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Desastre causado pelas chuvas no Rio de Janeiro mobiliza apoio da comunidade

Igreja e agência humanitária se unem para enfrentar os danos e oferecer assistência aos afetados


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Atendimento da ADRA em Bom Jesus do Itabapoana (Foto: Leonardo Leite)

As famosas águas de março, que já foram cantadas em poesia, aterrorizaram grande parte do Estado do Rio de Janeiro. Os mais de 300 milímetros de chuva caídos no norte e noroeste fluminense nos últimos dias de março, atingiram cerca de 20 mil pessoas no município de Bom Jesus do Itabapoana. Esse número reflete cerca de 60% da população local.

Conforme relatos dos moradores mais antigos, esse foi o pior evento climático registrado nos últimos 30 anos na cidade. As chuvas começaram de forma moderada às 21 horas de sexta-feira (22), mas a situação se agravou a partir das 22 horas, quando o volume de água do Rio Itabapoana começou a subir. As ruas ficaram alagadas e os moradores tentaram salvar o que podiam, além das próprias vidas.

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O município foi tomado pelas águas da chuva com a cheia do rio (Foto: Ricardo Alves)

Antônio José da Silva e a esposa Nanci Nunes tëm um comércio na cidade. A força das águas causou um grande prejuízo na loja. Resilientes, decidiram não olhar o próprio sofrimento. Deram prioridade a ajudar quem precisava mais.

Antônio contou um pouco do que aconteceu naquela noite. “Fomos dormir e caía uma chuvinha leve, mas um tempo depois meu vizinho gritou por ajuda, porque a água da chuva já estava entrando no carro. Levantei e fui tentar ajudar levando o carro mais para frente, mas não conseguimos. Então fomos ajudar outras pessoas que estavam precisando, tentando salvar vidas mesmo. Na nossa casa a água subiu cerca de um metro e vinte. Na casa do vizinho, a água chegou no teto”, descreveu.

Nanci contou que nunca havia visto nada parecido. “Moro nesse mesmo lugar há 30 anos e nunca vimos água ali desse jeito. Na hora que vimos os vizinhos pedindo ajuda, a sensação que tivemos foi de impotência diante da força da natureza, mas fomos ajudar”, contou.

Somente foi possível compreender o que aconteceu na cidade durante a manhã do sábado (23), com as ruas tomadas de águas, bairros inacessíveis, sem luz, água potável e muitos desabrigados. A situação moveu as autoridades, mas também despertou a ajuda entre as próprias vítimas, bem como da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD).

Carro foi arrastado durante temporal (Foto: Ricardo Alves)

A primeira ação dos adventistas, através da Associação Rio Fluminense (administração regional da instituição no centro-norte do Rio de Janeiro), aconteceu imediatamente ao tomar conhecimento da situação. Ainda no sábado foi dado um alerta de socorro pela IASD através da campanha “Ore por Bom Jesus do Itabapoana” e pela captação de recursos e doações via PIX.

Campanha Ore por Bom Jesus (Imagem: Associação Rio Fluminense)

Ajuda humanitária

Durante toda a semana a Igreja esteve auxiliando o município e, sensibilizada com a situação, avaliou os danos e acionou os serviços da Agência de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais no Rio de Janeiro.

Em resposta, no sábado seguinte a ADRA esteve na cidade atendendo as famílias mais afetadas com a entrega de um cartão benefício. O diretor da ADRA núcleo Rio de Janeiro, Kerlisson Magalhães, explicou que o objetivo ao atender essa comunidade é diminuir um pouco a dor dessas famílias que foram atingidas pelas fortes chuvas. A entrega do cartão incentiva a economia local, já bastante prejudicada. “A ADRA está atendendo a população com um cartão com o qual os auxiliados podem comprar o que mais precisam em um supermercado, seja alimentação ou produtos de limpeza”, esclareceu Magalhães.

O diretor da ADRA núcleo Rio de Janeiro, Kerlisson Magalhães esteve em Bom Jesus para auxiliar a comunidade (Foto: Leonardo Leite)

Simone de Oliveira é presidente da Associação de Moradores de Asa Branca, em Bom Jesus do Itabapoana, e ficou muito satisfeita em receber a ADRA em seu bairro. “Essa ação aqui é uma maneira de expressar amor e suporte a todos, não apenas do nosso bairro. É um conforto ter o apoio do pessoal da Igreja Adventista”, falou agradecida.

