Infectologista tira dúvidas sobre febre amarela
Casos de febre amarela ressurgiram em várias partes do Brasil e exigiram uma resposta rápida governamental com respeito a vacinações e orientações à população
Da Redação
A febre amarela voltou a assustar os brasileiros e a incidência de novos casos preocupa autoridades. A doença foi identificada pela primeira vez em Pernambuco, em 1685, segundo o Ministério da Saúde, onde permaneceu por dez anos. O último registro oficial de ocorrência de febre amarela em área urbana foi em 1942, no Acre. Mas, na zona rural, a história é outra, pois há incidência da chamada febre silvestre, desde então, em vários estados brasileiros. E agora São Paulo e Minas Gerais, principalmente, registram um aumento dos casos em poucos dias. Nessa semana, o governo brasileiro informou que há 35 casos de contaminação por febre amarela (contando de julho de 2017 até agora). Seis desses casos foram registrados nesse ano e, ao todo, 20 pessoas já morreram. Há, no entanto, outros 145 casos ainda sob investigação.
Apesar de não falar oficialmente em surto, o assunto obrigou as autoridades a fazerem alertas e tomarem medidas rápidas para aplicação de vacinas. O infectologista Dorival Duarte, diretor clínico do Hospital Adventista de São Paulo, explica que a infecção do ser humano se dá quando é exposto a ambientes silvestres onde os mosquitos Haemagogus e Sabethes mantêm o ciclo silvestre da doença. Duarte comenta, ainda, que há sempre o risco desses pacientes infectados nos ambientes silvestres se deslocarem para as zonas urbanas onde o mosquito Aedes aegypti tem seu habitat natural. Isso pode fazer com que surja, também, a febre amarela urbana. “O período de incubação é curto, usualmente de 3 a 6 dias após a picada do mosquito, e caracteriza-se por febre, cefaleia (dor de cabeça) e mialgia difusa (dor muscular). O espectro clínico da febre amarela vai desde uma enfermidade febril leve e não específica, autolimitada e sem maiores repercussões, até o de uma doença de extrema gravidade, com icterícia (presença da cor amarela na pele), insuficiência renal e hemorragias diversas como do tubo digestivo, nasais e de gengivas, levando ao óbito até 50% dos infectados”, ressalta.
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Tratamento e vacinação
O infectologista esclarece que não há tratamento antiviral específico disponível, e a prevenção por meio da vacinação é fundamental para a redução das infecções e da mortalidade. Duarte afirma, no entanto, que existem contraindicações para a vacina, que são alergia ao ovo de galinha, pacientes com neoplasias (massas anormais de tecido com crescimento descontrolado) ou sob imunossupressão farmacológica, além de pessoas com infecção avançada pelo HIV. “Nos próximos dias, inicia Brasil o uso da vacina fracionada. Esta modalidade de vacinação não está indicada para crianças de 9 meses a dois anos de idade, pacientes com câncer, HIV/AIDS, e mulheres grávidas. Efetivamente, mulheres grávidas que recebem a vacina na dose normal no último trimestre da gravidez, 39% produzirão anticorpos, quando comparado com mais de 95% na população geral”, alerta.
A avaliação do especialista é a de que se entende, nos meios médicos, que a imunidade induzida pela vacina seja provavelmente permanente, por isso não mais se recomenda a uma nova vacinação a cada dez anos. A exceção é para alguns outros grupos específicos. São recomendadas doses adicionais de vacina contra a febre amarela para certas populações (por exemplo, mulheres grávidas, receptores de transplante de células hematopoiéticas e pessoas infectadas pelo HIV) que podem não ter uma resposta imune robusta ou sustentada à vacina da febre amarela em comparação com outros receptores. Além disso, podem ser administradas doses adicionais a certos grupos que se acredita estarem em risco aumentado de contrair a infecção, como por exemplo os trabalhadores de laboratórios que manipulam amostras com o vírus. Duarte afirma que os efeitos secundários graves são raríssimos de acontecer com a vacina, que utiliza vírus vivos atenuados.
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