Treinamento de Liberdade Religiosa discute intolerância à guarda do sábado
O evento discutiu formas de solucionar dificuldades enfrentadas por sabatistas em diversas situações e preparou líderes para promover debates em suas comunidades.
Por Juliana Muniz
“Quando comparado a países onde não se permite a prática de nenhuma fé, o Brasil é um país com baixa intolerância religiosa. Mesmo assim, tomamos conhecimento de diversos casos de intolerância enfrentados por jovens aqui mesmo em nossa região”, explica Lindalva Lobato, líder do ministério de Liberdade Religiosa para o oeste do Paraná. Ela cita casos de adventistas que repetem matérias na faculdade por impossibilidade de frequentar aulas nas sextas-feiras à noite, pessoas que perdem provas e concursos realizados aos sábados. Situações como essas e possíveis soluções foram discutidas durante o primeiro Treinamento para Líderes de Liberdade Religiosa, no último sábado (7).
Participaram do evento 52 líderes indicados por pastores de igrejas e eleitos pela comissão de nomeações. Lobato explica que o treinamento foi um dos primeiros passos, pois cada líder deverá orientar uma base e estruturar ações em sua igreja e comunidade.
Apesar das dificuldades, Samuel Luz, presidente da Associação Brasileira de Liberdade Religiosa e Cidadania (Ablirc), destaca que recentemente essa discussão teve um grande avanço no Brasil, com a mudança de dias do Enem. “Os estudantes sabatistas que prestavam o Enem enfrentavam uma pressão muito grande tendo que aguardar em confinamento o fim do horário sabático para, só após o pôr-do-sol, começar a prova. E essa mudança conquistada em 2016, que determina a realização do Enem em dois domingos consecutivos, beneficia não só os adventistas, como todos os outros guardadores do sábado”, declara.
Para Lobato, essa é a essência da liberdade religiosa, “é nós lutarmos pelo direito de cada um poder utilizar seu livre arbítrio e professar sua fé sem medo e sem barreiras. Ou seja, nós lutamos para que possamos exercer nossos direitos como adventistas do sétimo dia, mas também resguardando o direito do outro”, acredita.
Alécio Espinola, vereador de Cascavel e adventista, afirma que é de extrema importância que os membros da igreja, principalmente os jovens, sejam mais ativos nas discussões sobre liberdade religiosa e participem de fóruns e debates sobre o tema.
Liberdade Religiosa não é Ecumenismo
Discussões sobre Liberdade Religiosa com frequência são vistas com preconceito e levantam argumentos negativos que taxam o assunto com ecumenismo. Luz aponta que essa é uma visão equivocada. “Ecumenismo nada mais é do que a renegociação das crenças, do conteúdo teológico de uma religião, para chegar a um denominador comum”, explica. Ele exemplifica através da hipótese de união entre uma religião sabatista e outra dominical em que ambas abrem mão de seu dia de guarda para observar, por exemplo, a terça-feira.
“Já a liberdade religiosa, apesar de conter a palavra ‘religiosa’, não se vincula a questão religiosa de crença, mas sim à questão do direito do indivíduo ter e praticar sua crença, sua religião”. Ele enfatiza que buscar o apoio de outros grupos religiosos para se obter a liberdade religiosa, não categoriza ecumenismo. “Ainda que no mesmo ambiente estejam presentes pessoas de crenças diferentes, se não houver uma negociação de crenças e cada uma for reconhecida e respeitada naquilo que crê e professa, isso não é ecumenismo”, conclui.
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