Igreja Adventista resgata moradores de rua em Brasília
Projeto Missão Urbana firma parceria com Instituto Crescer e atua para criar oportunidades a desabrigados e dependentes químicos
É entre as superquadras de Brasília, em pontos de pouca iluminação, tomados pela indiferença das pessoas que passam ao redor, em madrugadas solitárias, que um grupo de jovens voluntários da Igreja Adventista do Sétimo Dia se propôs a prestar solidariedade, esperança e transformação de vida aos moradores de rua.
O projeto Missão Urbana acontece todos os domingos no Setor Comercial Sul. Conhecido como “buraco do rato”, na Cracolândia de Brasília residem pessoas em situação de rua, grande parte é dependente químico. Além de ler a Bíblia com os desabrigados, os voluntários levam café da manhã, cantam louvores e conversam eles.
Fazer a diferença
Malu Gomes é uma das pioneiras do projeto. Antes de existir o Missão Urbana, ela já se dedicava ao voluntariado durante as noites em Brasília. Uma de suas inquietações era levar apenas doações aos desabrigados, ainda não havia oferta de oportunidades que pudessem tirá-los da rua. “Eu sentia a necessidade de um relacionamento mais próximo com eles, um vínculo. Me incomodava não oferecer um tratamento. Eu via a necessidade deles de serem ouvidos. Eles precisavam de alguém que fosse a ponte para saírem daquela situação”, desabafa a voluntária.
A inquietação de Malu a fez desafiar os jovens de uma Igreja Adventista da Asa Sul a praticarem o projeto todos os domingos pela manhã, momento que os dependentes químicos estão sóbrios.
Mais propósitos
No local, diversas instituições religiosas e ONG’s levam alimentos aos desabrigados, porém, o coordenador do projeto Missão Urbana, Rosnaldo de Lima, assim como Malu, observou que nenhuma das instituições dava continuidade e apoio espiritual aos beneficiados. “Passamos a levar café da manhã todos os domingos e a palavra de Deus, com música e pregação. Então surgiu outra necessidade: a de tirá-los das ruas”, explica o coordenador.
Com mais este propósito em mãos, através da Agência Adventista de Recursos Assistenciais (ADRA), surgiu a parceria do grupo com o Instituto Crescer, uma entidade que acolhe dependentes químicos em situação de rua e oferece tratamento.
A fundadora do Instituto, Areolenes Nogueira, destaca que a parceria com a Igreja Adventista ampliará as ações. “Estamos recebendo pessoas que foram alcançadas pelo Ministério Missão Urbana. Juntos compartilhamos experiências e conhecimentos e já temos o lançamento de um projeto de leitura, cujo acervo nos foi entregue pela Igreja. Uma vez por semana os adventistas virão na unidade trabalhar com os acolhidos”, menciona Areolenes.
Oportunidades
Com a biblioteca criada, será montado um clube do livro, onde uma vez por semana os voluntários farão uma roda de conversa com objetivo de debater as obras com os assistidos. A ideia é que através da leitura eles encontrem uma ressignificação de vida e novas perspectivas. “Além disso, a parceria também vai propiciar corte de cabelo a cada 15 dias. Vamos receber lençóis e toalhas de banho para os acolhidos que vem da rua. E é só o começo”, comemora Areolenes.
O resultado de todo esse empenho já é notado. Muitos ajudados estão sendo reinseridos na sociedade e veem a vida ser transformada. O coordenador do projeto conta a história de Eder da Silva (nome fictício para preservar a identidade). “Desde menino o Eder viu o pai e mãe beberem álcool e fumarem cigarros. Logo ele tornou-se viciado em várias drogas, a ponto de começar a pegar as coisas de dentro de casa para vender ou trocar por entorpecentes”, conta Rosnaldo.
A família de Eder não suportou tais atitudes, com isso, ele foi morar na rua. Mesmo assim, o homem retornava para casa e roubava objetos da própria mãe. Certo dia, Eder participou do café da manhã no setor comercial sul. “Ele ouviu as músicas, a mensagem e a oração feita pelos jovens e aceitou ir para o Instituto Crescer. Já faz quatro meses que ele está no instituto e lá atua como chefe da cozinha, recebendo uma pequena remuneração”, explica o líder Rosnaldo.
Vidas transformadas
Na última visita da filha de Eder ao Instituto, uma atitude emocionou a todos. Desta vez, em vez de pedir dinheiro à família, Eder enviou uma quantia para ajudar nas despesas.
No último domingo, no programa do “Retiro Alternativo de Carnaval”, promovido pelos jovens do Missão Urbana na unidade, Eder e sua filha de 10 anos ganharam uma Bíblia e estudos que falam sobre esperança, alento e futuro. Na ocasião, pai e filha decidiram que querem se preparar para o batismo na Igreja Adventista.
Rommel Resende, diretor de jovens da Igreja Adventista da Asa Sul, comemora a decisão e salienta que a sensação de ver vidas transformadas é muito positiva. “Poder acompanhar a transformação de vidas e o envolvimento dos jovens com a missão é uma experiência relevante para a vida deles, para terem contato com a realidade nesse nível. Causa fortes impactos sobre a vida espiritual deles e também em sua visão de cidadania”, conclui o diretor jovem.