiança às pessoas em situação de rua. O próprio abrigo ganhou uma nova aparência e passou a ser prestigiado pela sociedade, que passou a reconhecer o trabalho sério realizado pela agência adventista. “Ao redor do prédio existiam árvores que, vez ou outra, caíam e destruíam o telhado, fazendo com que, ao chover, molhasse a parte de dentro. A fachada estava com a pintura desgastada, a grama estava alta e a iluminação era zero", explicou Cristiano Freitas, coordenador da ADRA RS.
Cristiano também explicou as estratégias adotadas para tornar o local mais aconchegante e humano. “Nosso primeiro passo foi revitalizar toda a fachada. Junto à prefeitura, instalamos o novo logo, refletores de led e câmeras de monitoramento foram instaladas trazendo mais segurança no período noturno. Isso fez com que a comunidade olhasse para o abrigo com novos olhos. Eles se sentem seguros", afirmou Freitas.
As melhorias também ocorreram internamente. Com o objetivo de atender melhor as mulheres acolhidas, a ADRA revitalizou um cômodo e transformou em uma ala feminina, oferecendo mais privacidade e proteção. “O Espaço Fêmi abriga hoje dez mulheres. Ali, elas têm sua própria sala de TV, biblioteca, quartos com piso flutuante e ar-condicionado. É um espaço de proteção e privacidade", sublinhou Cristiano.
A "cereja no bolo", no entanto, é um programa chamado Chá com Esperança. Realizado quinzenalmente, o encontro busca despertar em cada acolhido o senso do amor de Deus. “Em parceria com o templo adventista do bairro, um estudo bíblico é realizado com aqueles que demonstram interesse. Ao menos 15 pessoas têm participado desses momentos, e, como resultado do trabalho, nós tivemos nove abrigados e um colaborador aceitando o batismo", comemorou Cristiano.
