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Clube formado por indígenas venceu desafios para chegar ao Campori

Durante Campori "O Segredo", desbravadores são incentivados a participarem de missões transculturais


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Clube de desbravadores indígenas Gigantes do Araguaia participou de seu primeiro campori (Foto: União Centro-Oeste Brasileira)

São 65.971 Clubes de Desbravadores no mundo segundo dados divulgados no site da sede sul-americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD). Esse ministério incentiva crianças e adolescentes a atender ao chamado de Deus para pregar o evangelho. Mas enquanto alguns pensam que a missão transcultural acontece apenas para quem decide sair do seu local de nascimento, o clube de desbravadores Gigantes do Araguaia prova que os desafios do “ide e pregai a todo povo, língua e tribo” podem estar mais perto do que se imagina.

O clube nasceu há dois anos, na aldeia Inam Carajá, localizada na cidade de Luciara (TO). Convertidos ao adventismo desde 1975, a comunidade manteve preservada sua cultura, língua e costumes, entendendo que o evangelho abrange o modo de vida que, em sua particularidade, mantém os princípios de dignidade, respeito e amor ao próximo. “Meu pai foi o primeiro indígena batizado na Aldeia Fontoura, há quase 50 anos. Depois que ele conheceu a Bíblia, compartilhou o que aprendeu conosco e toda a tribo decidiu ser batizada”, conta a indígena Xirkeru Kuadi. “Passamos os últimos anos levando esperança para outras tribos, juntamente com a ajuda dos Tori (homem branco), mas não sabíamos da possiblidade de um programa especialmente para nossas crianças e adolescentes”, relembra.

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No entanto, no coração de José Roberto dos Santos, o Clube de Desbravadores tinha um lugar especial. “Quando cheguei na cidade da Luciara, já havia um clube lá. Quando descobrimos a existência da tribo, fomos movidos pelo Espírito Santo a apresentar aos indígenas os Desbravadores, já que também fazem parte da nossa comunidade e não devem ser excluídos dessa atividade”, relata José. Com uma aproximação respeitosa, o líder e sua família se ofereceram para ajudar os indígenas a fundarem um clube, o que de prontidão foi aceito. “Percebemos o amor deles por nós e nossos filhos”, destaca Xirkeru Kuadi.

Episódio 3 Podcast – Desvendando o segredo:

Enfrentando barreiras transculturais: a língua

“Trabalhar com crianças só é desafiador se você não estiver disposto a brincar com elas”, afirma Santos. Ele conta que implementar algumas das principais atividades do clube não foi difícil. “Fazemos ordem unida, falamos os votos e aprendemos brincando. As crianças gostam muito”, declara. Entretanto, a dificuldade começou quando o assunto foi cumprir cartões.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2010, o Brasil registrou 274 línguas indígenas de 305 diferentes etnias. Para José, a indisponibilidade de material cristão em línguas nativas é uma das grandes barreiras para a compreensão total do evangelho. “Eles entendem a essência, mas muitos ainda não conseguem interpretar a nossa língua escrita, sabem o básico da falada, então é difícil ler os materiais e preencher os cadernos”, descreve. Para José, o nível desse desafio é o mesmo de ir para outro país. “Eles têm uma cultura muito rica e complexa, com um vocabulário extenso para representar o que querem dizer. Dessa forma, para nós também é um grande desafio aprender sua língua”, destaca.

Contudo, José acredita que com muito esforço e a ajuda do Espírito Santo, essas barreiras podem ser superadas. “O segredo é dedicação e fé, sempre pedindo orientação e força ao Espírito Santo para seguir em frente”, conclui.

Melhores momentos do dia:

Colhendo os frutos do quintal

O árduo trabalho de José durou dois anos dois anos e, com sua família e os líderes da aldeia Inam Carajá, está começando a trazer resultados. Atualmente, o Clube de Desbravadores Gigantes do Araguaia é composto por 22 indígenas e 3 homens brancos. “Ficamos muito felizes quando, recentemente, um desbravador nos procurou pedindo para ser batizado”, conta José. “Ele veio de outra tribo, fez amizade com os desbravadores, começou a participar das atividades e agora também frequenta a igreja da nossa aldeia”, complementa Xirkeru.

Luid Gomes tem treze anos, e, apesar de envergonhado para dar entrevistas, conta com firmeza a decisão que tomou ao lado de Jesus. “Meus amigos me chamaram para ser desbravador, gostei bastante do clube, do estudo da Bíblia, todos são muito felizes e por isso quero me juntar a eles”, declara. Uma informação relevante é que, segundo o estudo publicado pela Revista FAPESP1, a taxa de suicídio entre povos originários supera em quase três vezes a da população geral.

“Clube de Desbravadores significa multiplicação da igreja”, afirma José Roberto. Para ele, esse primeiro batismo que acontecerá logo após o retorno do campori “O segredo” representa a colheita dos frutos do evangelismo diretamente do quintal de casa. “Tivemos muitas dificuldades para vir ao campori. Pedimos doações para a inscrição, pegamos malas e sacolas emprestadas, e realmente foi um milagre chegar. Apesar disso, tudo valeu a pena, porque todos nós fomos investidos e o que ouvimos aqui foi inesquecível”, salienta Xirkeru Kuadi, conselheira investida do clube.

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Desbravador Luid Gomes se prepara para o batismo. (Foto: União Centro-Oeste Brasileira)

4º dia do campori “O Segredo”

O 4º Dia do Campori “O Segredo” foi marcado por muitos batismo e inspiração por meio de testemunhos. Um deles foi o do clube Guardiões de Israel, de Cuiabá (MT). O batismo do desbravador Kauan Lucas Zacarias de Oliveira foi fruto do trabalho André Luiz Marinho Rodrigues, conselheiro que faleceu recentemente acometido pelo câncer. Mesmo nos últimos dias de vida, André Luiz permaneceu nas atividades do clube de desbravadores, demonstrando a paz e esperança de quem acredita na salvação e na graça.

Neste mesmo dia, um mega batismo levou às águas centenas de desbravadores que descobriram que o segredo para uma vida plena é aceitar os conselhos do Espírito Santo. Outro ponto marcante foi o testemunho de missionários vindos da Índia, que fazem parte do projeto de missão transcultural apoiado pela Igreja Adventista no centro-oeste brasileiro. A União Centro-Oeste Brasileira (UCOB), sede administrativa para o Distrito Federal, Goiás, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, está apoiando alguns projetos da União Indiana do Norte como a reforma de uma escola e de uma igreja, a reestruturação de um centro de influência, entre outros. “Esse tipo de parceria favorece o avanço da pregação do evangelho de forma bilateral já que ambas as Uniões são motivadas e inspiradas”, afirma Aline Piologro, líder do Instituto de Missões UCOB.

Os participantes também conferiram de perto o reconhecimento do desbravador Adrian, que, por meio de técnicas de primeiros socorros aprendidos no clube, pôde salvar um colega da escola que estava engasgado. Confira a história, a seguir.


Referências:

  1. Clique aqui para acessar pesquisa "Taxa de suicídio entre indígenas supera em quase três vezes a da população geral. ↩︎