Projeto social ajuda mulheres escalpeladas em ilhas do Pará
Aproximadamente 37 voluntárias participaram da iniciativa e doaram mais de 12 metros de cabelo para as mulheres que foram escalpeladas na região
Cametá, PA… [ASN] “Um dia saí de casa para ir para escola. Como moro em comunidade ribeirinha tive de atravessar o rio para isso. Essa era a minha rotina, estava acostumada, mas esse dia mudaria a minha vida. Sentei próximo ao motor, como de costume, o vento batia nos cabelos e via o dia amanhecendo no horizonte. Mas, a calmaria acabou, o meu cabelo foi envolvido pelo motor sem proteção e lutar contra a força do motor me parecia impossível apesar das tentativas. Quanto notaram o que tinha acontecido já era tarde demais, o meu cabelo tinha ido embora, meu coro cabeludo ficou exposto e tinha apenas um rastro de sangue para contar a história”.
Esse é o relato de Ana que, assim como muitas mulheres na Amazônia viveu o pesadelo do escalpelamento, ou seja, a perda abrupta dos cabelos. O município com maiores índices do acidente no Pará é Cametá, que em 2016 apresentou oito casos, segundo a ONG dos Ribeirinhos Vítimas de Acidentes de Motor (ORVAM). Ciente desses números, a Igreja Adventista do Sétimo Dia na cidade de Cametá desenvolveu um projeto para incentivar as doações de cabelos a essas vítimas. A Associação de Mulheres Ribeirinhas Vítimas de Escalpelamento na Amazônia divulgou, em março deste ano, o registro de que, desde 2007, ocorreram 140 casos de escalpelamento em rios do Amapá e de ilhas ribeirinhas do Norte do Pará.
A iniciativa de auxiliar essas pessoas foi articulada por Aline Rodrigues, esposa do pastor Joel Rodrigues, responsável pelo distrito. “Decidimos aproveitar o outubro rosa para atentar para outra necessidade local, além da prevenção do câncer de mama, que é a ajuda às mulheres escalpeladas. Divulgamos sobre a importância da iniciativa e conseguimos uma parceria com o salão da cidade, que cortou o cabelo das mulheres gratuitamente. ”
A divulgação aconteceu na igreja e fora dela e, no total, mais de 37 mulheres fizeram doações. Dentre elas está a pequena Melissa Leão, de 7 anos, que descobriu sobre o projeto no clube dos aventureiros realizado pela Igreja e não só decidiu doar os cabelos, mas convenceu a mãe a fazer o mesmo. “Foi inacreditável a experiência que vivi com a minha filha ao fazer essa doação. Nunca imaginei que podia ajudar outras mulheres doando apenas o meu cabelo", disse Bruna Leão, mãe de Melissa. À medida em que o projeto se tornou conhecido por outras mulheres, as adesões a ele aconteceram até pela internet, como foi o caso de Vitória Leão, que conheceu o projeto pelas redes sociais e resolveu também abraçar a causa e doar os seus cabelos.
No total, mais de 12 metros de cabelo foram doados, e permitirão a criação de cerca de nove perucas. As doações foram entregues à Darcilea Lima, diretora da ORVAM. A ONG existe desde 2011 e atende cerca de 130 mulheres vítimas do escalpelamento. Darcilea afirma que qualquer pessoa pode doar os cabelos para a ONG, basta que as mechas tenham mais de 30 centímetros. As doações podem ser entregues na sede da ONG em Belém (Avenida João Paulo II, lote 134, bairro Castanheira) ou serem enviadas pelo correio para o mesmo endereço.
Para o pastor Joel Rodrigues este foi não só um ato de cidadania, mas de amor ao próximo. “Esse projeto mostrou a união entre a igreja e a sociedade. Precisamos sair da igreja e ajudar quem precisa, isso é compartilhar o amor de Cristo e viver o que ele nos ensinou”, finalizou. [Equipe ASN, Juliana Lima]