Atleta profissional usa o esporte para falar de Deus
Dentro e fora das quadras, Wagner Oliveira aproveita todas as oportunidades para falar do amor de Deus
Por Vanessa Arba
“Eu fico inventando, mais do que Santos Dumont, maneiras de falar de Deus para as pessoas numa linguagem que elas entendam.” As palavras da Wagner Oliveira, de Goiânia, em Goiás, resumem bem o seu dia a dia como evangelista. Professora de Educação Física aposentada, hoje, com 69 anos de idade, ela ainda usa o esporte como meio de aproximar-se das pessoas para apresentar-lhes a Bíblia.
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Wagner atua, durante a semana, num projeto social em parceria com a Secretaria do Esporte de Goiânia, como professora de uma escolinha de iniciação esportiva para meninos carentes. Há quase 20 anos neste trabalho, nenhuma aula começa sem um culto a Deus. “É tudo na linguagem deles”, diz ela. “A gente tem uma meditação que sempre conta a história de vida de algum atleta, e depois vem a aplicação espiritual. Às vezes os pais que vêm trazer os filhos também participam do culto. É bem legal!”
Sem muita tecnologia e recursos, o bom humor e o relacionamento são a marca registrada do trabalho de “da roça”, como é carinhosamente conhecida pelos alunos. Nos fins de semana, ela aproveita para fazer um trabalho parecido com outro grupo. Atravessa a cidade e vai até a igreja adventista do Porto Seguro para jogar basquete com as crianças daquela região. Em suas palavras, “a meninada não está tão interessada em igreja", e a maneira que encontrou de atraí-las é organizando partidas de basquete, precedidas sempre por um momento de estudo da Bíblia.
Basquete é a verdadeira paixão da Wagner, que, inclusive, tem uma carreira vasta no esporte. Jogou pela Seleção Brasileira na categoria Master em campeonatos no Peru, Chile, Croácia, República Checa, Polônia, Grécia, etc. No Brasil, coleciona uma série de torneios estaduais e regionais, representando diversas equipes. E a missão de evangelizar também a acompanha como jogadora. Ela conta que gosta de passar um tempo numa equipe, fazer um trabalho de evangelismo ali e, então, ir para outro time. “Jogo porque amo, mas sem perder o foco missionário, porque foi para isso que Deus me chamou!”, enfatiza.
Cristianismo prático
Segundo a atleta, o trabalho com os jogadores das seleções exige algumas estratégias mais elaboradas. “Eles são um pessoal mais difícil de alcançar. Não dá pra só chegar e falar de Deus. A gente tem que fazer amizade, ganhar a confiança deles”, explica. “Se você for a uma quadra de basquete em época de campeonato e perguntar sobre ‘da roça’, todo mundo vai dar notícias de mim. São muitos amigos, e praticamente todos já receberam algum DVD missionário ou um curso bíblico. Eu não viajo sem material”. Mesmo no dia a dia, aonde vai, leva a sua ‘bolsinha missionária’, como gosta de chamar. Ali ela carrega os mesmos materiais que distribui nas quadras. “Nunca sei com quem vou me encontrar, então tenho que estar preparada, né?”
O ápice do trabalho de todos os anos é sempre o Encontro de Amigos, que acontece numa igreja adventista. Num clima de descontração, com cantores e pastores convidados, as crianças e os jogadores que a Wagner acompanhou durante os 12 meses se familiarizam com a comunidade cristã. Também não pode faltar o almoço, a entrega de um kit com Bíblia e outras lembrancinhas e, claro, um festival de basquete para encerrar o momento. O acompanhamento e a aproximação do grupo com a Igreja é o que, de fato, fixa o conhecimento adquirido nos estudos bíblicos. Wagner valoriza muito o trabalho de discipulado antes mesmo do batismo. “Eu quero que eles entrem na Igreja com a paixão pela missão. E vemos o resultado: quase todos esses com quem eu trabalhei hoje são evangelistas e têm a mesma paixão que eu tenho”, comemora.
Para chegar aos 68 anos com vitalidade, disposição e foco definido, Wagner considera essenciais o cuidado com a saúde e a alegria constante. “Eu falo que tenho quase 70 anos pra ir me acostumando, porque, na minha cabeça, eu só tenho 50! (risos)”, brinca. Ela também julga muito importante o relacionamento com Deus.
Mesmo não sendo fácil conciliar a carreira com os seus princípios religiosos, ela garante que manter-se fiel sempre valeu a pena. “Na Croácia, por exemplo, teve um jogo no sábado. A equipe insistiu, mas eu falei ‘não, pessoal, eu vou ficar no hotel. Alguém tem que orar por vocês’. Ganhamos o jogo! Hoje eles já sabem que eu não jogo aos sábados. Então, quando vão fazer as escalas dos jogos, fazem o possível pra não colocar nossas partidas na sexta à noite nem no sábado. Isso já é uma maneira de testemunhar”.
Quando perguntada sobre as alegrias de se dedicar completamente à missão de pregar o evangelho, ela não deixa dúvidas. “O gostoso é que Deus te usa do jeito que você é. Eu trabalho para Ele fazendo o que eu amo, e Ele recompensa. Em Thessaloniki, na Grécia, disputando o Campeonato de Maxibasketball, em 2013, eu brincava: ‘caramba! Eu estou na mesma cidade onde [o apóstolo] Paulo pregou o evangelho... Não acredito que Deus me trouxe até aqui!’ Vale a pena se dedicar. Deus sempre surpreende!”, compartilha.
Durante os 40 anos em que vem trabalhando nestas frentes, Wagner tem recebido apoio de muitos pastores adventistas, a quem ela ressalta sua gratidão. Fruto de toda essa parceria e dedicação, ela já registra mais de 4.000 pessoas que aceitaram a mensagem do evangelho. André Macalé, servidor da prefeitura de Goiânia, é uma delas. “Nas circunstâncias do dia a dia você acha poucas pessoas que fazem a obra de Deus, ainda mais com um trabalho de resgate de pessoas carentes, com problemas familiares ou problemas com drogas. E é gratificante e motivador ver alguém com tanta disposição para fazer isso”, afirma Macalé. A motivação, no seu caso, levou-o a contribuir diretamente com o trabalho na escolinha de esportes.
Histórias como a de Wagner confirmam que a missão flui naturalmente quando se é apaixonado por ela. “Você não precisa montar esquemas para bater numa porta, nem passar horas planejando algo para falar. Se você está na rua e uma pessoa vem te perguntar alguma coisa, aproveite e fale de Deus", aconselha. "Tudo é desculpa pra semear. É algo que tem que vir de dentro para fora!”