A igreja do futuro é uma igreja de amigos
Concílio administrativo da Igreja para Bahia e Sergipe confirma o discipulado por meio da rede de pequenos grupos como o alicerce para a multiplicação da fé
Dono de uma barbearia em Coroa Vermelha, enseada próxima a Porto Seguro, no extremo sul baiano, Mackson costuma priorizar o relacionamento com seus clientes. Um deles é Igor Araújo Pereira, um dos frequentadores da barbearia que se tornou seu amigo. Foi assim que Mackson começou a falar de Jesus para Igor e lhe convidou para visitar o pequeno grupo que frequentava.
Igor visitou o PG e aceitou estudar a Bíblia. Passou a ser atuante em todas as ações realizadas por aquela comunidade de amigos. Um dia, quando o pastor local fez um apelo para o batismo, Igor não teve dúvidas: “eu quero me batizar o quanto antes”.
Na quarta-feira, 23 de agosto, em Porto Seguro, no encerramento do Concílio de Administradores e Líderes de Departamentos (Ministérios) da União Leste Brasileira, sede da Igreja Adventista do Sétimo Dia para Bahia e Sergipe, Igor foi batizado.
O pequeno grupo estava presente para comemorar com ele esse momento da vida. Sempre juntos, sempre perto, sempre relacionais. “Da barbearia para a amizade, da amizade para o estudo e o PG, do PG para igreja e da igreja para o céu”, disse Mackson, traçando o caminho dessa história.
Que é uma história de discipulado. A expressão marca um novo momento da vida religiosa e pessoal de adventistas baianos e sergipanos. Realizado de 20 a 23 de agosto, o concílio, evento anual que busca debater a agenda da Igreja para o ano seguinte e motivar líderes para os desafios, teve como tema “O Caminho do Discipulado”.
E apontou: o futuro da Igreja Adventista do Sétimo Dia na Bahia e em Sergipe passa pela formação e multiplicação de discípulos, através de uma rede de pequenos grupos, consagrada o suficiente para transformar vidas nos templos, nas ruas e nas casas.
Sobre isso, a história de Mackson e Igor deixa bem claro: trata-se de um desafio que se alcança por meio da amizade. Há salvação em um abraço. E há evangelismo que prioriza nomes a números, quando esse abraço se multiplica para outros braços, tantos, que encontram acolhimento e propósito nessa corrente de amizade e cuidado.
Histórias de amizade e multiplicação de discípulos
As histórias se multiplicaram durante o evento, provando que a Igreja do futuro é uma igreja de amigos, focados no propósito de seguir a Jesus e ajudar amigos a também segui-Lo.
Prefeito de Santa Cruz do Capibaribe, cidade do agreste pernambucano com mais de 100 mil habitantes, Fábio Aragão contou como o pequeno grupo que se reúne em sua casa traz bem-estar mental e espiritual que ele considera indispensável. “Tenho uma agenda absurda como gestor público, mas todo mundo na cidade já sabe: na sexta-feira à noite eu estou entre amigos, no pequeno grupo, porque esse é um momento quase terapêutico para mim e para eles”, disse.
Outra história: o médico gastroenterologista e fotógrafo Valdeci Ribeiro é um executivo da área de saúde que mora no Jockey, bairro verticalizado de Teresina, capital do Piauí. Nessa comunidade de 6 mil moradores, se concentra o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e a maior renda per capta do Estado.
Até 2020, não havia igreja adventista no local. Tudo mudou quando Valdeci abriu um pequeno grupo em sua casa e passou a receber amigos e colaboradores de sua empresa. O grupo cresceu, animado pela informalidade e pela relevância dos encontros. Com essa corrente de amigos, a Igreja Adventista conseguiu plantar um templo no bairro. Valdeci foi enfático: “Ser líder é gostar de gente. E na minha visão, como médico, digo que o PG, um lugar ideal para reunir amigos e desenvolver esse sentimento, está no DNA do Cristianismo”.
Discipulado na prática
Inspirados por tantas histórias, os participantes do concílio tomaram decisões práticas para tornar o caminho do discipulado simples e viável. A primeira delas: consolidar a visão de que é preciso impulsionar a igreja para ser atuante além da programação que movimenta sua estrutura. É preciso inspirar uma igreja relevante nos templos, nas ruas e nas casas.
