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A história do cristianismo no Oriente

Historiador explica por que é importante compreender desevolvimento do cristianismo na região oriental a fim de entender melhor a Bíblia


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Além da prática, o texto bíblico ajudou a expandir as primeiras comunidades cristãs e tem reflexo até os dias atuais (Foto: Shutterstock)

O entendimento dos primeiros passos do cristianismo é essencial para uma compreensão mais clara sobre o próprio texto bíblico. É bastante limitador imaginar que o cristianismo atual se desenvolveu apenas por influência de um ou dois movimentos ao longo dos anos. Nesse contexto, é enriquecedor conhecer mais sobre o cristianismo no Oriente.

A expansão do cristianismo se deu no Oriente (regiões da Ásia Menor, Síria, Mesopotâmia, Egito). E isso resultou em diversas comunidades que desenvolveram ritos, costumes e teologias específicas. Desde os primeiros séculos, centros como Antioquia, Alexandria, Constantinopla e Jerusalém assumiram grande importância e se tornaram polos de influência teológica e litúrgica.

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Para dialogar sobre a história do cristianismo oriental, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) entrevistou o historiador Lucas Gesta. Mestre em História Social, é pós-graduado em Teologia Bíblica e Ministerial e em História da Igreja. Atualmente se dedica à pesquisa dos Cristianismos Orientais, com ênfase nos ritos siríacos e seu contato com o Ocidente. É coordenador da pós-graduação em História do Cristianismo e do Pensamento Cristão na Faculdade Batista do Rio de Janeiro.

Você tem estudado bastante sobre a história do cristianismo e ensinado acerca de aspectos pouco conhecidos dessa história. O que você constatou em relação à origem das igrejas cristãs? Quais foram as comunidades mais antigas de cristãos que se tem notícia e onde se localizavam?

O ponto mais importante é que não temos uma única igreja, no sentido de uma instituição submissa a uma mesma liderança ou crendo numa mesma perspectiva. Temos igrejas diferentes, com lideranças diferentes e algumas doutrinas ou pensamentos específicos que são diferentes uma das outras ou até divergentes.

Quando falamos das primeiras igrejas cristãs, temos aquelas citadas explicitamente nas cartas paulinas ou joaninas, por exemplo. No entanto, é importante reconhecer nos evangelhos que, possivelmente, havia igrejas nas cidades que são marcadas pela passagem de Jesus, milagres de Jesus, ou regiões étnicas de origem de pessoas que Jesus curou ou conversou.

Você costuma comentar que não existe cristianismo e sim cristianismos. Ou seja, a religião cristã está longe de ser um bloco monolítico e nem se resume ao catolicismo romano tradicional ou ao protestantismo histórico pós-Reforma. Algo que poucos sabem ou estudam é acerca da existência dos chamados cristianismos orientais e sua incrível contribuição, por exemplo, para a preservação de manuscritos e cópias antigas da Bíblia, como partes do Novo Testamento, certo? Fale um pouco disso.

Sim. Quando falamos de Cristianismos Orientais estamos nos referindo às diversas igrejas que surgiram desde as primeiras expansões apostólicas no mundo (ou seja, desde os primeiros séculos) da Ásia, África e parte da Europa. São igrejas que nunca foram católicas ou protestantes.

Sua formação se deu a partir das primeiras missões e primeiras famílias cristãs que migraram em direção ao que chamamos de “oriente cristão”. Quando falamos da formação da Bíblia em si, dos códices mais amplos e mais importantes para as principais traduções bíblicas do mundo, bem como sobre a preservação dos textos bíblicos em hebraico e grego, são essas igrejas que os tinham e os guardaram por séculos, antes dos museus e centros de documentação histórica surgirem na contemporaneidade.

O historiador Lucas Gesta é um pesquisador que se aprofundou no estudo dos cristianismos orientais (Foto: Divulgação)

Que tipo de influência as comunidades cristãs mais primitivas tiveram sobre o cristianismo de hoje e que ainda se mantêm fortes? Pode dar alguns exemplos?

Elas nos legaram o Novo Testamento. A base da nossa fé protestante é analisar as práticas e discursos das igrejas primitivas e aplicar ao nosso cotidiano. É claro que as igrejas primitivas viviam em uma cultura e um mundo inacessível. No entanto, nossas igrejas (que são frutos de nossa própria cultura e experiências) filtram ou deveriam filtrar suas doutrinas, liturgias, práxis e eclesiologias, por exemplo, à luz das igrejas primitivas, as quais tinham pessoas que viveram com Cristo e seus discípulos diretos.

Por que é relevante compreender que existem muitas divisões e características peculiares na história do desenvolvimento do cristianismo desde o primeiro século da era comum ou era cristã? Em que este tipo de conhecimento pode ser útil para a fé de cristãos nos dias de hoje?

Porque se não entendermos o início, a formação real do cristianismo, podemos ser manipulados por grupos tradicionalistas (católicos) ou restauracionistas (protestantes), que querem manipular a história da igreja a seu favor. Ambos criam ambientes de desconfiança e ódio às outras igrejas às quais eles não pertencem e transformam a paranoia em adesão proselitista.

A questão não é entender a divisão, mas sim a multiplicidade de igrejas, a oportunidade de aprender com as suas diferenças e divergências, e observar como a cultura determina muitas dessas divisões ou as justifica. Compreendendo esse lado da “multiforme graça”, temos uma maturidade e humildade cristãs bem pujantes.


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