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Saúde

Qual a relação entre educação e saúde sexual?

Como o conhecimento pode reduzir ou até mesmo eliminar problemas da área sexual e também prevenir a violência


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saúde sexual
A prevenção está no conhecimento. A maior parte das doenças podem ser evitadas com a educação sexual (Foto: Shutterstock)

Saúde e educação sexual são dois temas diretamente conectados. E engana-se quem pensa que isso é só sobre o intercurso ou a área do prazer. É sobre bem-estar e segurança. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sobre saúde sexual e saúde reprodutiva definem-se os direitos reprodutivos, como o direito de tomar decisões sobre a reprodução livre de discriminação, coerção e violência. Recomenda-se que os serviços de saúde reprodutiva (incluindo saúde sexual e planejamento familiar) sejam vinculados à atenção básica de saúde. 

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Para compreender mais sobre esse assunto, a Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou com a mestre em Sexologia e doutora em Saúde Coletiva Patrícia Schettert para entender um pouco mais sobre o que engloba esses conceitos e cuidados. 

O que é saúde sexual? 

Primeiro precisamos entender o que é sexualidade. Normalmente, as pessoas tendem a reduzir um pouco o conceito de sexualidade, entendendo que está relacionada única e exclusivamente ao ato, ao intercurso sexual ou às práticas sexuais.  

Mas a sexualidade é muito mais ampla. Ela diz respeito à sua identidade, seja feminino ou masculino, homem ou mulher. Diz respeito aos seus desejos, ao que você gosta com relação àquestão do sexo e como você se percebe nesse mundo.  

Isso acontece desde o nosso nascimento até nossa morte, não exclusivamente a partir de um período reprodutivo. A saúde sexual, da mesma forma, também tem um uma atuação muito ampla além dos órgãos genitais, além do aspecto físico.  

Ela segue o mesmo conceito de saúde, que é o bem-estar físico, social e mental e, pra nós, também espiritual. Porque na sexualidade, pra nós, como cristãos, existe uma íntima relação do ser a imagem e semelhança de Deus como criatura.  

Tudo que possa trazer um desconforto, não só o desconforto físico, mas psíquico e social, interfere nessa saúde do corpo como um todo. 

Quais são os primeiros sinais de que existem problemas relacionados à saúde sexual? 

Os problemas sexuais podem se apresentar desde criança, não só na fase adulta. Por isso, é importante a educação sexual a partirde uma perspectiva cristã. E isso vai minimizar os problemas, porque a informação diminui os riscos de um adoecimento. 

É importante que a criança tenha essa informação desde pequena, porque, geralmente, quando se chega na fase adulta, grande parte dos problemas que se apresentam são por falta de conhecimento. 

Uma questão que tem se apresentado muito é a violência sexual, que requer uma intervenção multidisciplinar. Outro problema comum tem a ver com as disfunções sexuais, tanto feminina quanto masculina. Por incrível que pareça, o assunto também está intimamente ligado à educação sexual. Quando as pessoas não recebem essa instrução, podem se deparar com situações que poderiam ser resolvidas com o conhecimento. 

Os problemas mais presentes são a disfunção erétil, principalmente no caso do homem. Na mulher, o mais comum é a norgasmia, vaginismo e a dor no ato sexual. Além das disfunções, nós encontramos também as infecções, que são muito presentes. 

Existe uma secreção fisiológica e, às vezes, a mulher se assusta pensando ser uma infecção. Mas também existem os problemas. E tem muito a ver com a questão de hábitos de higiene íntima, roupas inadequadas, produtos químicos inadequados, e assim por diante. 

Em geral, mulheres costumam buscar consultas preventivas com mais frequência. No entanto, podem ignorar sinais importantes do corpo. Para além da saúde física, em que uma saúde sexual deficiente pode impactar na vida dessa mulher? 

Vamos pensar na questão da dor. A dor pode ser psíquica, como no caso do vaginismo. Existe uma contração desse canal vaginal e aí se torna quase impossível uma penetração. Então, sem dúvida, essa questão vai interferir no relacionamento e na vida como um todo.  

Lembrando que a questão da saúde sexual não está à parte da saúde física. Um interfere no outro. Então, se você não está bem na questão física e psíquica, vai interferir na sua saúde sexual e vice-versa. 

Essa mulher que sente dor no ato sexual, que tem corrimento com secreções, que lida com a questão do odor. Isso incomoda profundamente. A mulher que não consegue chegar no orgasmo, por exemplo, pode ser por uma dificuldade de entrega, pode estar relacionada a conceitos culturais e religiosos, a forma como ela percebe a sexualidade ou o intercurso sexual como algo pecaminoso. Isso vai interferir no relacionamento marital, mas também vai interferir na saúde como um todo. Porque isso pode gerar depressões, ansiedade no alto nível, a ponto de não conseguir produzir profissionalmente ou ter relacionamentos mais profundos. 