Para isso, quatro marcadores vão nortear as ações dos pequenos grupos na Bahia e em Sergipe: O estudo da lição da Escola Sabatina, um meio de motivar os membros a estudar a Bíblia; a formação de líderes de pequenos grupos, algo que começou há três meses, quando começaram as reuniões de formação conhecidas como “PGs Protótipos”; os estudos bíblicos, que vão ajudar os amigos dos pequenos grupos a entender a Bíblia para seguir a Jesus e encontrar nEle esperança, liberdade e cura; e a busca por novos discípulos, culminando com a ação evangelizadora de levar os amigos a entregar a vida a Jesus e tomar a decisão de ser discipuladores. Esses marcadores formam os alicerces de uma igreja relevante e vibrante, presente em todos os âmbitos da vida.
Para favorecer essa realidade, algumas iniciativas movimentaram as reuniões do concílio. Uma delas foi contar com a presença de pastores distritais, líderes que participaram do evento em formato híbrido. Pela primeira vez, um grupo de quase 60 pastores acompanhou o concílio de forma virtual. Eles participaram dos encontros de formação de líderes de PGs e movimentaram retiros espirituais para consolidar essas lideranças.
Com a ajuda dos pastores das localidades baianas e sergipanas, houve debates para simplificar a igreja, buscando viabilizar o caminho do discipulado. Uma parte crucial do evento foi o debate em torno da adequação do calendário de atividades das igrejas, coordenado pelo pastor Moisés Silva, presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia para Bahia e Sergipe. O plano é ajustar o calendário ao planejamento em torno das necessidades dos pequenos grupos e igrejas locais, e não o contrário.
Com base nos quatro marcadores da rede de pequenos grupos, conhecida como PG My Life, os participantes definiram as perguntas que vão orientar o gerenciamento de indicadores de crescimento e multiplicação da rede. Como parte das ações evangelizadoras, a Igreja planeja a realização de missões curtas: são ações solidárias de curta duração em lugares da Bahia e de Sergipe. Líderes do Serviço Voluntário Adventista apresentaram lugares e planos para esta ação, que será dominante em 2024. Departamentos e ministérios ajustaram sua dinâmica para uma convergência favorável ao crescimento e multiplicação de líderes de pequenos grupos. Houve até a apresentação de uma ação orientada para o bem-estar emocional dos pastores, chamada de “Pastor 7x7”, reforçando que é preciso cuidar de quem cuida do discipulado.
São adequações necessárias para uma igreja que decide orbitar em torno das pessoas e suas necessidades. O primeiro passo para essa igreja acontecer é olhar para as pessoas e ter por elas o sentimento que Jesus tem: compaixão, afeto, generosidade e desejo sincero de apresentar Cristo como o grande amigo, algo possível quando membros da Igreja espelham esse modelo no estilo pessoal de relacionamento humano e genuíno.
Fazer discípulos é fazer amigos
E para ilustrar isso, mais histórias se destacaram. Evangelista celebrada há mais de 20 anos, Nilda Aquino, moradora de Martins, RN, descobriu no discipulado uma nova vida. “Antes havia Nilda, a estrela, a grande evangelista que fazia as coisas acontecerem. Agora existe Nilda, a formadora de discípulos, que vibra ao ensinar as pessoas a falar de Jesus nos templos, nas ruas e nas casas, através dos pequenos grupos, e se realiza ao vê-las felizes em seus relacionamentos”, afirmou, ao fazer a última mensagem devocional do concílio.
O mercado corporativo dá a pessoas como Nilda, Fábio, Mackson e Valdeci o nome de mentores, porque são capazes de ensinar e passar adiante o conhecimento e a experiência. Mas Jesus ensinou que, para a igreja, pessoas assim são formadoras de discípulos. A essência da missão é a sua simplicidade: fazer discípulos é fazer amigos.
Em uma era em que liderança se confunde com gerenciamento de equipes, essa influência prevalece e consolida uma fé saudável, como observou o pastor Charles Fabian, professor do Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia e um dos oradores do concílio. Ao comentar o texto da Carta de Paulo aos Gálatas (5:6), ele afirmou: “Ser sadio na fé é ter uma fé que atue pelo amor, não pela tradição, ou função, ou conhecimento, mas pelo amor. O que edifica sua fé é individual, mas não é particular. Se você quer uma fé sadia, ela precisa ser comunitária e ser compartilhada”.
Para uma igreja de amigos, viver essa sanidade e essa experiência é uma maneira de provar o Reino de Deus na Terra.