Paranaense faz cópias da Bíblia à mão e inspira igreja a fazer o mesmo
Adventista de 65 anos presenteou os filhos com os manuscritos e organizou escrita coletiva com membros da comunidade onde congrega.
Eliana Selmer é uma adventista do sétimo dia moradora de Castro, interior do Paraná. Embora lesse a Bíblia todos os dias, ela tinha dificuldade em memorizar o conteúdo. Isso a levou a procurar um método diferente para fazer o ano bíblico, a leitura diária do livro sagrado. “Apenas ler não estava sendo eficiente para mim. Na época, ouvi falar como as pessoas que transcreviam as escrituras no passado tinham tanto respeito por esse trabalho e pela Palavra de Deus que até trocavam de caneta para escrever o nome de Deus. Isso me chamou atenção e senti o desejo de começar escrever, fazendo da mesma forma”, lembra.
O ano era 2006. Hoje aposentada, Eliana ainda trabalhava como enfermeira. A rotina era escrever uma página da Bíblia por dia assim que acordasse, às 5 horas, antes de sair para o trabalho. O tempo de leitura e transcrição durava cerca de 45 minutos. Durante 4 anos e meio, ela escreveu quase 2.500 folhas de papel fichário, que foram divididas em quatro volumes na encadernação. Para preencher essas páginas, foram usadas 35 canetas. As cores das tintas eram preta, dourada (para o nome e palavras de Deus) e vermelha (palavras de Jesus). “Foram momentos tão maravilhosos que, mesmo quando estava de férias, eu levava meu fichário junto, e criei o hábito de não sair da cama enquanto eu não tivesse escrito”, recorda.
A Bíblia manuscrita de Eliana ficou pronta em 2011. Ao ser convidada pelo filho para falar aos jovens sobre essa experiência, 9 anos depois, ela decidiu dá-la de presente a ele. E então começou a segunda cópia, dessa vez com a intenção de presentear a filha. A única diferença para a primeira versão foram as palavras de Jesus em verde. O presente ficou pronto no final de 2024.
Assista à matéria em vídeo:

Inspiração para dezenas de pessoas
A iniciativa repercutiu na igreja onde Eliana congrega, a Adventista Central de Castro. Algumas mulheres seguiram o exemplo e decidiram fazer cópias particulares da escritura. A história chegou ao pastor Luiz Francisco Ferreira Junior, que havia chegado ao distrito há pouco tempo. Animado com a ideia, ele propôs à membresia uma escrita coletiva da Palavra de Deus. Mais de 140 voluntários assumiram o compromisso, cada um recebeu no mínimo um capítulo para transcrever, cerca de dez páginas. Todo o procedimento foi organizado, coordenado e revisado por Eliana.
A Bíblia manuscrita da Igreja Adventista do Sétimo Dia Central de Castro levou cinco meses para ficar pronta. Porém, algumas páginas ficaram em branco pela divisão dos capítulos. Para não deixar espaços “vazios” e dar um toque visual à cópia, o grupo que participou do projeto decidiu incluir ilustrações, mesclando a ideia da escrita coletiva com a arte de desenhar e pintar a Bíblia, comum entre alguns estudantes da Palavra.

Os desenhos relativos a cada tema próximo das páginas em branco são feitos por membros que têm habilidade com os lápis nas mãos. As artes são votadas pelos integrantes do grupo e uma dela é eleita para ser pintada em definitivo nas páginas da Bíblia. Essa fase do projeto está em andamento.
Segundo o pastor, a atividade levou os participantes a se aproximarem mais das escrituras sagradas. “Esse era o resultado esperado: trazer a Bíblia para mais perto das pessoas, como parte do cotidiano. Para não ser só um livro de meditação ou usado em momentos de culto, mas fazer parte da rotina deles de uma forma diferente”, relata o líder da igreja local.
A história de Eliana repercutiu na imprensa local. Assista à matéria produzida pela Rede Massa, afiliada do SBT no Paraná: