Pesquisa ouviu pessoas que saíram e voltaram à igreja
Avaliação teve quase 1.400 respostas a partir da percepção e da experiência com a Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Por que uma pessoa deixa de frequentar e retorna à igreja? Essa é uma das mais importantes perguntas feitas pelas organizações religiosas, especialmente as cristãs. A chamada apostasia ou abandono da fé é, de maneira mais ampla, uma preocupação global. Um levantamento do Pew Research Center em 36 países (março 2025) mostra que 50% dos adultos na Coreia do Sul, 36% nos Países Baixos, 28% nos EUA e 21% no Brasil já não se identificam com a religião em que foram criados. Na maioria desses casos, o grupo abandonado era o cristianismo.
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Fernando Beyer escreveu um livro no qual faz uma análise a respeito da decepção dos religiosos com a igreja. Ele pondera sobre as diferentes reações de quem alega motivos para sair. Em dado momento, em um tom otimista, o autor avalia que “a igreja, mesmo com suas imperfeições, é o lugar onde Deus deseja cumprir em nós o propósito para o qual ela foi trazida à existência”.[1]
O tema da saída da igreja foi abordado no relatório da Secretaria Executiva da sede sul-americana adventista. No domingo, 5, durante a Comissão Diretiva Plenária da Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, foram apresentados alguns dados relacionados a uma pesquisa com 1.387 respostas válidas de membros adventistas de oito países sul-americanos. Em comum, todos eles deixaram de frequentar a igreja e retornaram. O relatório procurou responder a uma outra inquietante pergunta: como podemos ser mais efetivos no processo de resgate de membros que deixaram a igreja?
O pastor Edward Heidinger, secretário-executivo da sede adventista para oito países sul-americanos, ressaltou que um dos diferenciais da pesquisa foi o fato de ouvir quem voltou à igreja. “O que se tinha até agora era geralmente uma percepção de quem saiu e não retornou; agora, no entanto, ouvimos acerca dos motivos que fizeram as pessoas voltarem a frequentar uma igreja adventista”, ressaltou. A apresentação do relatório foi compartilhada com o secretário associado pastor Evaldino Ramos e pelos secretários assistentes Rodrigo Romaneli e pastor Dieter Bruns.
Quanto ao perfil demográfico das pessoas ouvidas, 100% foram membros da igreja que saíram e retornaram, 16% deixaram a igreja mais que uma vez e 67% não nasceram em um lar adventista.
Fatores de influência para a saída da igreja
Entre os acontecimentos relacionados quanto à saída da igreja, a pesquisa categorizou o que foi respondido em três fatores. Para os que responderam à pesquisa e consideraram que o fator aconteceu e teve muita influência, 24,46% alegaram ter saído da igreja por causa de luta pessoal e espiritual interna (relacionamentos amorosos, pecados acariciados, cônjuge que não compartilha da mesma fé etc.). Outros 16,07% falaram em conflitos e experiências ruins na comunidade e 8,34% mencionaram questões conectadas a conflitos internos sobre doutrinas e seus desafios.
O que motivou o retorno?
Heidinger explicou que um ponto muito importante foi entender o que motivou as pessoas a voltarem a frequentar uma igreja adventista e, em média, 62,82% das respostas trataram de fatores internos como: desejo de recomeçar, necessidade de se reconectar com Deus, vazio espiritual e resposta a uma oração pessoal.
Já os fatores externos compreendem uma média de 24,68% das razões ligadas a aspectos como: lembrança de músicas e hinos da igreja, sermão assistido, insistência de pessoas próximas, entre outros fatores.
Papel da igreja local
As pessoas também foram perguntadas sobre o que a igreja local fez e que contribuiu muito para o seu retorno. Na opinião de 52,9%, foi o acolhimento pelos membros da igreja; 45,9% mencionaram o acolhimento por parte dos líderes da igreja; 38,7% falaram em momentos de confraternização promovidos e 37,6% lembraram de convites para programas especiais.
O que pode ser feito?
A pesquisa trouxe um diagnóstico e caminhos possíveis e necessários para as congregações locais. Na opinião dos adventistas que saíram e retornaram à igreja, os principais aspectos a melhorar, de parte da igreja local, são: esforços para reencontrar e resgatar membros afastados; atenção pastoral e continuidade com os membros; oportunidades de participação na igreja local e criação de espaços de socialização e integração, entre outros aspectos.
Udolcy Zukowski, líder sul-americano adventista do Ministério de Desbravadores e Aventureiros, disse que apurou entre a sua liderança que o envolvimento dos membros com atividades missionárias costuma ser um “antídoto” ao abandono da igreja. Ozeias Costa, secretário-executivo da sede adventista para o centro-oeste do Brasil, comentou que é preciso um olhar para os mais jovens, criando comunidades de apoio e revitalização espiritual. Já o secretário-executivo associado da sede mundial adventista, pastor Gerson Santos, parabenizou a iniciativa sul-americana de trabalhar intencionalmente pelo retorno de pessoas que se afastaram. “Esse é um trabalho que precisa crescer”, ressaltou.
Comissão Diretiva Plenária
A Comissão Diretiva Plenária, realizada no primeiro semestre e composta por delegados da Igreja Adventista do Sétimo Dia de oito países da América do Sul, aprova projetos que impactam diretamente os templos locais. Na edição deste ano, também se apresentam relatórios de diferentes áreas que contribuem com a missão da Igreja. A Comissão Diretiva deste ano é a última reunião desse tipo antes da Assembleia da Associação Geral, encontro mundial que reunirá representantes de mais de 200 países em julho de 2025, em St. Louis, nos Estados Unidos. Para conhecer a estrututura administrativa da denominação, clique aqui.
Referência:
[1] BEYER, Fernando. Decepcionados com a igreja: uma conversa sincera. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2023, p. 85.
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