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Pastor brasileiro fala dos desafios e oportunidades no Níger

O pastor Cleber e sua família atuam como missionários no Níger, país localizado na África, com o intuito de minimizar os desafios vividos pela população.


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Um dos desafios do Níger é o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) baixíssimo. (Foto: Arquivo Pessoal)

O Níger é uma das nações economicamente mais pobres do mundo, e possui poucas terras cultiváveis e escassos recursos naturais de valor comercial. Como se não bastassem estes dados, o país detém o terceiro menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do planeta. É nesse contexto que o pastor Cleber Trindade e sua família trabalham para levar boas novas de esperança.

Ele, a esposa, Andréa, e a filha, Cindy estão no país desde o início de 2019. O pouco tempo já deixou bem claros os desafios que teriam de enfrentar. Em 2018, um grupo de estudantes do Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), Campus Engenheiro Coelho, esteve na capital Niamey e auxiliou nos projetos de evangelismo desenvolvidos no local. Para Cleber, visitas como essas se mostraram marcantes na vida dos moradores. A Agência Adventista Sul-Americana de Notícias (ASN) conversou com o casal que demonstrou, então, um desejo forte de aproveitar cada oportunidade para falar de Jesus aos nigerinos.

Qual é a estrutura atual da Igreja Adventista no Níger?

Aqui no Níger, nossa estrutura é limitada. Temos a sede administrativa em Niamey, que é a capital, onde também temos a sede da ADRA no país. A igreja é relativamente nova, tem cerca de 35 anos de existência no país, com aproximadamente 1200 membros. O número de membros cresceu de forma exponencial nos últimos três anos de trabalho. Apesar das dificuldades enfrentadas para manter a obra, Deus tem providenciado meios por meio de doadores, que nos ajudam a manter os obreiros e pastores pregando e cuidando das pessoas em suas comunidades. Cremos grandemente que esta obra, portanto, irá avançar ainda mais.

Pastor Cleber em reunião com moradores locais. (Foto: Arquivo Pessoal)

Em que principais frentes vocês atuam?

Devido as necessidades vistas no país, trabalhamos em três principais frentes: suprimos necessidades básicas da comunidade local; oferecemos treinamento e formação de líderes; e fazemos programas de evangelismo.

Quais são os dois maiores desafios desse trabalho?

São vário desafios. A pobreza extrema é uma delas. Há, também, o islamismo. Pelo menos 98,7% da população professa a fé islâmica (Sunita). Existe, ainda, o baixo número de cristãos, com apenas 0,4% de representatividade. Outro problema é o terrorismo, pois há locais que se pode ir somente com segurança armada – a igreja, por exemplo, foi empurrada para longe da fronteira do Mali por questões de terrorismo.

E quais as duas maiores oportunidades para o trabalho de evangelização aí?

As oportunidades são tão grandes como os desafios, pois onde há pobreza e descaso, há também oportunidade de oferecer ajuda e se aproximar das pessoas. Por isso, montamos escolas de alfabetização, perfuramos poços artesianos, damos atenção médica, sem contar nos projetos evangelísticos.

Andréa e a filha, Cindy, com as mulheres em uma Igreja Adventista local. (Foto: Arquivo Pessoal)

Sabemos que o Níger, assim como outros países africanos, luta muito contra o terrorismo. E consequentemente com atentados constantes. Como a igreja enxerga este conflito na perspectiva de uma organização existente para pregar o evangelho da paz?

Não é fácil lidar com a existência de algo que pode acontecer a qualquer momento e em qualquer lugar. Para a Igreja, é um desafio constante, pois entramos em conflito com grupos que não aceitam o evangelho, e colocam medo e pavor em pessoas que fizeram uma escolha diferente da que eles vivem.

Aqui é tão complicado, que há locais que minha esposa e filha não podem ir, por serem muito brancas. Mantemos alguns procedimentos para evitar confrontações com a cultura local e riscos para a integridade física. Nos locais mais perigosos, somente nativos realizam os trabalhos pois, só assim, a comunidade os aceita. É por isso que existe a necessidade de fazermos discípulos, para que homens e mulheres possam, cada qual em sua língua e dialetos, levar Cristo para outras pessoas, onde em muitos lugares não seria possível outra pessoa fazer isso.

Uma das frentes de trabalho é o treinamento e formação de líderes para a igreja. (Foto: Arquivo Pessoal)

De tudo o que tem vivido, conte algumas lembranças impactantes de o que você tem presenciado no campo missionário.

Certo dia, visitando uma das aldeias, uma mãe, com um olhar triste, lavou suas crianças e chegou perto de mim. Ele pediu que escolhesse uma delas para levar embora. Aquela mãe tinha o desejo de salvar pelo menos um de seus filhos, pois sabe que, com o calor, falta de água e comida, a possibilidade de vida é muito difícil. Isso realmente mexeu comigo, pois me senti impotente diante dessa situação a qual não tinha muito como resolver naquele momento.

O Níger é um pais desértico, cerca de 70% do território é deserto do Saara, e a água é algo muito difícil de se encontrar e extremamente valorizada. Nós construímos uma igreja na região de Tilabri, um povoado em Banizounbu, e ali percebemos o desejo de conhecer a Deus e ter um local para adorá-Lo. Eles próprios construíram a igreja com ajuda financeiras vindas do Brasil. Estas pessoas buscaram água a 5 quilômetros de distância para construir sua igreja. Apesar de tudo, o poder de Deus é grande e age de formas incompreensíveis. Vai sempre além do que imaginamos.

Reunião com a comunidade. (Foto: Arquivo Pessoal)

Qual o seu maior desejo, ao se dispor a trabalhar nesse desafio?

Nosso desejo é poder levar boas novas de esperança, levando também conforto, alívio e a paz que Cristo nos pode dar. Consideramos que somos os pés missionários, pois estamos aqui fisicamente. Nós, porém, precisamos de mãos missionárias em diversos lugares do mundo, orando por nós e por este povo, e enviando recursos financeiros, que são muito limitados neste lugar. Logo Jesus voltará e, por isso, meu desejo é fazer a diferença, ser a luz que eles precisam e que vejam Cristo em nós.