Centro da cidade de Bom Jesus de Itabapoana embaixo d'água (Foto: Ricardo Alves)

Simone relembrou ainda o drama que viveu no dia da enchente. “Saímos de casa para socorrer os moradores da parte mais baixa. Levamos cerca de 30 pessoas para a minha casa, onde colocamos colchões e cobertas na minha sala. Quando todos entramos em casa, vizinhos com filhos e até os animais de estimação, olhamos para trás e vimos um mar de água chegando até nós. Tentamos levantar tudo para o piso superior. Porém, da minha casa tudo se perdeu. Foi algo assustador. Ainda hoje, fecho os meus olhos e vejo o desespero e ouço os gritos das crianças”, relatou emocionada.

Cachoeiras de Macacu

As chuvas elevaram os níveis dos rios Macacu e Guapiaçu, que subiram rapidamente, causando danos no município de Cachoeiras de Macacu. O transbordamento dos rios levou a água a invadir ruas e casas, dificultando a locomoção e causando transtornos para os moradores. Mesmo com os avisos prévios vindos da Defesa Civil, o que foi presenciado no município surpreendeu a população.

Rio Macacu, que corta a cidade, transbordou (Foto: Divulgação)

A Igreja Adventista do Sétimo Dia também se posicionou diante da difícil situação na localidade. Juliana Keffler, líder de jovens da Igreja Adventista Central de Cachoeiras de Macacu, relatou detalhes do que aconteceu na cidade.

“Na noite de sexta-feira (22), véspera do Impacto Esperança, soubemos da enchente e ficamos muito apreensivos porque as nossas igrejas têm rios por perto e os membros também moram perto de rios. Nós ficamos monitorando e orando, tanto pelas pessoas que já estavam sofrendo com a enchente, quanto para que Deus protegesse o resto do município e as nossas igrejas aqui também”, contou.

Força-tarefa

Adventistas de Cachoeiras de Macacu realizaram uma força-tarefa para arrecadação de itens necessários aos atingidos (Foto: Juliana Keffler)

Juliana ainda disse que apenas no sábado tomou conhecimento da proporção do desastre e como a igreja se mostrou relevante na resposta à emergência. “Sábado pela manhã, primeiro, nós agradecemos a Deus porque nada tinha acontecido aqui com a nossa igreja e nossos irmãos. Procuramos saber dos outros irmãos do distrito, felizmente, e graças a Deus, nada aconteceu a nenhum irmão nosso, nem a nenhuma igreja. Mas nós ficamos sabendo que o município tinha sido muito atingido e começamos a pensar o que nós poderíamos fazer para ajudar. Foi então que a igreja abriu as portas para receber doações.”

Voluntariamente, Juliana foi até a Secretaria de Assistência Social e colocou a igreja a disposição do órgão. Tudo o que a entidade precisava, comunicava a igreja e esta, por sua vez, fazia o possível para conseguir. “No sábado mesmo nós conseguimos levar uma grande quantidade de água potável, quase 300 litros. E o recurso chegou lá na Secretaria de Assistência Social justamente quando a água mineral que eles tinham havia acabado. Inclusive, quando a gente chegou com a água, a assistente social que estava em contato com a gente levou as mãos aos céus e agradeceu a Deus porque lá não tinha mais água mineral.”

No domingo, voluntários adventistas se reuniram numa força-tarefa e comprou colchões, roupas de cama, travesseiro, itens de higiene pessoal, itens de limpeza para casa e conseguiram distribuir mais de 120 kits, além das outras doações que foram sendo levadas durante a semana.

Adventistas se mobilizaram para arrecadar itens de primeira necessidade (Foto: Juliana Keffler)

Para Juliana, se colocar à disposição em ajudar foi gratificante e a melhor forma de mostrar o cristianismo. “Foi um privilégio, uma honra. Primeiro, por levar o nome de Deus, colocar o nome de Deus à frente, colocar o nome da nossa igreja em exposição no nosso município e poder participar, mesmo que um momento doloroso, mas poder ajudar de alguma forma o nosso município, mostrar que nós estamos aqui para ajudar, para fazer a diferença realmente”, relatou.