Religiosidade fake
Quando a religiosidade é falsa, pouca eficiência tem na vida espiritual. Um desafio para todos nós em tempos onde são muitos os perfis falsos
Não surpreende, mas impressiona constatar, pelo menos com base naquilo que alguns veículos de comunicação divulgam, um mercado obscuro baseado no desejo humano de popularidade a qualquer custo. É o que aparece na superfície, mas certamente há coisas bem piores na profundidade. O fato é que, lendo algumas reportagens, percebo que há um mercado especializado em vender perfis falsificados para celebridades e empresas.
De acordo com o que publicou o The New York Times recentemente, uma investigação jornalística apurou que uma empresa, por exemplo, foi identificada nesse sentido por manter um conjunto de 3,5 milhões de perfis automatizados no Twitter e vendê-los, chegando a proporcionar aos clientes mais de 200 milhões de seguidores nessa rede social. E ao menos 55 mil dessas contas usam nomes, fotos de perfil, lugar de origem e outros detalhes pessoais de usuários reais do Twitter, o que inclui menores de idade. Ou seja, perfis roubados. Mas há várias pessoas que, sem a intenção direta de vender perfis falsos, criam identidades em outras redes sociais (como Facebook) que, em uma avaliação rápida, mostram-se absolutamente mentirosas, falsas, que não combinam com quem aquela pessoa realmente é.
Bem, meu intuito não é o de entrar em pormenores quanto a esse engenhoso sistema criminoso que existe no planeta e que alimenta uma indústria de amor ao próprio ego e avidez por influência no ambiente digital. Quero analisar isso sob o ponto de vista espiritual:
- Por trás de perfis falsos existem vidas falsas
Na escolha do sucessor de Saul, antes de ungir Davi o profeta Samuel passou por alto vários pretendentes, todos filhos de Jessé. Quando observava um deles, chamado Eliabe, o profeta de Deus pensou que esse deveria ser o ungido. Porém Deus, conforme é registrado em I Samuel 16:7, afirmou que Ele vê o coração, ou seja, o íntimo, e não se limita ao exterior.
Perfis falsos são a casca que aparece, a parte exterior. Mas não significam, muitas vezes, como vivem, o que pensam e o que fazem as pessoas por trás desse perfil. Um perfil falso pode ser mantido por muitos anos e até ser vendido por um bom preço. Mas uma vida falsa, espiritualmente falando, não tem valor algum nesse ambiente, porque o Deus retratado pela Bíblia, acessível e interessado em se relacionar com as pessoas, prefere a sinceridade e a transparência. Perfis falsos criados intencionalmente pelas pessoas podem indicar gente com dificuldades em lidar com suas vidas. Todos enfrentam problemas na vida, mas a solução não está em criar uma vida falsa diante dos outros.
- Religiosidade fake é uma religiosidade ineficiente e ineficaz
No livro do profeta Isaías, há muitos trechos de condenação da hipocrisia do povo de Israel, aquele que recebeu de Deus uma mensagem clara para fazer a diferença espiritualmente diante de outras nações. Em Isaías 29:13, Deus desabafa e afirma que “visto que este povo se aproxima de mim e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas o seu coração está longe de mim...”.
Aqui Deus está falando, trazendo para nossa realidade moderna, de religiosidade fake. Sim, esse é um risco enorme dessa geração e das futuras. E o foi nas antigas também. A religiosidade baseada em rituais destituídos de sentido, em palavras e atos vazios, em conhecimento superficial do próprio Deus e falta de amor é ineficiente e ineficaz. Não serve como referência de religião e não preenche o vazio humano. A motivação maior é o egoísmo, o orgulho próprio, o interesse em que o ser humano seja o centro e não Deus.
Nos velhos e nos novos tempos, o problema a ser superado, por cada um, foi e ainda é o mesmo: vencer a barreira da religião baseada unicamente em experiências místicas, sentimentalistas, artificiais, com pouca ou nenhuma base ou consistência e partir para um relacionamento bem estruturado com Deus. Religião fake pode impressionar, ser popular, atrair muitos amigos, “vender”, encher os olhos, produzir uma dúzia de frases bonitas, imagens a ser compartilhadas, vídeos inebriantes, louvores espetaculares, mas não passa disso. É cheia de informação e imagens, mas vazia de sentido.
Não há muito mais a dizer aqui a não ser sugerir que a minha e a sua vida sejam reais, genuínas, exatamente aquilo que Deus vê. Não há necessidade de se viver uma ilusão, como muitos o fazem nas redes sociais. É perda de tempo. Só depende da vida e da religiosidade fake quem não compreendeu a grandiosidade da verdadeira relação com Deus, que tem altos e baixos, dificuldades e momentos agradáveis, perdas e ganhos, mas é totalmente real.