Por que homens, na maior parte das vezes, são mais resistentes para buscar atendimento médico, especialmente quando se trata da saúde sexual? 

A sociedade masculina se cobra muito. A virilidade, não só sexual, mas a virilidade como homem no aspecto social, é uma coisa que é cobrada. É uma competição masculina. E isso começa desde pequeno. A possibilidade de ter algum problema que possa interferir nessa virilidade, no ato de ser homem, faz com que ele tenha uma negação. 

Isso começa pelo diálogo. Quando a esposa começa a questionar alguns problemas, ele foge, vira as costas. É preciso ter muito tato para que esse homem não se sinta ameaçado. 

Da mesma forma que traz uma frustração para a mulher, gera também esse mal-estar no homem. E isso interfere na sua capacidade produtiva, social. O homem que se sente bem, que está feliz na sua sexualidade, é muito mais produtivo. 

A Organização Mundial da Saúde coloca que a saúde sexual é qualidade de vida. Existe em nosso cérebro o centro do prazer. E para que ele possa representar a sexualidade como algo ligado à qualidade de vida, é importante que ele possa ser ativado completamente. A partir de então, ele ativa todas as áreas da nossa mente. Você vai ver as coisas de uma forma diferente, encontrar prazer nas coisas mais simples. 

Quando ele não é ativado 100%, ele adoece. E isso pode reduzir até 15 anos de vida do indivíduo. Isso é muito tempo! E como ativar 100%? Os relacionamentos mais profundos e seguros, com o verdadeiro amor que vai além do prazer, com uma satisfação sexual, são os que fazem ativar completamente. 

Aqueles relacionamentos em que não há uma intimidade verdadeira, uma interação, como o caso da masturbação, faz com que o indivíduo não tenha uma satisfação plena. Existe o prazer, mas não a satisfação. Isso pode levar a uma compulsão relacionada à sexualidade. 

Saúde sexual também envolve saúde reprodutiva e planejamento familiar. Como ter mais conhecimento desse assunto beneficia as famílias? 

Eu sou adepta do planejamento para resolver e antecipar uma série de problemas. Uma das ordens mencionadas em Gênesis, ainda no Jardim do Éden é “crescer e multiplicar” (Gênesis 9:7).   

A procriação não é um fim para a atividade sexual. A atividade sexual antecipa a procriação. Então, quando tornaram-se uma só carne, veio a ordem de interação muito mais profunda, não necessariamente para ter o filho. Tanto que durante o ciclo da mulher há um período de três, quatro dias, em que ela pode ser fértil. E ela tem os demais dias no ciclo de 28, sobrando 24 dias pra ter um relacionamento sexual sem ter o risco de ter um bebê.  

É muito maior a possibilidade que Deus nos deu de uma interação, de um prazer sexual, do que o intercurso com fim procriativo. Por isso, o planejamento deve acontecer na vida de um casal porque ter filho não é um acidente e nem uma ordem obrigatória.  

É importante que esse casal sente, converse, e planeje se quer ou não ter filhos. A mulher não deixa de ser mulher pelo fato de não querer ter filho. Existe muito esse preconceito em nossa sociedade. Porque se é uma mulher que não tem, é uma mulher frustrada, ela tem algum problema. Não.  

Às vezes ela é extremamente racional a ponto de perceber que para a vida dela, não tem condições. Ela gostaria de poder proporcionar muito mais, mas ela não tem aptidão pra isso, ela não se vê como mãe. É melhor não ter filho.  

E existem aqueles casais que querem ter filho mais à frente, não imediatamente após um casamento. Ou querem planejar quantos filhos querem ter. O planejamento é uma interação dos dois, não só o homem que define, como também não é só mulher. Pelo fato dela abrigar o bebê, é importante que a opinião dela possa ser mais considerada, mas isso não isenta a opinião do homem.  

Quais seria, então, os profissionais de saúde indicados para cuidar da saúde sexual? 

No passado, essa questão estava muito relacionada somente ao médico. Mas a gente percebe que hoje, pela formação muito mais avançada de várias outras profissões, eles conseguem interagir de uma forma muito eficiente e eficaz. E quais são esses profissionais? Vai depender do problema. 

A princípio, seria muito interessante que a mulher pudesse buscar um ginecologista e, a partir do ginecologista, tivesse orientação dos demais profissionais. Se é da ordem emocional, um psicólogo. Se é da ordem sexual, sexólogo. A profissão de sexólogo é multidisciplinar. Existem também a fisioterapia pélvica, que cuida dos músculos da região sexual. 


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