Terraplanismo: a insanidade ganha a mídia
O que é o terraplanismo e será que o criacionismo bíblico ampara essa ideia? Vale a pena ler esse artigo e a posição da Sociedade Criacionista Brasileira
Eles tanto fizeram que conseguiram. Sim, os terraplanistas brasileiros finalmente atraíram a atenção da grande imprensa e se tornaram visíveis para além do mundo do Youtube e do Facebook. No dia 16 de setembro, a BBC Brasil publicou uma reportagem sobre essas pessoas que em pleno século 21 defendem a tese de que a Terra seria plana, com uma muralha de gelo na borda do disco e um domo sólido sobre nossa cabeça, dentro do qual estariam o Sol e a Lua, bem menores que o planeta. Além disso, a gravidade é uma ilusão e a Nasa existe apenas para alimentar a “farsa” da Terra redonda e gastar bilhões de dólares para manter as pessoas na mentira globalista.
Todo mundo é livre para divulgar o que quiser e como quiser. Os terraplanistas idem. Cabe aos consumidores desses conteúdos ter maturidade e desconfiômetro para analisar as teses conspiracionistas sem fundamento e concluir que se trata de perda de tempo ficar ligado nessas coisas. Mas o maior problema com os defensores da Terra plana é sua associação com o cristianismo bíblico e com o criacionismo, algo que a matéria da BBC destacou:
“Ao lado da Nasa e de outras agências espaciais, as escolas e a mídia são frequentemente apontadas pelos terraplanistas como perpetuadores da ‘farsa’ sobre o globo. Grandes nomes da ciência como Einstein, Copérnico e Newton chegam a ser chamados de ‘mentirosos’ e terem suas imagens expostas em memes. Enquanto isso, referências ao filme Matrix servem para valorizar o discurso dos terraplanistas. [...] Parte significativa dos terraplanistas é criacionista (negam a teoria da evolução proposta por Darwin e explicam a origem do planeta e dos homens como criação divina). Acreditam na Bíblia e em escrituras antigas, sem seguir uma religião específica.”
Assim, os terraplanistas conseguiram em muito menos tempo fazer o que os evolucionistas ateus têm tentado há décadas: associar o criacionismo a ideias absurdas e insustentáveis. Estão conseguindo fazer com que os desavisados encarem a Bíblia como um livro terraplanista, afastando ainda mais os seres pensantes. Exatamente do jeito que o diabo quer. Não conheço um criacionista sério que defenda essa insanidade. A Sociedade Criacionista Brasileira, entidade reconhecida por suas pesquisas e publicações respeitadas, com uma história de quase meio século em nosso país (da qual faço parte como membro fundador), é frontalmente contrária a qualquer ideia terraplanista. Meu blog www.criacionismo.com.br, que há mais de dez anos vem defendendo a estrutura conceitual criacionista, igualmente repudia o terraplanismo. Finalmente, é bom que se diga que o principal nome desse movimento defensor da Terra plana é, na verdade, um evolucionista. Parece realmente o tipo de coisa feita propositalmente para denegrir a reputação dos criacionistas, como já aconteceu no passado.
A fim de desfazer qualquer mal-entendido, a SCB emitiu a seguinte nota de esclarecimento:
“A Sociedade Criacionista Brasileira (SCB) tem sido citada por pessoas descompromissadas com a busca imparcial da verdade como uma das entidades que estariam defendendo a tese de que o planeta Terra, ao contrário de ter um formato esférico, teria forma plana. Nada mais falso. Essa inverdade certamente vem sendo divulgada com intenções indesculpáveis de denegrir a posição séria e apoiada em evidências com sólido embasamento científico que a SCB tem defendido no decorrer de seus 45 anos de atividades de divulgação das teses criacionistas em oposição às evolucionistas, no contexto da controvérsia entre as duas estruturas conceituais que partem de diferentes pressupostos para a interpretação da natureza na qual estamos inseridos.
