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Coluna | Diego Barreto

Exegese do diabo

O problema de muitos cristãos é quando aquilo que o diabo faz pauta a vida cristã e há uma inversão na exegese.


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A Bíblia é estudada por meio da exegese do texto bíblico.

Não, esse texto não fala sobre um tipo errado de exegese que pode ser considerado do diabo. O “do” no título não se refere ao tipo de exegese, mas à fonte de origem. Exegese é a arte de interpretar o texto, as palavras, e até os fatos. Usamos a exegese sempre que tiramos conclusões e fazemos nossas interpretações. A Bíblia é estudada por meio da exegese do texto bíblico. Ela é pá que desenterra a Palavra de Deus os ensinos, princípios e tudo aquilo que alimenta nossa fé e espiritualidade cristã.

O problema é que não fazemos apenas interpretações da Bíblia (exegese) para alimentar nossa fé. Tem se tornado comum entre cristãos alimentar a própria espiritualidade com aquilo que não é da Revelação de Deus. Buscamos na nossa própria experiência humana as verdades, esquecendo-nos que nossa própria experiência pode ser enganosa. E sobre uma das piores fontes de declarações possíveis que encontramos no campo da experiência: as declarações de satanás.

Sim, infelizmente, muitos de nós fazemos e estamos dispostos a fazer interpretações e suposições baseados em experiências que envolvem diretamente o diabo e suas aparições. Usamos histórias e momentos em que o diabo aparece em possessões e/ou em histórias que tentam contar como acontecem as coisas no campo do inimigo e nos envolvemos curiosamente com essas informações achando que elas são positivas e proveitosas.

Certa vez um professor de ensino religioso começou a aula falando do que já foi uma coisa muito comum de se comentar: “M.O de Satanás” ou Modo de Operação de Satanás. Lembro de uma aula inteira que não falou de Deus, e seu Reino, mas do diabo e suas táticas. Se é que realmente conhecemos suas táticas de alguma maneira. Eu creio que não. Seres humanos, muitas vezes inferiores em inteligência e experiência de vida no Universo, não têm a mínima condição de vencer satanás ou mesmo lutar diretamente contra ele. É Jesus quem vence essa batalha e é dele que unicamente dependemos nessas lutas.

Outra ocasião assisti à danosa cena em que um irmão da igreja pediu o microfone para contar a dantesca história de uma das aparições do diabo em uma outra congregação muito longe dali. Ele repetiu no microfone as palavras do diabo e usou-as de exemplo para a congregação. “Viu irmãos, o diabo disse que gosta de [tal procedimento] então temos de fugir de agir assim, porque ele se agrada”. Em suma, o diabo pregou e exerceu sua voz de influência sobre os irmãos.

Gostaria de fazer algumas perguntas para reflexão. Será que o que o diabo diz deve ser levado a crédito? Será que um “reavivamento” baseado no inimigo de Deus tem valor? Será que devemos agir e mudar atitudes por causa daquilo que o diabo diz? O que Deus deve pensar sobre a maneira como acolhemos os ditames de satanás por medo e ignoramos muitas das coisas que Jesus nos ensinou?

Não fosse só isso ainda temos o problema de livros que são escritos e se propagam como fogo que baseiam toda sua teologia nas coisas de satanás. Livros espiritualistas que contam experiências humanas com satanás ou seus correligionários e ainda assim se pretendem ser verdadeiros. Você acha mesmo que satanás faz parcerias com os homens a ponto de lhes revelar todos os segredos de seus esquemas? Ou que é tolo o bastante para contar a alguém que um dia pode escrever um livro e sair pregando por aí?

Muita inocência nossa. E muitos de nós podemos até ter nos convertido com histórias como essas. Não importa, Deus é capaz de transformar maldição em benção e sua experiência espiritual pode ter sido tocada e reavivada em assuntos como esse. Já aconteceu comigo também antes de aprender mais sobre o Senhor. Mas isso, nossa experiência, não determina a verdade. A verdade está revelada na Palavra DE Deus. É nEle que nos apoiamos e dependemos. Nem mesmo em nossas experiências particulares, mas no amor e na revelação do nosso Deus.

