Adventista troca aposentadoria pelo voluntariado
No Dia Nacional do Voluntariado, conheça a aposentada que fez da empatia seu instrumento de trabalho
Ibanês de Lourdes Pereira, de 60 anos, decidiu que o fim da sua carreira não seria a aposentadoria, mas o voluntariado. A ex-secretária executiva da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) resolveu montar um “projeto de aposentadoria”. Em 2012, quando poderia ter encerrado suas atividades resolveu apenas desacelerar. Transformar parte de seu tempo de trabalho em serviços voluntários.
Inicialmente, ela se engajou na Ação Solidária Adventista (ASA), uma iniciativa da Igreja Adventista do Sétimo Dia que desenvolve trabalhos assistenciais na comunidade. À medida que se engajava, Ibanês sentia mais paixão pelo que fazia.
“Comecei realmente a gostar, a achar muito interessante (...) eu sou apaixonada por isso, pelo que faço. Eu acredito que estou aqui para servir”, corrobora.
Ela conta que, no começo, as pessoas diziam que, com a aposentadoria, ela ficaria ociosa e poderia entrar em depressão. Mas ela não quis experimentar desta realidade.
A preocupação dos amigos de Ibanês tinha fundamento. A depressão entre idosos atinge mais de 11 milhões de pessoas. Isso representa mais ou menos 11% da população brasileira. Se considerar a população idosa que vive em casas institucionalizadas essa porcentagem cresce vertiginosamente.
Os anos passaram e, em 2017, Ibanês decidiu se aposentar finalmente. Naquela altura, o voluntariado já consumia boa parte do seu tempo.
"Eu comecei a assumir mais responsabilidades, mas assim, sem comprometer o meu trabalho. Quando eu me aposentei em 2017, então eu pude me envolver mais. E em um desses envolvimentos, eu conheci uma família", conta.
Entrega sem reservas
Chovia muito naquele dia. Dentro da humilde casa, via-se a água escorrendo pelas paredes. As crianças olhavam assustadas. Ibanês só ia levar pão e leite para a família. Mas a cena a chocou. "Eu saí de lá decidida a dar um jeito nisso". O início da sua aposentadoria seria marcado por um desafio que lhe cobraria um alto preço: uma entrega sem reservas.
"Eu mandei uma mensagem para a Andreia pedindo que ela perguntasse ao esposo o que precisaria ser feito na casa de imediato", relembra.
A obra exigiu que todos saíssem da casa. Mas a mobilização de Ibanês e outros voluntários garantiu que a família fosse abrigada em um apartamento sem custo algum. A engenheira da obra era amiga de Ibanês que se solidarizou pela história contada pela aposentada. O trabalho durou cerca de um ano.
"Eu fiz textos e mais textos e enviava pelo Whatsapp para todos os meus amigos. Mandava fotos [da casa], enfim, arrecadei um dinheiro suficiente e a família entrou com a mão de obra. As crianças ficaram todas amparadas. A partir daí, passei a levar toda semana, o pão e o leite, independentemente de qualquer coisa", complementa.
Era só o começo
Não tem espaços que caibam o tanto de coisa que essa mulher faz. Ela não para! Ainda assim, segue modesta e reconhece o apoio que recebe. Às vezes, ela precisa se frear porque, como qualquer ser humano, possui suas limitações.
"Eu gosto muito de mobilizar as pessoas, entendeu? Eu não faço nada sozinha. Sozinha, realmente, a gente não faz nada. Eu mobilizo as pessoas e tenho uma rede de amigos, graças a Deus, muito boa", admite.
O projeto do pão solidário que marcou o início da sua trajetória no voluntariado ainda conta com a ajuda de Ibanês. Ela recolhe pães no final do dia em padarias localizadas nos diversos bairros de Vitória (ES) e distribui para pessoas em situação vulnerável. No início da pandemia, mobilizou o condomínio em que mora para arrecadar mantimentos. A celebração do aniversário que aconteceu em julho foi diferente. Os presentes se transformaram em donativos e as doações se converteram em 50 cestas básicas. No Dia Nacional do Voluntariado, Ibanês compartilha com o mundo como fez da empatia seu instrumento de trabalho.