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Coluna | Heron Santana

Igreja, fake news e o triunfo da verdade

Se a tendência da economia da verdade prevalecer, o grande desafio da Igreja será viver a verdade intensamente.


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Com fake news em abundância, a verdade (fato) será o nosso grande ativo – econômico, ético e moral. (Foto: Shutterstock)

Em economia, o valor é definido pela escassez. Quanto mais raro, mais valioso. É a lei da oferta e da demanda, contribuição de Adam Smith para a economia clássica. O princípio vale para além da nossa relação com bens tangíveis. Pense em informação. O economista Herbert Simon deu o conceito do que viria a ser conhecida como “economia da atenção”. Ele descreveu que a riqueza de informação cria pobreza de atenção, e com ela a necessidade de alocar a atenção de maneira eficiente em meio à abundância de fontes de informação disponíveis. [1]

A teoria de Herbert Simon é da década de 1970. Um corte para 2018: em minhas mãos, está o livro “Pós-Verdade – A nova guerra contra os fatos em tempo de fake news”, do jornalista britânico Matthew D’Ancona (Faro Editorial), que estou lendo agora. E, de repente, vem o insight: bem-vindos à economia da verdade. Com fake news em abundância, a verdade será o nosso grande ativo – econômico, ético e moral.

Você pode pensar que esta é uma visão bastante otimista. E de fato é. Eu espero, por questão de fé, que o futuro vai ser melhor do que isso que estamos vendo. Mas falar sobre a verdade como um bem escasso e precioso é falar sobre uma oportunidade missionária para a Igreja. Desde que, claro, ela expresse a verdade. Para além do que ensina. Para além do seu púlpito.

Em 2016, o Dicionário Oxford escolheu “pós-verdade” como a palavra do ano. Referia-se às “circunstâncias nos quais fatos objetivos são menos influentes na formação de opiniões públicas do que o apelo emocional”. Segundo o presidente da Oxford Dictionaries, Casper Grathwohl, a popularidade crescente do termo era resultado do “crescimento das mídias sociais como fonte de notícias e pela crescente falta de confiança nos fatos oferecidos pela mídia estabelecida”. [2]

Uma palavra para definir uma época. E que nos dias atuais se tornou mais comum pela sua variação em inglês: fake news. Para D’Ancona, o fracasso institucional erodiu a primazia da verdade. A isso somou-se uma indústria crescente – e lucrativa – de desinformação. O resultado? A resignação. Escreve D’Ancona: “o que acontece de novo agora não é a desonestidade e a falsidade dos políticos, mas a resposta do público em relação a isso. A indignação dá lugar à indiferença e, finalmente, à conivência. A mentira é considerada regra, não exceção”. [3]

O que vem a seguir: a perda da confiança, raciocina o jornalista britânico. Daí as teorias conspiratórias prosperam, a autoridade da mídia se degenera e as emoções importam mais do que os fatos. Com domínio do fator emocional, debater na divergência torna-se quase uma impossibilidade. Em muitos casos, alguém denuncia como fake news toda informação ou ideia contrárias ao seu pensamento.

Quais as implicações desse cenário para a igreja? Nesse contexto, o Evangelho vai competir para se tornar um “fato”, observou o escritor e professor de jornalismo Tony Watkins. Quem insistir na mensagem de uma verdade absoluta será visto como fundamentalista fanático e sua mensagem será descartada. Sustentar a Bíblia como fonte de autoridade será uma inconveniência.

E esta parece ser a questão esssencial: a igreja não pode preocupar-se em ser conveniente. Não pode aderir a uma agenda politicamente correta se esta é contrária a verdade da Bíblia e a verdade de Cristo. A receita sobre o que fazer vem das Escrituras e também da experiência de vida de Jesus durante sua jornada na terra. Conhecer a verdade nos libertará (João 8:32). Viver a verdade nos dará reputação semelhante a de Cristo (João 8:31).

Se a tendência da economia da verdade prevalecer, o grande desafio da Igreja será viver a verdade intensamente. Ir além do discurso. Ser gentil ao falar do amor cristão. Ser genuína quando manifestar-se sobre o cuidado com as pessoas. Expressar Jesus em seus atos corriqueiros quando declarar-se seu seguidor. Não é uma tarefa simples e exige reflexão. Em tempos de fake news, a expressão “faça o que eu digo, não faça o que eu faço” deixa completamente de fazer sentido. É hora de viver a verdade. E, acredite: ela prevalecerá.


Referências:

[1] Adler, Richard; Firestone, Charles. A Conquista da atenção. A publicidade e as novas formas de comunicação. São Paulo: Nobel, 2002.

[2] Watkins, Tony. Competindo pela verdade dentro da epidemia de “notícias falsas”. Disponível em <https://www.lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2017-07-pt-br/competindo-pela-verdade-dentro-da-epidemia-de-noticias-falsas#post-109650-endnote-3>. Acesso em 23 de julho de 2018.

[3] D’Ancona, Matthew. Pós-verdade. A nova guerra contra os fatos em tempos de fake news. Barueri: Faro Editorial, 2018.

Heron Santana

Heron Santana

Igreja Relevante

Estudos e ações inovadoras que promovem transformações sociais e ajudam a Igreja a ampliar seu relacionamento e interação com a sociedade.

Jornalista, trabalhou na Rádio CBN Recife e na sucursal do Jornal do Commercio. Foi diretor da Rádio Novo Tempo de Nova Odessa, no interior de São Paulo, e hoje está à frente do departamento de Comunicação da Igreja Adventista para os Estados da Bahia e Sergipe.