Você já percebeu que em lugar nenhum da revelação de Deus, a Bíblia, você irá encontrar detalhes sobre o mundo espiritual e a vida dos demônios? Deus não se preocupa em falar ou revelar como são as técnicas de Satanás ou como são os planos do inimigo em enredar a humanidade. Não há nem mesmo na Bíblia, se não uma única citação, sobre como expulsar demônios. Deus não está interessado em nos revelar essa parte. E a razão é simples, isso não importa! Jesus é suficiente e abundante em nos revelar a verdade, salvar e proteger. Não precisamos de nada mais do que conhecer a Deus.

A preocupação de Deus é uma só que conheçamos quem Ele é e o amor que tem. “E a vida eterna é esta: Que te conheçam a Ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (João 17:3). Não precisamos estudar a vida dos demônios, e nem mesmo aprender e descobrirmos mais sobre o “mal”. Muitos desculpam sua curiosidade e mesmo sua perversão ao dizer que precisam conhecer o mal para poder evita-lo. Isso é inútil e uma armadilha. Não precisamos disso, por isso Deus não se preocupou em revelar as coisas do mundo espiritual, principalmente referente aos anjos caídos.

Basta um único texto da Bíblia para deixar de vez essa mania terrível. “Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. Mas, porque vos digo a verdade, não me credes” (João 8:44-45). Quantas conclusões podemos tirar desse texto. Nossa exegese da Bíblia nos mostra algumas coisas nesse texto:

1) Quem crê no diabo é filiado a ele.

2)O diabo nunca se firmou na verdade, portanto o que ele diz, nunca, nunca, nunca, deve ser considerado verdade, por mais verdade que seja. As vezes dizer a verdade pode ser uma técnica de mentir. Veja no exemplo de Jesus. Quando os demônios gritavam que Jesus era o Filho de Deus, estavam dizendo a verdade, mas isso soava como mentira aos ouvidos de pessoas que achavam que o Messias não tinha vindo para morrer e sim para conquistar. Soava como uma amizade entre os demônios e esse Jesus que dizia ser uma coisa que não parecia aos olhares judaicos da época. No diabo “não há verdade”.

3) Ele é o pai da mentira, dai o significado da palavra diabo.

4) É mais fácil crer no diabo do que em Deus. E muitas outras conclusões.

Resumindo. Nunca acredite no diabo e em suas manifestações. Suas palavras devem ser completamente ignoradas. Nada deve ser considerado e nenhuma interpretação deve ser feita em nada que se relaciona com as ações de satanás. Não é porque o diabo se manifesta em algum lugar que isso valida o valor espiritual de alguma coisa. Muitos costumam dizer: “Deus está nesse plano, porque o diabo já está até se manifestando!” Nãããoooo! Não é o diabo que valida a fé, é Deus. Se Deus agir, podemos considerar aquilo um plano de Deus, mas se o diabo se manifesta, não quer dizer nada! Se a presença do diabo fosse sinal da presença de Deus, muitas igrejas por ai estariam validadas. As manifestações de satanás devem ser todas ignoradas. Com o diabo não se conversa, não se discute, nem se dá atenção. Quando ele aparece, paramos de olhar para ele e buscamos o nosso Deus. É tudo o que precisamos.

Deixe esses assuntos para lá e concentre-se em Conhecer a Deus e a Jesus Cristo a quem Ele nos enviou!

Diego Barreto

Diego Barreto

O Reino

Vivendo já o Reino de Deus enquanto Ele ainda não voltou. Um olhar cristão sobre o mundo contemporâneo.

Teólogo, é co-autor do BibleCast, um podcast sobre teologia para jovens, e produtor de aplicativos cristãos para dispositivos móveis. Atualmente é pastor nos Estados Unidos.