A era da “autenticidade"
Como o comportamento atual considerado próprio de autenticidade pode conflitar com a visão bíblica acerca de vários aspectos da vida.
Vivemos em um período da história no qual a nota tônica é “seja você mesmo”. Essa frase parece ser inocente, mas esconde uma montanha de conceitos. A tendência da modernidade de que cada pessoa seja “autêntica” é uma amostra do narcisismo e individualismo que inunda a cabeça das pessoas e têm levado muitos prejuízos para a sociedade, igreja, família e para os próprios indivíduos.
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A modernidade carrega consigo três mal-estares da sociedade[1]. O primeiro é o enfraquecimento dos horizontes morais. É nítido que a cada dia os pilares morais da sociedade estão se esvaindo em um mar de relativismos. Instituições como o casamento, a família, a escola e a igreja estão sofrendo ataques aos seus princípios morais vindos de todos os lados. Condutas que até pouco tempo eram consideradas erradas agora são defendidas abertamente e, até, incentivadas.
O segundo mal-estar da modernidade é o “eclipse dos propósitos diante da disseminação da razão instrumental”[2]. Em outras palavras, a racionalização da moralidade e da ética fez com que os propósitos das ações e reações se tornassem menos importantes do que o que o indivíduo julga como sendo o mais importante.
Perda da liberdade
O terceiro mal-estar da sociedade moderna é a perda da liberdade. Essa afirmação parece um contrassenso, pois ouvimos cada vez mais falar sobre liberdade, ser livre, não ser controlado por regras etc. Mas, sim, vivemos um período de perda de liberdade.
A liberdade promovida pela era moderna é o maior ataque à própria liberdade[3]. Explico. Em nome de uma suposta liberdade de pensamento e valorização da autenticidade de cada indivíduo, o direito de discordar está sendo cada vez mais atacado. A liberdade de ser contra alguma ideia, de não concordar com determinado comportamento ou de falar contra algo que se considera errado está cada vez mais fragilizada. “A forma da nossa liberdade comum não pode aceitar oposição nenhum em nome da liberdade”[4].
Isso pode parecer confuso, mas basta um exemplo mais concreto para clarear essa ideia. Imagine que alguém fale nas redes sociais a respeito da roupa de outra pessoa. Não precisam ser palavras ásperas ou indelicadas, basta dizer que não gostou do estilo. Isso será o suficiente para que se levante um exército de críticas contra quem falou. Falarão que a pessoa é livre para se vestir do jeito que quiser etc. O que não se tem observado é que a mesma liberdade da pessoa que se vestiu deve ser estendida à pessoa que não gostou. Dei esse exemplo da roupa para não ter de entrar em questões de comportamento. Essas sim são mais cerceadoras de liberdade que qualquer outra. É fato que em nome da liberdade, estão tirando a liberdade de não concordarmos ou não gostarmos de algo.
Postura cristã
Um cristão não se submete à era da autenticidade”, pois entende que o propósito da vida de um cristão não é ser “único”, mas ser cópia. Paulo escreveu: “Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, e vivam em amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus”. (Efésios 5: 1-2)
Na “era da autenticidade”, recuse ser “autêntico”, prefira ser cópia. Seja uma cópia de Cristo.
Referências:
[1] Charles Taylor. A ética da autenticidade. São Paulo: É realizações, 2011. P, 18-19
[2] Charles Taylor. A ética da autenticidade. São Paulo: É realizações, 2011. P, 18
[3] Charles Taylor. A ética da autenticidade. São Paulo: É realizações, 2011. P, 37
[4] Charles Taylor. A ética da autenticidade. São Paulo: É realizações, 2011. P, 35