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Suicídio: como identificar sinais de alerta e oferecer ajuda eficaz 

Atualmente, diversos fatores interferem na manutenção da saúde mental e emocional do ser humano, o que pode levar uma pessoa a pensar em suicídio.


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O apoio e acolhimento em momentos certos podem fazer a diferença. (Foto: Shutterstock)

Anteriormente, na primeira parte da entrevista com o médico psiquiatra Pablo Canalis, foi apresentada a estatística global de 800 mil suicídios por ano, além de esclarecer quais pontos desencadeiam uma maior propensão a pensamentos suicidas. Além disso, também foram destaque os cuidados simples, como alimentação e atividade física.  

Nesta segunda parte, o doutor Canalis volta a atenção para um outro aspecto: como identificar os sinais de alerta e oferecer ajuda necessária a quem está em risco. E, também, reconhecer quando uma pessoa enfrenta uma crise e como intervir de forma eficaz. 

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De acordo com ele, é preciso observar e saber abordar o tema com empatia e sensibilidade, além de entender quais as melhores práticas para apoiar aqueles que necessitam de um acolhimento eficaz. Veja os principais pontos abaixo: 

Quando se deve estar mais alerta com aqueles que estão passando por depressão ou têm pensamentos suicidas?  

As mudanças bruscas em uma pessoa devem chamar nossa atenção, especialmente quando ela começa a enviar mensagens estranhas, como se estivesse se despedindo, e se sabemos de tentativas anteriores. Sempre que houver uma tentativa suicida prévia, é preciso estar mais atentos com as mudanças de humor, de higiene ou de rotina. É importante evitar que essas pessoas fiquem muito tempo sozinhas ou em lugares onde possa haver maior risco de algo acontecer. Pessoas que pararam de tomar a medicação no tratamento da depressão ou que estão tomando de forma inadequada, mostrando seu desespero para acalmar o sofrimento, também precisam de nossos cuidados. Outro ponto de alerta é quando abandonam a terapia ou dizem, de um dia para o outro, que não precisam mais de terapia.  

Como tratar um parente próximo, com quem convivemos diariamente, que identificamos com tendências suicidas? 

Nunca o(a) deixe sozinho(a), acompanhe-o(a) sempre. Não há desculpas para trancar a porta do banheiro ou do quarto. Sempre respeite a privacidade, mas mantendo o controle do que a pessoa está fazendo. Muitas vezes, leva segundos para ela se machucar. Certa vez, um pai me contou que sua filha foi até a janela do apartamento para pular enquanto ele estava orando. Ele teve uma forte impressão para abrir os olhos e a viu na janela. Por isso, é preciso estar muito atento, mesmo quando tudo parece estar bem. Há relatos de aumento no número de suicídios após uma internação psiquiátrica, em que parecia que estava tudo bem e o paciente estava esperando apenas a alta para realizar o ato. É preciso saber ouvir e, na dúvida, perguntar: Você está pensando em se matar?  

É muito importante fazer essa pergunta. Alguns dirão que seria encorajador, mas estudos e experiências mostram o contrário. Quando conseguem conversar sobre isso com alguém que amam, eles se sentem muito mais aliviados. 

Estar sempre por perto pode ser o primeiro passo para ajudar. (Foto: Shutterstock)

Como podemos agir para ajudar as pessoas que expressam o desejo de atentar contra a própria vida? 

A primeira coisa é se mostrar disposto a ajudar, ouvir, cuidar. Depois é preciso levar a pessoa a um local para ser atendida e cuidada por profissionais de saúde mental. Mas, como sabemos, há muitos lugares em que não há ajuda especializada. Então, deve-se pelo menos levar a pessoa a um serviço médico de emergência, em que ela poderá ser controlada, contida, avaliada e encaminhada, se necessário. Muitas vezes acontece que só se consegue manter a pessoa internada por alguns dias, até que a impulsividade diminua e enquanto se busca atendimento especializado. Não é o ideal, mas muitas vezes as consultas podem ser de forma online, com acesso remoto a especialistas como psicólogos e psiquiatras. 

Se uma pessoa já tentou acabar com sua vida, quais ações devem ser tomadas para evitar uma nova tentativa? 

