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Talvez um psicólogo possa explicar minha apreensão por estar fora da festa. Ainda vou trabalhar isto na terapia onde, provavelmente, o profissional me perguntará sobre minha infância e eu lhe direi que sou filha de migrantes, retirantes nordestinos,...
Talvez um psicólogo possa explicar minha apreensão por estar fora da festa. Ainda vou trabalhar isto na terapia onde, provavelmente, o profissional me perguntará sobre minha infância e eu lhe direi que sou filha de migrantes, retirantes nordestinos, que desde criança entrei pela porta dos fundos, comi na cozinha com os empregados e sonhava em ter a boneca da filha do patrão. O que de certo modo explica algumas coisas, como uma ojeriza em ver pessoas discriminando os mais “fracos” na cadeia produtiva capitalista, uma certa desconfiança de quem detém o poder e uma vocação para agregar. Sou um tipo que gosta de pessoas por perto, procura ver as semelhanças antes das diferenças e acredito na tal da união.
A idade e o tempo, e o tempo somando idade foram me mostrando que não é o ideal de todos e existem os realmente interessados na melhor cadeira, na melhor posição, no presente maior, no carro mais caro, no terno mais chique, no sapato mais famoso. É nossa natureza degradada buscando soberania sobre nossos pares, em uma corrida insana e patética por superioridade. E quem é tão superior, afinal? Estou construindo minha própria resposta a esta pergunta, todavia ela muda conforme o ambiente e no que diz respeito à igreja, ela entra em conflito. É que a certeza de ser “povo santo”, “sacerdócio real”, confunde algumas pessoas e até eu – ora veja – já fui presa nesse embuste.
Ser povo separado, dedicado a uma missão especial não me constitui setor VIP, nem pulseirinha especial para acesso restrito na melhor ala do Céu. Pelo menos até onde entendi de outras partes da Bíblia que me mandam “ir e fazer discípulos”, ou então que afirmam que sou miserável e carente do perdão de Deus. Daí fico encafifada com esta coisa de acharmos que só existe UM jeito de pregar, UM jeito de vestir, Um jeito de cantar, UM jeito de ser de Deus. Não que isto seja exatamente um problema novo. Não. Em Marcos 9:38-40 temos uma história bem semelhante a este problema quando João chega para Cristo e comenta: “vimos um homem expulsando demônios em teu nome e procuramos impedi-lo, porque ele não era um dos nossos.”
Claro, na cabeça elitista de João – e olha que ele era excluído de outras rodas, como a dos fariseus, por exemplo – se o povo não estava no grupinho deles, então não podia adorar a Deus. Mas Jesus dá uma lição fantástica e vai no princípio da coisa, não fica na beirada. "Não o impeçam. Ninguém que faça um milagre em meu nome, pode falar mal de mim logo em seguida, pois quem não é contra nós está a nosso favor.” Uau! É muito nosso isso de fazer “panelinhas, mas Jesus ensina com destreza que a causa é dEle e não só de um grupo e, bem, se a causa é dEle... quem é você – ou somos nós – para excluir? Dentro da mesma denominação ou em relação a outras denominações, existe uma perseguição velada e mesmo descarada, uma tentativa de desacreditar o outro ou os outros todos como maneira de validar nossa postura, nossos credos.
Bom, aprendi com Cristo que quem o anuncia não pode falar mal dEle e meu papel não é de polícia, afinal, Ele não precisa de defensores, mas de testemunhas, já diz o velho ditado. Cabe a mim testemunhar dEle no meu melhor e o melhor dEle em mim é o amor que precisa ser cultivado todos os dias. Bom, você sabe como é, quem ama não tem tempo de agredir, né? O que me leva de novo à questão que atormenta: quem é tão superior afinal? Uma parte da resposta eu já tenho e com certeza não é quem precisa gritar e desprezar para confirmar sua própria fé e verdade, pois ser santo é como ser uma dama, se precisa dizer o tempo todo que é, é porque não é.