União que enfraquece
O movimento ecumênico está interessado na verdade bíblica? Compreenda
Por Wilson Borba
Com a presença do papa Francisco, a Igreja Católica Romana e a Federação Luterana Mundial realizaram uma importante comemoração ecumênica no dia 31 de outubro de 2016, em Lund, Suécia.[1] Entre os temas mais relevantes estava a celebração do 500º aniversário da Reforma Protestante, que acontece na mesma data em 2017.[2] Mas o que ocorreu em 31 de outubro de 1517?
O início do Protestantismo. Martinho Lutero afixou nas portas da capela de Wittemberg, na Alemanha, 95 teses que versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela fé.[3] Essencialmente, a Reforma Protestante resultou do choque entre o princípio Sola Scriptura defendido pelos reformadores, e a tradição eclesiástica da Igreja Romana. Para os reformadores e os antigos protestantes, somente a Bíblia é a suprema regra de fé e prática, pois a Palavra de Deus está acima de todos os concílios.[4]
Mas, paradoxalmente, ao final do período de 500 anos marcado por horríveis perseguições, os dois inimigos históricos amigavelmente reuniram-se em comemoração. Para comemorar o quê? A vitória da caminhada ecumênica e da reconciliação entre católicos e “protestantes”.[5] O ecumenismo moderno surgiu em 1948 entre os protestantes.[6] Logo, em junho de 1959, o papa João XXIII, em sua primeira encíclica, “As Petri Cathedram”, indicava a necessidade de uma “adaptação” ou aggiornamento às necessidades do tempo atual.[7]
A seguir, em dezembro de 1961, pela bula “Humanae Salutis”[8], João XXIII convocou o concílio ecumênico Vaticano II, e o inaugurou em outubro do ano seguinte. O papa Paulo VI deu continuidade ao mesmo concílio, e em novembro de 1964 assinou o decreto “Unitatis Redintegratio”, para que: “superados todos os obstáculos… todos os cristãos se congreguem em uma única celebração da eucaristia, em ordem na unidade de uma única igreja desde um principio.”[9] Assim, a Igreja Católica comprometeu-se de modo irreversível com o ecumenismo.[10] Mas, essencialmente, aquele concílio nada mudou. Apenas promoveu uma aparência nova à Igreja Romana.
O papa Paulo VI admitiu que o concílio Vaticano II “[…] não foi diretamente dogmático, mas doutrinal e pastoral”.[11] Os dogmas tenebrosos permaneceram. Velhos erros e pretensões não foram abandonados. Ao contrário de Roma, tragicamente quem mudou foram os protestantes, pois, tornaram-se liberais, abandonando o princípio Sola Scriptura, e sua anterior fidelidade à Bíblia. Segundo Gulley, “Ambos os lados perceberam que seu inimigo comum (o secularismo) não poderia ser enfrentado por um cristianismo dividido”.[12] A antiga ênfase de católicos e protestantes nas coisas que lhes separavam foi substituída pelas que lhes unem.
O movimento ecumênico não está interessado na verdade bíblica, pois: “[…] ignora as 95 teses que levaram Lutero a romper com o papado (crenças as quais o Vaticano ainda defende)”.[13] Sua agenda não é o Evangelho eterno, não é o sacrifício único, todo suficiente e expiatório de Cristo. Não é a sua mediação e intercessão contínua no Santuário celestial, não é a guarda dos mandamentos de Deus, nem a santificação do Sábado do quarto mandamento. Não é a verdade, mas a unidade. Não é a questão soteriológica, mas a social. Os dois lados são indesculpáveis, pois deveriam saber que a melhor arma contra o secularismo não é a unidade, mas a verdade. A referida comemoração foi uma “declaração de falência” do protestantismo histórico, e uma rebelião contra Deus e sua Lei, simbolizada em Apocalipse 17 pela mulher chamada Babilônia. Este nome provém de Babel e significa “grande confusão”.
Assim, como os edificadores da antiga torre de Babel desencaminharam “toda a terra habitada” (ver Gênesis 11:1-9), esta atual apostasia também será um laço para “aqueles que habitam sobre a terra” (Apocalipse 17:8). Que estejamos longe dessa comemoração, atendendo fielmente ao solene apelo: “Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos” (Apocalipse 18:4).
Referências:
[1]O termo “ecumenismo”, do grego οικουµενε (oikouméne), significa “toda a terra habitada”.
[2]“Luteranos preparam-se para comemorar os 500 anos da reforma”, http://br.radiovaticana.va/news%20/2016/06/06/luteranos_preparam-se_para_celebrar_os_500_anos_da_reforma/1235248.
[3]J. H. Merle D’aubigné, História da reforma do XVI século, 1: 264-276.
[4]Ellen G. White, O grande conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), 166.
[5]Del conflicto a la comunión: conmemoración conjunta luterano-católico romana de la reforma en 2017 (Maliaño, ES: Editorial Sal Terrae, 2013).
[6]González, Diccionario manual teológico, 93-94.
[7]‘Aggiornamento’, otro deseo de Juan XXIII para el Concílio’ (2014), http://pt.radio vaticana.va/news/2014/04/16/aggiornamento,_outro_desejo_de_jo%C3%A3o_xxiii_para_o_conc%C3%ADlio/bra-791487.
[8]Papa João XXIII, “Humanae Salutis”, http://www.vatican. Va /holy_father /john_xxiii/ apost_constitutions/documents/hf_j-xxiii_apc_ 19611225_ humanae-salutis_po.html.
[9]Papa Paulo VI, “Decreto Unitatis Redintegratio” (1964), http: //www.vatican.va/ archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_decree _19641121_unitatis-redintegratio_po.html.
[10]Papa João Paulo II, “Carta Encíclica Ut Unum Sint” (1995), http://www.vatican.va/ho ly_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_25051995_ut-unum-sint_sp.h tml.
[11]Michael Davis. El concilio del papa juan (Buenos Aires: Editorial ICTION, 1981), 2:16. Veja: http://www.statveritas.com.ar/
[12]Norman R. Gulley, Systematic Theology, (Berrien Springs, MI: Andrews University Press), 750, 751.
[13]Michelson Borges, “Papa diz que proselitismo é veneno contra ecumenismo”, em Criacionismo, http://www.criacionismo.com.br/2016/10/papa-diz-que-evangelizacao-e-veneno.html.
Wilson Borba é pastor, professor e dirige o Seminário Adventista Latino-Americano de Teologia (Salt) da Faculdade Adventista da Amazônia (Faama).