Compromisso contra a desigualdade racial
Lançamento recupera a história do protestantismo que não tolerou racismo e, com base na Bíblia, lutou contra escravagismo.
Uma igreja que não deseja ser varrida para debaixo do tapete da história deve estar disposta a responder os desafios da atualidade. Nesse trabalho de contextualização, o retrovisor é uma ferramenta importante. Muitas das respostas às necessidades contemporâneas podem vir daquilo que já aconteceu. As discussões atuais sobre discriminações raciais estão em alta no debate público, e podem ser beneficiadas por uma retrospectiva da história cristã.
A obra Pela Estrada da Liberdade: a religião na história abolicionista e antirracista revela como atitudes cristãs, de séculos atrás, servem de exemplo para nós hoje quando o assunto são as desigualdades causadas pela hostilidade racial. Publicada pela Saber Criativo, em parceria com a Unaspress, a editora universitária adventista do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), a obra escrita por Isaac Malheiros e Davi Boechat se propõe a mostrar o engajamento da Igreja no combate à escravidão e discriminação.
Posicionamento histórico
Antes de que o tema ganhasse espaço nas assembleias legislativas e impressa, a posição antiescravista dos anabatistas, reformadores protestantes radicais, já testemunhava contra o mal do racismo. A ação organizada dos quakers e o envolvimento de metodistas, batistas, congregacionais, presbiterianos e adventistas também foram movimentos eloquentes contra essa injustiça.
Os pioneiros adventistas, por exemplo, eram abolicionistas convictos. E isso quando tal posicionamento poderia significar isolamento social, ruína financeira e até mesmo agressão física. John Byington, primeiro presidente da Igreja Adventista do Sétimo Dia, também era profundamente comprometido com o abolicionismo. Além de liderar uma sociedade antiescravista, Byington se envolveu com a Underground Railroad – a rede clandestina de rotas de fuga de escravizados – e sua fazenda era um ponto de apoio para fugitivos.
A identificação do adventismo com o abolicionismo causou graves problemas à denominação em seus primeiros anos. Missionários eram expulsos de regiões ao sul dos Estados Unidos da América e frequentemente agredidos. Esse compromisso pode ser exemplificado com a conversão ao adventismo de Rosetta Douglass Sprague. Ela era filha do famoso abolicionista Frederick Douglass, que continuou ajudando seu pai na luta contra a injustiça racial enquanto aguardava pela volta de Jesus.
Lições aprendidas
Sem nos entregar a uma perspectiva excessivamente saudosista, o livro convida a aprender com os eventos do passado e dele extrair lições. Entre erros e acertos, homens e mulheres legaram o presente. O apelo antirracista não é uma nova proposta, um novo caminho que nunca foi trilhado, mas é um chamado a um retorno ao antigo caminho, à redescoberta de raízes antigas e profundas da identidade adventista.
Pensar sobre as convicções que motivaram esse engajamento nos afastam tanto da passividade abjeta quanto do engajamento deletério à fé. Ao erguer nossa voz, podemos ecoar a do lado certo da história e que estava profundamente comprometida com a Palavra de Deus.