Uma tentativa anterior aumenta as chances de que volte a acontecer. Por isso é tão importante incentivar essa pessoa a fazer um bom tratamento. As consultas com especialistas são fundamentais. Não precisamos ter medo dos tratamentos farmacológicos. Vimos nas perguntas anteriores que muitas doenças são decorrentes do mau funcionamento neuroquímico do nosso cérebro. Os medicamentos são indicados para tratar essas alterações e evitar uma tragédia. De qualquer forma, se infelizmente, apesar de todos os esforços, a pessoa atingir seu objetivo, é preciso entender que foi feito todo o possível. Às vezes, a pessoa não quer receber mais ajuda, se cansa de lutar e não vê sentido em continuar tentando. Contra todo o amor e cuidado demonstrado, procura acabar com a vida. Mesmo assim, dar nosso melhor para cuidar e promover a vida é o mais importante. 

Como ajudar apoiar aqueles que estão próximos de uma pessoa com tendências suicidas ou que perdeu um familiar por suicídio? 

É muito importante que os familiares de alguém que tentou se suicidar ou se suicidou tenham acompanhamento psicológico e médico. O efeito “contágio” é muito frequente e forte. Por esse motivo, as empresas de notícias evitam contar a causa real da morte de uma celebridade que cometeu suicídio, pois foi observado um efeito de massa, com um aumento considerável de mortes por suicídio após a notícia se tornar conhecida. No trabalho terapêutico, é muito importante trabalhar com todos os parentes e até amigos da pessoa afetada. Também é fundamental que eles saibam que não podem deixar aquela pessoa sozinha, que conheçam as atitudes de risco, o cuidado com os elementos que podem ser usados para tirar a vida e a evolução do tratamento. 

Quando é necessário o acompanhamento psiquiátrico para uma pessoa? Qual é a diferença entre esse tratamento e o atendimento psicológico? 

Se a pessoa está com um quadro depressivo que está causando transtornos em suas atividades diárias, esse é o momento certo para começar um tratamento psicológico e médico. Se a pessoa está tendo pensamentos de morte ou suicídio, o tratamento médico é urgente. E, muitas vezes, a internação é necessária para proteger a pessoa e começar o tratamento.  

Os dois tratamentos são complementares. A psicologia atuará mais nos processos cognitivos dos pensamentos e comportamentos, bem como nas causas do pensamento suicida. E a intervenção médica regulará toda a parte neuroquímica do problema e a busca e tratamento das prováveis causas orgânicas. O trabalho em equipe é fundamental, mas o tratamento dos sonhos é trabalhar com mais profissionais, como preparadores físicos, nutricionistas, assistentes sociais, especialistas na área espiritual, entre outros. 

Existem medicamentos ou suplementos que podem ajudar a melhorar o humor das pessoas que sofrem de depressão ou que apresentam tendências suicidas? 

Existe uma família de antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor que podem ajudar muito no tratamento de doenças de base. Mas, como mencionei na resposta anterior, acredito que o melhor tratamento também inclui uma alimentação correta, evitar drogas ilícitas e bebidas alcoólicas, praticar atividade física, trabalhar os conflitos emocionais com uma boa terapia psicológica, procurar manter a mente ocupada com coisas saudáveis, em assuntos cheios de esperança, especialmente o fator espiritual como fonte poderosa de fortalecimento do sentido da existência e fonte de objetivo transcendente e eterno.  

Nossa vida sem Deus não tem sentido, e o que Ele deseja para nossa vida é a felicidade plena, eliminando para sempre o sofrimento e a morte. 

Conscientização com ação 

Setembro Amarelo destaca a importância do acolhimento na promoção da saúde mental. (Foto: Shutterstock)

Setembro Amarelo é uma campanha internacional, que acompanha o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio e destaca a importância do cuidado prévio e da promoção da saúde mental. Por isso, intensificar esforços para reduzir o estigma e apoiar aqueles que precisam de ajuda é primordial para a manutenção da vida. 

Sendo assim, ao primeiro sinal de necessidade, a pessoa deve buscar ajuda e há diversos meios para isso. Canais oficiais, como o Centro de Valorização da Vida (CVV) que tem atendimento 24 horas por dia, por meio do número 188.