Bastaria citar, a respeito da questão da ‘Terra plana’, o fato de que, ainda no século passado, foi a SCB que se encarregou das medidas iniciais para a publicação do livro Inventando a Terra Plana, de autoria de Jefrey Burton Russel, preparando a tradução para o Português e conseguindo a publicação pela Editora da Universidade de Santo Amaro, sediada na capital paulista. Esse livro resgata a história do surgimento e da propagação do erro sobre a forma geométrica da Terra, esclarecendo a verdadeira causa desse processo: denegrir o Cristianismo e a Bíblia e afirmar que a ignorância e o obscurantismo medievais teriam sido responsáveis pelo modelo de uma Terra plana.
Mais recentemente, em 2016, a SCB publicou o livro Tempo Astronômico, Histórico e Profético, em três partes, das quais as duas primeiras expõem com clareza a verdadeira questão da Terra plana com os subtítulos ‘A esfericidade da Terra – Da revelação bíblica aos nossos tempos’ e ‘A geometria do sistema Sol-Terra-Lua’, este último destacando as ‘Inferências de filósofos gregos há mais de 22 séculos sobre diâmetros e distâncias’, e esclarecendo que, mesmo antes dos filósofos gregos, os próprios textos bíblicos já deixavam transparecer o fato de que nosso planeta tem o formato esférico.
Tudo indica que o envolvimento do nome da SCB como entidade ‘retrógrada’, ‘ignorante’ e ‘obscurantista’ que, em pleno século 21, estaria defendendo a causa de uma Terra plana tem objetivo semelhante ao descrito por Russel em seu livro. “\Por essas razões, a SCB repudia com veemência qualquer envolvimento que lhe imputem como defensora de teses espúrias sem qualquer apoio em textos bíblicos e muito menos em evidências verdadeiramente científicas.”
Em tempo: se para um cristão bíblico amante da verdadeira ciência ser terraplanista seria um tremendo contrassenso, para um adventista do sétimo dia a coisa ficaria ainda mais complicada, afinal, a escritora inspirada Ellen White escreveu coisas como estas:
“Deus qualificou Seu povo para iluminar o mundo. Ele os dotou de faculdades por meio das quais devem eles estender a Sua obra até que ela circunde o globo” (Conselhos Sobre Saúde, 115).
“Assim como os raios do Sol penetram até aos mais remotos recantos do globo, assim é desígnio de Deus que a luz do evangelho alcance a toda pessoa da superfície da Terra” (O Maior Discurso de Cristo, p. 42).
Em duas ocasiões Ellen White disse ter se encontrado com adventistas que defendiam a teoria da Terra plana. Ela não entrou em debates sobre o formato da Terra, mas tentou mostrar como essa questão era insignificante diante da mensagem bíblica a ser anunciada pelos adventistas: “Quando uma vez certo irmão se chegou a mim com a mensagem de que o mundo é plano, fui instruída a apresentar a comissão que Cristo deu aos discípulos: ‘Ide, ensinai todas as nações, [...] e eis que Eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos’ (Mateus 28:19, 20). Quanto a assuntos como a teoria de que o mundo é plano, Deus diz a toda alma: ‘Que te importa? Quanto a ti, segue-Me [João 21:22]. Tenho-lhes dado sua comissão. Insistam sobre as grandes verdades para este tempo, não sobre assuntos que não têm relação com nossa obra’” (Obreiros Evangélicos, p. 314).
Em 1887 e em 1904, Ellen White escreveu duas cartas a respeito de adventistas que defendiam, nas palavras dela, a “teoria do mundo plano”. Os textos podem ser lidos no livro Manuscript Releases, v. 21, páginas 412-415 (inédito em português).
Mas essas declarações não significam que Ellen White não tivesse uma posição definida sobre o assunto. Em 1900, ela escreveu: “Deus fez o Seu sábado para um mundo esférico; e, quando o sétimo dia chega para nós neste mundo arredondado, controlado pelo Sol, que governa o dia, em todos os países e regiões é o tempo para observar o sábado. [...] O sábado foi feito para um mundo esférico, sendo, portanto, requerida obediência das pessoas em perfeita harmonia com o mundo criado pelo Senhor” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 317).
Que o verdadeiro criacionismo, embasado em uma hermenêutica bíblica responsável e na verdadeira ciência, continue sendo divulgado sem ser prejudicado por indivíduos e organizações que querem mesmo é conquistar seguidores e “causar” nas redes sociais, mais confundindo do que esclarecendo.
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