A ideia de fazer trabalhos missionários nos presídios de Porto Alegre não é nova. No entanto, na penitenciária feminina Madre Pelletier, já havia se passado seis anos desde a última interação de uma instituição Adventista com as mulheres detentas, quando três voluntárias decidiram levar uma mensagem de espernaça naquele meio. Foi assim que surgiu a iniciativa de Maria Sinhorinha, Érika Monteiro Garcia e Lucilene Britis, que desde 2021 realizam visitas semanais, onde são levados materiais de higiene, roupas, alimentos e, o mais importante, a Palavra de Deus. 

Coordenada pelo Ministério da Mulher da Associação Sul-Rio-Grandense (ASR), a ação realizada pelas voluntárias todas as quartas-feiras pela manhã atende uma das galerias da penitenciária, com detentas entre 18 a 30 anos. Cada semana, em média, 16 mulheres fazem parte da jornada de estudos A Doce Verdade. O objetivo do Ministério da Mulher é apresentar o Evangelho por meio da Bíblia e resgatar o valor pessoal, a dignidade, o ressignificado da vida e as relações familiares.

“Queremos mostrar que todos podemos errar, mas que todos também temos a chance de recomeçar e reescrever nossa história, se assim o quisermos”, aponta Lucilene Britis, líder do ministério da mulher da ASR.

Um vislumbre de uma manhã na penitenciária

Ao contrário dos demais dias da semana, a quarta-feira é um dia em que as detentas acordam cedo, pegam suas Bíblias, seus livros de estudos e suas canetas para descerem à capela da penitenciária. Elas então se assentam e aguardam ansiosamente a chegada das “professoras”, nome carinhoso que usam para se referirem às voluntárias. Assim que chegam as professoras, os olhos brilham e os rostos sérios se transformam em sorrisos. 

A primeira oração é feita e o ambiente carente de beleza e alegria se transforma em lugar de adoração e esperança. Todas em pé, com olhos fechados e mãos erguidas, as mulheres se unem em louvor, cantando músicas de paz e esperança. Algumas chegam a chorar ao ouvirem as mensagens nas letras de cada música. 

No momento de pedidos e agradecimentos, as mulheres compartilham um pouco da realidade nas celas e da esperança que possuem para quando saírem dali. O estudo da Bíblia então se inicia e é a parte central daquele encontro. Com o auxílio das voluntárias e de um pastor, as mulheres abrem suas Bíblias e desenterram mais uma lição, sempre aplicando o que é aprendido em suas vidas diárias. 

O encontro das mulheres é finalizado com um lanchinho enquanto completam o Ateliê da Bíblia, livro de colorir que acompanha as lições dos estudos. Ao voltarem às suas celas, as mulheres abraçam as voluntárias e agradecem cada uma pelo momento que passaram juntas. 

Missão que continua

O projeto que começou com três mulheres, hoje possui equipes com cerca de cinco pessoas diferentes em cada semana do mês. Esses momentos únicos para as mulheres da penitenciária têm feito tanta diferença para elas quanto para as voluntárias do Ministério da Mulher.

“Esse trabalho tem sido algo muito edificante na minha vida espiritual. Assim como nós estamos lá ajudando o próximo, o próximo não sabe o quanto também está nos ajudando,” diz Viviani Reis Gedoz, voluntária.

As voluntárias não imaginavam o quanto transformariam vidas com esse projeto e o quanto seriam transformadas também. Para cada uma, é nítido o agir de Deus em cada encontro na penitenciária. Realizar um trabalho como tal não é algo comum, mas alcançar a todos mesmo em lugares inusitados faz parte do propósito do Ministério da Mulher para com a sociedade.

"Confesso que é um choque me deparar com uma realidade tão distante da minha, mas [Deus] nos capacita para alcançar essas mulheres que estão sedentas por conhecer mais sobre esse Deus tão maravilhoso," relata Thais Matias Marques, uma das jovens que faz parte do projeto.

No último Dia das Mães, as mulheres da galeria receberam lembrancinhas, inclusive para suas colegas de cela. O pequeno ato feito pelas voluntárias foi uma grande e bela surpresa não só para a galeria, mas também para os oficiais da penitenciária, que também receberam o agrado.  Promover momentos como esse faz parte do projeto do Ministério da Mulher para confortar essas mulheres e mostrar o amor de Jesus, revelando a elas uma possibilidade de uma nova vida.

“Como igreja, podemos ir muito mais além em lugares assim, de gente que precisa de liberdade espiritual, de resgate e de uma nova vida”, conclui Erika Monteiro Garcia, fundadora do projeto.