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Ações marcam campanha contra a violência psicológica na zona sul de São Paulo

Ações marcam campanha contra a violência psicológica na zona sul de São Paulo

Iniciativa faz parte do projeto Quebrando o Silêncio, que neste ano completa duas décadas de existência.


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“Cresci ouvindo meu pai dizer: ‘você não vai ser ninguém na vida’”; “Meu namorado vivia falando que eu era propriedade dele”; “Por conta dos comentários e atitudes do meu chefe, acabei duvidando da minha capacidade profissional”; “Tenho dificuldade de aprendizado, por isso, já fui chamado de ‘burro’ várias vezes"; “Por muitos anos escutei que o casamento só estava durando por causa dele, e me sentia culpada por isso”. Esses depoimentos são de pessoas que tiveram suas vidas marcadas pela violência psicológica. 

No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019 estimou que 17,4%, ou seja, 27,6 milhões de pessoas com 18 anos de idade ou mais já sofreram abuso psicológico. O estudo também constatou que na maioria dos casos o abusador pertencia ao núcleo familiar, sendo mulheres as principais vítimas. 

A fim de conscientizar a sociedade sobre esse mal e ajudar as próprias vítimas a identificarem e denunciarem os agressores, uma grande mobilização por meio do projeto Quebrando o Silêncio foi realizada no último sábado, 27. O ato envolveu milhares de voluntários na zona sul da capital e no Vale do Ribeira.

 COMBATE À VIOLÊNCIA

A data foi marcada com dezenas de ações no território da Paulista Sul, com a distribuição de mais de 100 mil materiais educativos com conteúdos voltados ao público adulto e infantil. 

Durante o dia, mais de 200 templos adventistas trataram sobre o assunto com a participação de psicólogos e especialistas na área. Em diversas regiões, o alerta à população aconteceu por meio de fóruns, palestras em condomínios, escolas, praças e feiras de saúde, além de passeatas. 

No Jardim São Judas, voluntários saíram às ruas com cartazes e faixas com mensagens alusivas ao projeto, de apoio e encorajamento às vítimas. No Parque Regina, centenas de panfletos e revistas foram distribuídos aos pedestres, motoristas, nos comércios e aos moradores. 

Para servir como fonte de apoio às mulheres da comunidade, voluntárias da igreja adventista do Jardim Comercial proporcionaram um momento dedicado somente ao público feminino. O encontro aconteceu na Associação do Bairro. Lá, as participantes conversaram com profissionais da área jurídica e da saúde sobre a importância de quebrar o silêncio, buscando, junto aos órgãos competentes, o apoio necessário. 

QUEBRANDO O SILÊNCIO

O Quebrando o Silêncio é um projeto promovido pela Igreja Adventista do Sétimo Dia em oito países da América do Sul e atua ativamente no combate à violência contra mulheres, idosos e crianças.

A campanha massiva acontece anualmente, mas é último sábado do mês de agosto que milhões de pessoas saem às ruas para dizer “Não” à violência. A conscientização sobre o assunto, entretanto, acontece ao longo do ano em igrejas e instituições de ensino adventistas.  

Em 2022, a temática do projeto foi sobre o abuso psicológico. Na região sul da capital, a iniciativa foi promovida pelo Ministério da Mulher, com o apoio de outros departamentos. 

ESCLARECIMENTO

A violência psicológica é qualquer ação ou omissão destinada a controlar ações, comportamentos, crenças e decisões de uma pessoa, por meio de intimidação, manipulação, ameaça, humilhação, isolamento ou qualquer outra conduta que implique prejuízo à sua saúde psicológica. 

CONSEQUÊNCIAS DO ABUSO

À medida em que as agressões se repetem, as consequências chegam a ser inúmeras: além do medo, vergonha e culpa, a vítima adquire o sentimento constante de infelicidade, paranoia, esgotamento psicológico e emocional, comportamento defensivo, falta de confiança, dificuldade para se expressar, crise de choro, conduta retraída, irritabilidade, insônia, sintomas psicossomáticos, como alergias de pele, gastrite e enxaqueca, isolamento social, ansiedade, depressão e até pensamentos suicidas. 

PERFIL DO ABUSADOR

O abusador normalmente é impaciente, egocêntrico, ciumento e controlador. Na maioria das vezes não assume esse comportamento e tende a acreditar que faz tudo por um motivo justo.  No cotidiano, exerce certas condutas, como:

  • Humilha a vítima de forma coletiva ou individual, fazendo comentários do tipo: “Parece que você não leva jeito pra isso”, “Você não é muito inteligente, né?” etc.
  • Tem atitudes manipuladoras para inverter a culpa de uma situação ou conseguir algo da vítima. 
  • Persegue e ridiculariza a vítima na frente das pessoas e familiares para difamá-la e obter a sensação de superioridade que tanto deseja.
  • Distorce o que a vítima falou para que sua concepção da realidade fique confusa. Exemplo: “Eu não olhei pra ela, você está louca” ou “jamais disse isso, você está inventando”. Conhecida como gaslighting, essa tática estimula a pessoa a duvidar de sua capacidade de interpretação e acreditar nas palavras do agressor.
  • Critica a personalidade, o modo de falar, as roupas, escolhas, opiniões, crenças religiosas e até a família da vítima constantemente. 
  • Restringe a pessoa de expressar-se abertamente porque suas opiniões são consideradas inconvenientes. Com o tempo, a vítima sente que não possui permissão para ser quem é e passa a seguir as convenções impostas pelo agressor.
  • Isola a vítima em casa com a desculpa de poupá-la de qualquer situação chata que possa ocorrer. 

CRIME

Mesmo não sendo um ato físico, a violência emocional é considerada crime em diversos países por trazer prejuízos emocionais. No Brasil, a Lei 14.188/21, artigo 147-B, reconhece como crime todo ato que “cause dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação”. 

APOIO ÀS VÍTIMAS

Geralmente, o abuso nem sempre é percebido por quem sofre. Existem casos também em que o estado emocional da vítima encontra-se fragilizado, e por isso, chega ao ponto dela duvidar de seu próprio valor como pessoa, e nesse processo fica muito difícil deixar um relacionamento abusivo ou cortar relações com o agressor psicológico. 

Quem está de fora pode não entender a decisão da pessoa de ficar ao lado do perpetuador das agressões e soltar comentários, como: “ele/ela gosta de sofrer” ou “está nessa porque quer”. Na verdade, a vítima precisa de ajuda psicológica e apoio para identificar, denunciar, se reerguer e conseguir largar a situação desagradável. Caso você conheça alguém passando por essa situação, não a culpe, ofereça acolhimento, demonstre segurança e indique ajuda profissional. 

CANAIS DE DENÚNCIA

Por mais que seja difícil ou pareça impossível, é preciso dar o primeiro passo a fim de romper as barreiras para acabar com os maus tratos emocionais. Para isso, o caminho é quebrar o silêncio. Para denunciar violência contra mulheres, idosos, crianças e adolescentes ou algum outro tipo de violação dos direitos humanos, disque 180 ou 100.