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Coluna | Helio Carnassale

A manifestação moderna do dom profético

Deus também levantou profetas para transmitir Sua mensagem nos últimos dias da história deste mundo.


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Representação artística de Ellen White durante uma de suas visões (Foto: White Estate)

Em II Crônicas 36:15 e 16 compreendemos que a compaixão divina também é demonstrada pelo fato de Deus enviar profetas, por meio de quem falava com Seu povo. Tratamos deste assunto em dois outros artigos: um sobre a manifestação do dom profético no Velho e no Novo Testamento. Assim diz o texto de Crônicas: “O Senhor, Deus de seus pais, começando de madrugada, falou-lhes por intermédio dos seus mensageiros, porque se compadecera do seu povo e da sua própria morada. Eles, porém, zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas, até que subiu a ira do Senhor contra o seu povo e não houve remédio algum”.

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O experiente professor universitário Valdecir Simões de Lima preparou um quadro intitulado “Restauração da Verdade”, o qual Alberto Timm, diretor associado do White Estate (instituição adventista responsável pela preservação do patrimônio histórico e literário de Ellen White), costuma apresentar em seus seminários. Nessa análise destacam-se reconhecidos profetas da narrativa bíblica: Noé, Moisés, Elias, Daniel e João Batista.

Quadro com os profetas levantados por Deus em todos os períodos da narrativa bíblica (Foto: Divulgação)

Todavia, o aspecto mais interessante está na constatação de que os fatores isolados pelos quais Deus enviou esses profetas ao longo dos séculos estão todos conjugados no final dos tempos. Se para cada um desses eventos Deus levantou um profeta, não seria mais do que razoável que no tempo do fim, quando todas essas crises tomam lugar juntas, Ele também enviasse um mensageiro para orientar Sua Igreja em meio a uma época tão desafiadora? Foi exatamente isso que o que fez ao escolher Ellen Gould Harmon - posteriormente Ellen White - na metade do século XIX. Portanto, vamos entender o contexto deste chamado.

Um cenário desafiador

O ministério de pregação estadunidense sobre a volta de Jesus conhecido como movimento milerita chegou ao seu auge em 1844 com a marcação da data para a volta de Jesus. Anunciada para 22 de outubro daquele ano, Cristo não veio, o que tornou o fato constrangedor e o levou a ser conhecido como “Grande Desapontamento”. Os dias que se seguiram foram de amargura e incertezas, desorientação e desordem àqueles que O aguardaram.

George R. Night, teólogo e historiador adventista, escreveu: “Tudo o que havia mantido o adventismo [termo relacionado à volta de Cristo. Não confundir com Igreja Adventista do Sétimo Dia] unido não era mais tão forte quanto as crenças que separavam as partes constituintes. O resultado foi a divisão”[1]. Night ainda registrou que aqueles que esperaram o retorno de Jesus e não abandonaram a fé no segundo advento dividiram-se em dois grandes grupos: os que criam que o retorno de Cristo havia ocorrido de forma espiritual e defendiam a “desliterização” do evento; e os que mantinham a fé num aparecimento literal, a maioria dos quais seguiam marcando novas datas para Sua iminente volta.

Descrevendo os tempos subsequentes ao desapontamento, Night também afirmou: “Confusão e desorientação caracterizaram tanto os líderes mileritas quanto os seguidores. [...] Por um período, muitos continuaram a buscar diariamente o cumprimento da profecia dos 2.300 dias (Daniel 8:14) e a volta de Cristo”[2]. Os dois segmentos se subdividiram e surgiram toda sorte de interpretações doutrinárias e teológicas. “Outros se voltaram para novas ênfases que acentuavam ensinamentos como lava-pés, dons carismáticos, ósculo santo, o sábado do sétimo dia, sono da alma, o milênio como um evento passado e um número razoável de outros temas”[3].

Muitos crentes se apoiavam na ideia de que tivesse havido uma falha de poucos dias na interpretação profética e criam que o tempo de graça havia se encerrado e que Jesus poderia vir a qualquer momento. Arthur L. White, neto de Ellen White e que por muitos anos foi diretor do White Estate, escreveu: “Por volta do mês de dezembro de 1844, a maior parte dos crentes em Portland não confiava mais na interpretação de Miller. Cada dia que se passava reforçava a convicção de que no dia 22 de outubro não havia ocorrido nada de importância profética”[4].

Uma mensagem para o tempo do fim

É interessante notar que os eventos do movimento milerita estavam dentro de um contexto nacional e até mesmo mundial. Herbert Douglass, reconhecido estudioso da vida e obra de Ellen White, cita, em seu livro Mensageira do Senhor, um parágrafo do historiador Kenneth Latourette acerca do ambiente religioso dos Estados Unidos nessa época. “Seria difícil encontrar na história dos EUA um período que se aproximasse da efervescência religiosa de meados do século dezenove”[5].

Essa declaração amplia o cenário do interesse religioso para uma nação inteira (cerca de 20 milhões de habitantes em 1850[6]) em contraste com os mileritas (perto de 100 mil adeptos[7]), que por muitos foram considerados fanáticos e desequilibrados. Fato é que um senso comum de religiosidade marcou essa época, que passaria a ser conhecido como o “Segundo Grande Despertamento”.

Foi em meio a esse cenário que a compaixão divina se manifestou uma vez mais, como nos tempos bíblicos, para amparar e guiar um pequeno grupo de abalados mileritas, dentre aqueles que criam na volta literal de Jesus e que em pouco tempo se tornariam adventistas sabatistas.

Essa manifestação moderna do dom profético, evidenciada no chamado divino à jovem Ellen Gould Harmon, então com 17 anos, além de estar profetizada, prevista e fundamentada nas Escrituras Sagradas (Apocalipse 12:17, 19:10), constituiu-se em mais uma evidente ação compassiva do Senhor para prover direção e segurança a um grupo que buscava encontrar na Bíblia as razões de seu desapontamento e tristeza.

Porque Deus, uma vez mais, expressou compaixão para com seus filhos enviando mensagens por meio de um profeta, séculos depois da última manifestação profética? É o que será apresentado na segunda e conclusiva parte desse artigo.


Referências:

[1]Night, George R. Adventismo: origem e impacto do movimento milerita. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 215

[2]Idem, p. 208.

[3]Idem, p. 216.

[4]White, Arthur L. Ellen White: mulher de visão. Tatuí, SP: casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 23.

[5]Douglass, Herbert E. Mensageira do Senhor: o ministério profético de Ellen G. White. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001, p. 47.

[6]Idem, p. 46.

[7]White, Arthur L. Ellen White: mulher de visão. Tatuí, SP: casa Publicadora Brasileira, 2015, p. 19.

Helio Carnassale

Helio Carnassale

Mantendo a visão

A importância da manifestação moderna do dom profético

Teólogo, é mestre em Ciência das Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Foi pastor de igrejas e foi Orador da Voz da Profecia. Trabalhou na Casa Publicadora Brasileira, Superbom, Unasp e na sede sul-americana adventista como diretor de Liberdade Religiosa e Espírito de Profecia.