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Coluna | Neila Oliveira

Despedida e encontro

Uma história de despedida, troca de livros e da oportunidade de exaltar Cristo para jovens


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Foto: Shutterstock

Não devemos perder nenhuma oportunidade de falar aos jovens sobre os planos de Deus para a vida deles

Assim que terminei de apresentar minha parte no congresso de adolescentes, precisei me apressar para pegar minhas coisas, pois alguém já estava esperando para me levar ao aeroporto. Porém, quando aquela garota se aproximou, sorridente, percebi que tinha algo importante para dizer e que valeria a pena ouvir. Muito espontânea, apresentou-se e me pediu uns minutinhos para contar algo que havia acontecido recentemente e que tinha ligação com o assunto da palestra.

“Sempre gostei de ler”, ela disse com os olhos brilhantes, “especialmente livros com muitas páginas... Acho desafiador!” Em seguida, passou a falar da série sobre “mitologia” (com seus personagens adolescentes meio-sangues, ou semideuses, e as aventuras cheias de monstros, superpoderes e magia) que a fisgou desde o primeiro volume. “Não havia me dado conta da influência que aqueles livros estavam exercendo sobre mim. E não me lembro exatamente quando comecei a apresentar mudanças em meu comportamento e em meu modo de falar. O relacionamento com meus pais, que até então tinha sido bom, e a comunicação sempre aberta, de uma hora para outra se tornaram péssimos. Não tinha vontade de obedecer às ordens deles e comecei a achar suas ‘exigências’ sem fundamento. Na escola, minha linguagem também mudou. O nome de Deus praticamente saiu do meu vocabulário. Se tivesse que falar alguma coisa relacionada a Ele, preferia usar ‘Zeus’. Parecia que eu estava vivendo outra vida. A fantasia se mostrou muito mais interessante do que a realidade. Continuava frequentando a igreja, mas percebia que era só para tranquilizar minha consciência e agradar meus pais.”

Eu já estava curiosa para saber o que a havia despertado, quando ela disse: “Não sei dizer exatamente o que aconteceu. Só me lembro de que, ao pegar em minhas mãos o próximo livro que eu iria ler da série e que tinha a palavra ‘Hades’ no título, me senti muito mal. Foi como se, de repente, tivesse caído a ficha. Eu conhecia o significado da palavra grega ‘hades’ na Bíblia e sabia que não devia estar envolvida com coisas que faziam alusão ao ‘mundo dos mortos’. Me perguntei: ‘O que estou fazendo?’ Naquele mesmo momento, clamei a Deus. Sem pensar muito, peguei os sete livros que eu tinha da série, e coloquei fogo!”

Era surpreendente a serenidade dela ao contar isso. Havia alívio e paz em seu rosto. “Daquele dia em diante, voltei a estudar minha Bíblia e a lição. O relacionamento com meus pais e amigos começou a melhorar significativamente e meu rendimento escolar mostrou quanto tempo e energia desperdicei, colocando em risco até mesmo meu futuro acadêmico e profissional.”

O que dizer para uma jovem com tanta lucidez? Com os olhos marejados, a abracei e lhe disse que ela havia feito a melhor escolha ao entregar “em sacrifício” aquilo que a estava afastando de Deus. E que ela havia aberto a porta para que os planos de Deus se cumprissem na vida dela. Anotei seu nome e prometi que iria orar para que se mantivesse firme em seu propósito de estar mais perto de Deus. Então nos abraçamos e nos despedimos.

Proposta de troca

Assim que entrei no carro, o motorista mencionou que outras duas pessoas iriam aproveitar a carona. Eram mãe e filho, que moravam em uma cidade próxima do aeroporto, e que também haviam participado do congresso. Ainda estava tão impressionada com a experiência da garota que não consegui me conter. Comecei a contar o ocorrido. Minha voz demonstrava toda a minha empolgação. O rapaz me ouvia em silêncio. Percebi um leve sorriso de simpatia em seu rosto. Talvez o coração da mãe tenha sentido que era hora de aproveitar a oportunidade e se abrir. Falou da importância de os jovens se conscientizarem dos perigos à sua volta. Em seguida, com voz tímida disse ao filho: “Por que não mostra pra ela o livro que você está lendo?”

Lentamente ele abriu a mochila e me estendeu o livro. Arregalei os olhos. Era sobre vampiros! Estávamos a mais de uma hora de distância do aeroporto e tivemos bastante tempo para conversar no caminho. Ele tinha a idade do meu filho mais velho e meu coração ficou sensibilizado ao ouvir dos seus sonhos e também de sua indecisão quanto ao curso que deveria ingressar. Enquanto orava silenciosamente, senti que devia lhe fazer uma proposta. Eu iria mandar um livro para ele, pelo correio, para que substituísse aquele que ele estava lendo. Deus tinha maravilhosos planos para a vida dele e não valia a pena comprometê-los com coisas que o afastavam dos caminhos do Senhor.

O sorriso tímido se tornou confiante. Ele aceitou na hora! Discretamente, lágrimas escorreram dos olhos da mãe. É possível que suas orações também estivessem sendo atendidas. A conversa foi tão agradável que a viagem passou rápido. Em menos de duas horas, passei por uma despedida e um encontro com dois jovens que marcaram minha experiência.

Desde então, tenho orado pela garota e pelo rapaz, bem como por muitos adolescentes e jovens com quem tenho entrado em contato. Tenho pedido a Deus para me ajudar a estar disponível e não perder as oportunidades que Ele colocar diante de mim. Há uma grande obra a ser feita e os jovens têm o potencial para cumpri-la da melhor maneira possível para o Senhor. Precisamos ser sensíveis e entender as dificuldades e desafios que eles enfrentam. Afinal, podemos ser os instrumentos para ajudá-los a focalizar o que é verdadeiramente importante e enxergar o que podem se tornar quando se colocarem à disposição do Mestre.

Exército em potencial

Ellen White dedicou boa parte de seu ministério a ajudar e orientar os jovens. Era comum recebê-los em sua casa. Ela reconhecia o potencial deles e procurava demonstrar o mesmo carinho e confiança que o Senhor mostrou a ela quando a chamou para ser Sua mensageira aos 17 anos de idade. Em um dos seus textos mais notáveis a respeito dos jovens, ela escreveu: “Com tal exército de obreiros como o que poderia fornecer a nossa juventude devidamente preparada, quão depressa a mensagem de um Salvador crucificado, ressuscitado e prestes a vir poderia ser levada ao mundo todo!” (Educação, página 271).

Pouco antes de sua morte, Ellen teve uma última visão, que dizia respeito exatamente aos jovens. Em tom de urgência, ela disse ao seu filho William: “Não espero viver muito. Minha obra está quase concluída. Diga aos nossos jovens que eu quero que minhas palavras os animem naquela maneira de viver que mais atrativa será aos seres celestes, e que sua influência sobre os outros seja enobrecedora” (Mensageira do Senhor, página 72).

Meu convite é que você pense no que pode fazer pelos jovens com quem convive, e aproveite todas as oportunidades de ajudar e incentivar a estes e também àqueles que Deus colocar em Seu caminho, seja em uma breve despedida ou em um encontro casual rumo ao aeroporto.

Neila Oliveira

Neila Oliveira

Geração Escolhida

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Licenciada e pós-graduada em Letras, trabalha na redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB) há mais de 30 anos. É autora de livros infanto-juvenis e coordenadora editorial da Lição da Escola Sabatina dos adolescentes.