A primeira escola
A educação financeira precisa começar na infância, em casa
Vivemos tempos difíceis, em que os índices de famílias endividadas são assustadores. Em grande parte delas, esta situação econômica revela problemas na gestão financeira. E o pior: considerando o fato de que o lar é a primeira escola, e os pais, os primeiros professores, quando as crianças estão rodeadas de adultos endividados e sem controle financeiro, tendem a replicar esse comportamento.
Felizmente, dispomos de muitas instruções valiosas que nos ajudam a prover para os nossos filhos um bom modelo, para que desenvolvam hábitos financeiros saudáveis. A própria Bíblia e os escritos de Ellen White nos mostram como Deus deseja que lidemos com o nosso dinheiro. Quero compartilhar algumas dessas orientações com você.
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Começar cedo
“Ainda em tenra idade, as crianças devem ser ensinadas a ler, a escrever, a compreender os números, a fazerem suas próprias contas” (Orientação da Criança, p. 136).
Ainda pequenas as crianças começam a brincar com moedas; esta é uma boa oportunidade para conversar com elas sobre o dinheiro e apresentar-lhes os vários tipos (moedas, cédulas, cheques, cartão de crédito e débito, etc.). Aproveite para mostrar-lhes a quantia necessária para comprar alguns brinquedos ou artigos de supermercado, por exemplo.
Dar uma mesada
“Que se ensine cada jovem e criança não simplesmente a resolver problemas imaginários, mas fazer com precisão as contas de seus próprios ganhos e gastos. Que aprendam o devido uso do dinheiro, usando-o” (Conselhos sobre Mordomia, p. 294).
A mesada é uma forma eficiente de introduzir as crianças no mundo das finanças; e aqui, o mais importante não é quanto dinheiro dar a elas, mas ensiná-las a administrar o que recebem.
Ensinar sobre trabalho e renda
“O dinheiro que vem ter às mãos dos jovens com apenas pouco esforço de sua parte não será devidamente avaliado” (O Lar Adventista, p. 387).
Nada mais eficiente para ensinar às crianças sobre o valor do dinheiro do que incentivando-as a ganhar o seu próprio. Primeiro, explique sobre o seu trabalho e o que você faz para receber um salário. Depois, ensine-as a lavar o carro, dar banho no cachorro, cortar a grama ou mesmo a vender algum produto entre seus amigos para ganhar dinheiro. Deixe, também, que elas participem da elaboração do orçamento familiar para que entendam para onde vai o dinheiro da família.
Mostrar a importância de poupar
“(...) em cada lar deveria haver um cofre de abnegação, e que, nesse cofre, deviam as crianças ser ensinadas a colocar as moedas que de outro modo gastariam em doces e outras coisas desnecessárias” (Orientação da Criança, p. 132).
O bom e velho cofrinho é a melhor maneira de ensinar aos filhos a importância de poupar. Ajude-os, também, a estabelecer uma meta para usar o dinheiro guardado; a princípio, pensem num objetivo de curto prazo (como a compra de um brinquedo, por exemplo), para que não desanimem e percam o interesse.
Depois do cofrinho, o próximo passo é ensiná-los a administrar uma conta bancária e mesmo a investir. Jogos que ensinam sobre finanças (como Monopoly, Jogo da Vida e Banco Imobiliário) são excelentes para dar lições sobre educação financeira, investimentos e economias.
Desenvolver o hábito de registrar gastos
“Sejam as crianças ensinadas a registrar as contas. Isso as habilitará a serem exatas” (Orientação da Criança, p. 136).
Dê aos seus filhos uma caderneta destinada à anotação de todos os seus ganhos e gastos. Ensine-os a descrever as entradas e saídas, registrando quantias e datas. Assim, eles saberão de quanto dispõem para cumprir suas metas. Hoje em dia, também há aplicativos com esta função.
Ensinar a diferença entre desejo e necessidade
“Devem os pais, pelo seu exemplo, incentivar a formação de atos de simplicidade e afastar os filhos de uma vida artificial para uma vida natural” (Orientação da Criança, p. 139).
O mundo moderno tem forte impacto sobre o desejo das crianças; a cada dia se lançam novos produtos que atraem a sua atenção. Estimule-as a questionarem se realmente precisam daquilo que querem. Estudos demonstram que mesmo crianças ainda pequenas são capazes de controlar e inibir seus impulsos.
Ser gentil com os erros
“Os filhos que dependem de seus próprios recursos geralmente prezam sua capacidade, aproveitam seus privilégios e cultivam e dirigem suas faculdades no sentido de alcançar um propósito na vida” (Conselhos sobre Mordomia, p. 332).
E se, mesmo depois de serem devidamente ensinados, seus filhos quiserem gastar suas economias em algo que não está de acordo com os objetivos? Respeite essa escolha. Pode ser difícil vê-los usar o dinheiro de maneira que você acha que não é a melhor, mas é importante deixá-los tomarem suas próprias decisões. Muitas vezes, aprenderão com seus erros.
Mostrar a autoridade de Deus
“Ensinai a vossos filhos que Deus tem reivindicações sobre todas as suas posses e que nada jamais as poderá cancelar. Tudo que têm lhes pertence apenas em confiança; para provar se serão obedientes” (Orientação da Criança, p. 136).
Aqui entram as lições sobre dízimos e ofertas; os conceitos, razões e destinos de cada um devem ser minuciosamente explicados. Ensine, também, com seu exemplo, vivendo a fidelidade em todos os âmbitos.
Sabemos que a tarefa da educação financeira é desafiadora. Mas, se Deus nos convida a ela, Ele nos capacita. Faça do seu lar uma escola de excelência.
Solange Aduviri é pedagoga, especializada em Psicopedagogia. Coordenadora da Área Feminina da Asscoação Ministerial (AFAM) e do Ministério da Mulher na Igreja Adventista do Sétimo Dia na Argentina.
Artigo publicado originalmente na edição do 1º Trimestre de 2021 da Revista Afam.