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Estudante faz história como primeira graduada com Síndrome de Down no Pará

Marina Gutierrez está entre as 74 pessoas com a síndrome que estão cursando ou já se formaram no ensino superior no Brasil


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Aos 19 anos, Marina Gutierrez tornou-se a primeira estudante com Síndrome de Down a concluir o ensino superior no Pará. (Foto: arquivo pessoal)

Sonho de tantos jovens, o momento de vestir uma beca e erguer um canudo com o diploma de graduação vem sempre depois de muitos desafios e superações. E há quem, protagonizando esta cena, entre para a história. A Marina Gutierrez é um exemplo disso. Ela é a primeira estudante com Síndrome de Down a se formar no Ensino Superior no estado do Pará, e uma das 74 pessoas, também com Down, que estão cursando ou já concluíram a graduação no Brasil.

Foi ao ver o irmão, Fábio, seis anos mais velho, comemorando a aprovação no vestibular que Marina começou a sonhar com a faculdade. “Ela também queria que quebrassem ovo na cabeça dela”, recorda bem humorada a mãe, Marília, referindo-se ao costume dos veteranos em diversas faculdades de receberem os calouros com um “banho de ovos”. Em fevereiro deste ano, a família celebrou a sua formatura em Gestão de Recursos Humanos, aos 19 anos de idade.

A aprovação no vestibular foi um momento de comemoração para toda a família. (Foto: arquivo pessoal)

Da faculdade, Marina leva boas lembranças, especialmente da amizade com professores. Agora, além de trabalhar na empresa do seu pai, ela quer seguir com outros projetos, como cursos de maquiagem e pintura. Aliás, estes são seus hobbies preferidos.

DESAFIOS

Apenas na sala de parto os pais da Marina descobriram que o seu bebê nascera com Síndrome de Down. “É uma coisa que ninguém espera, porque a gente faz os exames e não dá nada”, lembra Marília. “Tivemos aquele choque, mas recebemos muito bem, graças a Deus. E eu fui à luta mesmo. Pensei que ela iria se desenvolver, e que eu iria fazer de tudo para isso. E foi o que aconteceu”, completa.

O fato é que a chegada de uma criança com Síndrome de Down muda completamente os planos e a rotina de toda a família. Marília conta que ela e o marido precisaram procurar ajuda, estudar a respeito da síndrome para poder proporcionar à Marina uma vida como a de qualquer outra criança.

Para a educação da filha, eles queriam uma escola onde ela pudesse cursar toda a educação básica; desde a Alfabetização até o Ensino Médio. Porém, Marília relata que “naquela época, era mais difícil. Hoje ainda tem escolas que não querem aceitar, porque não têm experiência com alunos como ela”. Mas, nesta busca, chegaram ao Instituto Adventista Grão Pará, em Belém. “Eu fui recebida pela coordenadora. Ela me disse que já havia um aluno com Síndrome de Down. E isso foi uma coisa boa, porque não era uma novidade para a escola, então, eles estavam preparados pra receber a minha filha”.

Marília ressalta, porém, que o maior desafio foi entrar na faculdade, “porque tem pessoas positivas e outras negativas. Eu cheguei até a uma psicóloga que disse: ‘por que você não coloca a Marina no ensino técnico? Na faculdade acontece tanta coisa!’ Isso desestimula um pouco; a gente fica com medo de acontecer alguma coisa”.

SUPERAÇÃO

Diante de tantos desafios, os pais enxergam a graduação da Marina como uma conquista. “Eu tenho muito orgulho dela! E fico muito feliz sabendo que proporcionamos para ela todas as alegrias que um jovem pode querer. Ela debutou, terminou os estudos, passou num vestibular e agora se formou!”, relata Marília, que define a filha como uma pessoa “amorosa, carinhosa e sensível”.

Segundo dados do Movimento Down, 74 pessoas com a síndrome estão cursando ou já concluíram o Ensino Superior no Brasil. (Foto: arquivo pessoal)

A SÍNDROME DE DOWN

É a variação genética mais comum que existe, ocorrendo em cerca de um em cada 700 nascimentos. Sem razões cientificamente comprovadas, a síndrome é causada pela trissomia do cromossomo 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isto resulta em características físicas peculiares, em um ritmo mais lento do desenvolvimento psicomotor e na maior propensão a determinadas doenças.

Porém, a equipe do Movimento Down ressalta que a síndrome não é não é uma doença, e não deve ser tratada como tal. Ela é uma condição genética que demanda cuidados especiais no decorrer do desenvolvimento do indivíduo. Pessoas com a síndrome têm mais semelhanças com o restante da população do que diferenças, tendo grandes potencialidades para o desenvolvimento pessoal, intelectual e social, e para levar uma vida autônoma.

E é para promover essa consciência que foi estabelecido o Dia Mundial da Síndrome de Down. Seu objetivo é contribuir na luta pela inclusão, bem-estar e direitos iguais das pessoas com Down na sociedade. A data, 21/03, foi escolhida pela Down Syndrome International, por iniciativa do geneticista Stylianos E. Antonarakis, da Universidade de Genebra. Ela faz alusão ao terceiro cromossomo que ocorre no par número 21 do material genético humano, originando a síndrome, e integra o calendário oficial da Organização das Nações Unidas.