Conheça a história da Verônica e seu filho Fernando, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista
"Primeiro vem a necessidade dele para depois pensar em mim".
Verônica Cristina Buture é professora e mãe do Fernando Buture, 15 anos. A família reside em Ji-Paraná, RO. A seguir acompanhe o relato emocionante dessa mãe. "Primeiro vem a necessidade dele para depois pensar em mim".
"Quando o Fernando nasceu era uma criança normal. Andou no tempo certo, mas quando ele chegou aos dois anos de idade a minha família começou a notar diferença nele. Ele deixou de falar, e quando emitia alguma palavra, eram palavras soltas ou repetia o que a gente falava.
Quando ele chegou aos três anos, eu resolvi levá-lo ao médico. Em seguida fomos encaminhados ao psicólogo e foi lá que recebi o diagnóstico do Fernando. As características eram de autismo. Logo fomos encaminhados ao Centro de Autismo e desde então são muitas lutas e muitas vitórias também. O Fernando teve o diagnóstico de Autismo aos três anos e meio e isso foi um choque muito grande porque eu não sabia nada sobre o assunto, nem conhecia alguém assim. E ao começar a lidar com isso você fica sem chão, sem saber o que fazer.
A minha vida mudou completamente porque o Fernando não consegue ficar em uma lugar com muita gente, ele não suporta barulho muito alto. Hoje tudo o que eu for fazer, tenho que pensar primeiro nele. Se ele vai conseguir se adaptar aquilo. Primeiro vem a necessidade dele para depois pensar em mim.
A família tem que ser sua base, seu ponto de apoio, porque haverá dias em que você estará triste, você vai chorar, vai se perguntar “por que isso está acontecendo comigo?”. E é na família que você vai ter um ombro para chorar, uma palavra amiga, um abraço".
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A escola também tem que ser um lugar de inclusão
"Eu e meu Fernando, passamos por algumas escolas. E em um desses ambientes meu filho foi praticamente expulso. Eles falavam que não podiam fazer nada, que eu procurasse outra escola. E nos outros ambientes escolares meu filho foi muito acolhido, foi recebido como um aluno normal. A escola tem que ser um lugar de inclusão para que o aluno se sinta importante e não excluído.
Eu me sinto uma pessoa privilegiada porque dentre tantas mulheres o Senhor me escolheu para essa missão de cuidar desse menino. Ele é a minha motivação de todos os dias. Até nos meus piores dias eu olho pra ele e vejo que não posso desistir porque tem alguém que precisa de mim. Alguém que o Senhor escolheu para eu cuidar aqui nessa terra".
Entrevista com especialista esclarece pontos essenciais sobre o Transtorno do Espectro Autista
Annye Beck é psicóloga, neuropsicóloga e reside em Ji-Paraná, RO.
O que é o TEA e quais as características que indicam um comportamento diferente do normal?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo também apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
Em qual faixa etária esses comportamentos se intensificam?
Os sinais de alerta no neurodesenvolvimento da criança podem ser percebidos nos primeiros meses de vida, sendo o diagnóstico estabelecido por volta dos 2 a 3 anos de idade.
Quais áreas são mais afetadas pelo transtorno?
As pessoas dentro do espectro podem apresentar déficit na comunicação social ou interação social (como nas linguagens verbal ou não verbal e na reciprocidade socioemocional) e padrões restritos e repetitivos de comportamento, como movimentos contínuos, interesses fixos e hipo ou hipersensibilidade a estímulos sensoriais.
Como ocorre o diagnóstico?
O diagnóstico de TEA é essencialmente clínico, feito a partir das observações da criança, entrevistas com os pais e aplicação de instrumentos específicos. Os profissionais indicados são: Neurologistas, Neuropsicólogos e Psicólogos, podendo ainda ter ajuda de uma equipe multidisciplinar.
A partir do diagnóstico qual deve ser o acompanhamento da criança?
A criança deverá receber 20 horas semanais de acompanhamento multidisciplinar distribuídas para os seguintes profissionais: Neuropsicólogo, Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional, Psicopedagogo e Neurologista.
Como os pais podem ajudar um filho com TEA?
Os pais têm um papel fundamental no desenvolvimento das crianças. Após o diagnóstico o indicado é que os pais sejam orientados a apoiar, de forma individualizada, as necessidades de desenvolvimento de seus filhos, além de observar os interesses das crianças, priorizando a criação de rotinas sociais prazerosas.
Qual a importância da conscientização do autismo?
Através dela podemos gerar ação, conhecimento, capacitação e menos preconceito. Falamos com o intuito de alertar e esclarecer a sociedade e ajudar o diagnóstico precoce. Quanto mais cedo houver o diagnóstico, melhor será a qualidade de vida destes indivíduos.
Algumas características do TEA:
Dificuldade na interação social
•Não olhar nos olhos ou evitar olhar nos olhos;
•Risos e gargalhadas inadequadas ou fora de hora;
•Dificuldade em aceitar carinho ou afeto;
•Dificuldade em relacionar-se com outras crianças, preferindo ficar sozinho em vez de brincar com elas;
•Repetir sempre as mesmas coisas, brincar sempre com os mesmos brinquedos.
Dificuldade de comunicação
•A criança sabe falar, mas prefere não falar nada e mantém-se calada por horas, mesmo quando lhe fazem perguntas;
•A criança refere-se a si mesma com a palavra "você";
•Repete a pergunta que lhe foi feita várias vezes seguidas.
Alterações comportamentais
•A criança não tem medo de situações perigosas;
•Ter brincadeiras diferentes, dando funções diferentes aos brinquedos que possui;
•Brincar com somente uma parte de um brinquedo, como a roda do carrinho, por exemplo;
•Levar o braço de outra pessoa para pegar o objeto que ela deseja;
•Olhar sempre na mesma direção como se estivesse parado no tempo;
•Ficar se balançando para frente e para trás por vários minutos ou horas ou torcer as mãos ou os dedos constantemente;
•Dificuldade para se adaptar a uma nova rotina.
•Ficar passando a mão em objetos ou ter fixação por água;
•Ficar extremamente agitado quando está em público ou em ambientes barulhentos.
Caso perceba estes comportamentos, procure ajuda profissional.