A ousada comunicação do movimento adventista
O movimento adventista foi muito mais inovador sob o ponto de vista comunicacional e nos ensina muitos
“E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa”. Mateus 5:15
Esse texto é emblemático, foi proferido por Jesus e diz respeito ao papel do cristão no sentido de iluminar o mundo. Vale para cada um individualmente e, claro, vale para a igreja como o corpo de cristãos. Ou seja, ser luz é, na concepção de Cristo, não se esconder e permitir que o brilho possa beneficiar alguém. Em palavras mais simples, é fazer com que a mensagem seja compartilhada, apresentada, compreendida e vista por muitos.
É isso que move as organizações hoje, sejam empresas, fundações, governos, igrejas, partidos políticos. Não importa. Todos querem que sua mensagem, seu discurso, torne-se assimilado pelo maior número possível de pessoas ou, então, por públicos bem específicos.
Na história temos um bom case de sucesso em fazer com que uma mensagem se tornasse amplamente conhecida em um relativo curto espaço de tempo. O trabalho realizado no movimento adventista ou milerita, no século XIX, nos Estados Unidos sobretudo, tem muito a nos ensinar. Extraí algumas orientações muito valiosas do trabalho realizado lá por gente como Joshua Himes, Guilherme Miller e vários outros. Não entro aqui no mérito da mensagem em si, pois sabemos que os estudos que eles fizeram apontavam a volta de Jesus para os anos de 1843 e depois 1844, o que obviamente não ocorreu. Mas peço que você se concentre, agora, na forma como eles apaixonadamente fizeram com que essa mensagem chegasse a milhões de pessoas.
- Eles não apenas tinham uma mensagem para dar. Eles viviam totalmente essa mensagem. Isso faz toda a diferença. É verdade que os Estados Unidos respiravam, naquele período, o que os historiadores chamam de um grande reavivamento religioso e, portanto, o ambiente era propício para discutir questões bíblicas, e inclusive o conceito de milenarismo novamente, mas o caráter e a firmeza de quem pretendia difundir a mensagem foram fundamentais. Ellen White, no livro O Grande Conflito, menciona Guilherme Miller com as seguintes palavras: “Guilherme Miller e seus companheiros haviam procurado despertar os que professavam a religião para a verdadeira esperança da igreja e para sua necessidade de uma experiência cristã mais profunda. Trabalharam, também, para despertar os não-conversos à necessidade de arrependimento e conversão”.[1] Havia, entre os precursores adventistas, um desejo muito grande de ver essa mensagem espalhada. Não era algo comunicado por interesses financeiros, vaidade pessoal ou por vingança. Pelo contrário, Miller pagou do bolso para ser um pregador itinerante na época. Ele queria salvar pessoas.
Lição comunicacional: a mensagem que queremos comunicar, como indivíduos ou organização, precisa ser totalmente vivida e defendida por nós como algo que realmente é útil e importante para os outros. Tem de ser algo genuíno e não artificialmente produzido para comunicar.
- A mensagem do advento não era apenas pregada ou divulgada, mas virava objeto de debates e discussões. É muito interessante pensar que, no começo, as pregações de Miller em igrejas evangélicas era o principal meio de difusão da mensagem de que Jesus iria voltar logo. E, nas congregações onde ele ia, as pessoas não apenas se limitavam a consumir aquele conteúdo; porém, elas discutiam, debatiam, aquilo se tornava objeto de reflexão muito mais profunda do que normalmente pensamos. Muitos eram impressionados com o que ouviam e mudavam sua forma de pensar. Alguns, claro, criticavam e até se insurgiam contra o movimento. O público-alvo reagia à mensagem e isso fazia com que ela tivesse real importância. “Tão importante quanto o fato de que Miller provocava um reavivamento nas comunidades era que os reavivamentos continuavam após sua partida”. [2]
Lição comunicacional: mensagem relevante comunicada é a que, de alguma forma, permite ou provoca reação no público e não apenas informa dados. Pressupõe discussões e, consequentemente, mudança de visões.
3. Foram usadas as metodologias mais inovadoras e avançadas da época para que a mensagem fosse comunicada com eficiência. Ao contrário de algumas organizações hoje, que se sentem amedrontadas diante das tecnologias existentes que podem potencializar o alcance e eficiência da mensagem comunicada, o movimento adventista era ousado e inovador. Sob a coordenação do pastor/relações-públicas do movimento, Joshua Himes, eles empregaram tudo o que era lícito, adequado aos públicos e capaz de dar velocidade à propagação da mensagem. Uma ideia que Himes teve foi a de criar periódicos sazonais sobre o conteúdo da mensagem adventista para distribuir de acordo com as reuniões de reavivamentos mileritas. Esses materiais tinham duração determinada de dias ou meses apenas e depois sumiam, o que permitia que pudessem ter “a cara” local e chamar mais a atenção. “O primeiro e mais bem-sucedido desses periódicos temporários foi fundado em Nova York. Seu propósito era apoiar as iniciativas do movimento naquela cidade e apresentar os principais argumentos mileritas ao público de uma forma barata e popular. A publicação se chamava The Midnight Cry (O Clamor da Meia-Noite)”. [3]
E veja só que interessante! Himes adotou, conforme o uso de outros movimentos da época, agentes de venda para aumentar o número de assinantes. “Essas pessoas geralmente representavam simultaneamente várias organizações e publicações. Elas viajavam de lugar em lugar vendendo assinaturas”.[4] Parece hoje algo óbvio, mas era uma inovação nos séculos passados.
Em resumo, compreenda que a comunicação eficiente da mensagem tem muito mais a ver com estratégia do que se pensa. Resumo de tudo: viva a mensagem, faça com que o conteúdo interaja com seus públicos e inove sempre.
A ousadia do passado precisa nos inspirar!
[1] White, Ellen. O Grande Conflito, versão condensada, p. 168.
[2] Knight, George. Adventismo – Origem e impacto do movimento milerita, p. 59.
[3] Idem, p. 73
[4] Ibidem, p. 72