Uma questão de liberdade
Para os adventistas, a liberdade religiosa é um direito de todos, mesmo daqueles que tem pontos de vista contrários.
Desde os primórdios da Igreja Adventista do Sétimo Dia, o ministério em favor da liberdade religiosa ocupou um lugar de destaque na agenda da organização. Em 1886 foi lançada a primeira revista sobre o tema, The American Sentinel [A Sentinela Americana], precursora da Liberty[1], publicada a partir de 1906 e que permanece ativa até hoje (www.libertymagazine.org).
A convicção sobre a importância da liberdade de consciência, de forma especial, ganhou forte impulso por ocasião do grande desafio enfrentado em 1888/1889, quando no Congresso americano um senador propôs que nos Estados Unidos houvesse cultos apenas aos domingos, confrontando diretamente uma crença fundamental dos adventistas e de outros grupos religiosos – a guarda do sábado – como dia especial de adoração.
Nesse contexto, em 1893 a Igreja Adventista fundou a International Religious Liberty Association (IRLA), a mais antiga entidade do mundo estabelecida para defender, proteger e promover a liberdade de religião e crença para todas as pessoas, independentemente de raça, cultura e credo (www.irla.org).
Em 1946, a IRLA abriu seus quadros associativos para líderes e pesquisadores de outras confissões religiosas, fato este extremamente significativo, especialmente se considerarmos que uma declaração universal de direitos humanos foi publicada apenas em 1948 pela Organização das Nações Unidas (ONU), contendo entre outros, o famoso artigo 18º, que assegura o direito à liberdade religiosa[2].
Oportunidade para todos
Os pioneiros do adventismo sempre buscaram na Bíblia a sustentação para suas convicções, e não foi diferente com o direito de praticar a religião segundo os ditames da consciência. Ellen G. White, co-fundadora e profetisa da Igreja Adventista, também se envolveu diretamente nessa luta. A Enciclopédia Ellen G. White assim descreve sua contribuição: “A entrada da denominação na arena da liberdade religiosa foi entusiasticamente apoiada por Ellen White. Ela viu o tema tanto do ponto de vista histórico quanto profético, bem como reagiu às condições contemporâneas”[3].
Diversas declarações e vigorosas mensagens que chamavam os membros a se envolverem na luta em favor da liberdade religiosa podem ser encontradas em seus escritos durante esse período de prova. Em 1889 ela escreveu: “Nós como povo, não temos cumprido a obra que Deus nos confiou. [...] Não estamos cumprindo a vontade de Deus se nos deixarmos ficar em quietude, nada fazendo para preservar a liberdade de consciência”[4].
Embora o pior da crise houvesse passado com expressiva vitória, um legado marcou a experiência dos adventistas na luta em favor da liberdade religiosa. Anos mais tarde, em 1901[5], quando aconteceu a reorganização administrativa e foram criados os diversos departamentos, foi estabelecido também o departamento de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa, uma pasta até hoje presente nas sedes das várias instâncias da Igreja Adventista.
Esta coluna, intitulada “Para ser livre - uma compreensão adventista sobre o direito à liberdade de religião e crença” foi criada para fortalecer a compreensão da filosofia adventista acerca desse importante assunto. Ela terá periodicidade bimestral e será escrita pelo jornalista Heron Santana, diretor de Assuntos Públicos e Liberdade Religiosa da Igreja Adventista, na região administrativa leste brasileira, com sede em Salvador, Bahia, e por Helio Carnassale, pastor adventista jubilado, que foi diretor do mesmo departamento para oito países sul-americanos no período de 2015 a 2021.
A primeira série de artigos tratará dos marcos referenciais da filosofia adventista para a liberdade religiosa, fundamentados nas Sagradas Escrituras. Não deixem de orar em favor dos que sofrem perseguição e violência por causa de sua fé, de agradecer pela liberdade religiosa desfrutada neste território e interceder pelas autoridades constituídas. Vale também a pena conferir outros conteúdos em: www.adventistas.org/liberdadereligiosa.
Referências
[1] Fortin, Denis & Moon, Jerry. Enciclopédia Ellen G. White. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2018, p. 655.
[2] https://www.declaracao1948.com.br/
[3] Fortin, Denis & Moon, Jerry. Enciclopédia Ellen G. White. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2018, p. 1034.
[4] White, Ellen G. Testemunhos Para a Igreja. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2021, vol. 5, p. 606.
[5] Fortin, Denis & Moon, Jerry. Enciclopédia Ellen G. White. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2018, p. 86.