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Coluna | Diogo Cavalcanti

Os metais e os reinos

A sucessão de reinos predita em Daniel 2 ainda é tema do colunista Diogo Cavalcanti


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O simbolismo das partes da estátua de Daniel 2 e sua destruição revelam a soberania divina (Foto: Shutterstock)

Concluindo a série de artigos sobre Daniel 2, trataremos aqui especificamente sobre os quatro reinos. Eles são representados pelos diferentes metais que constituem a estátua. É importante notar que o primeiro reino, Babilônia, é representado pela cabeça de ouro (Daniel 2:38). Em seguida, a atenção se volta para o tronco de prata, que representa um reino “inferior” (verso 39), o quadril é de bronze, e as pernas são de ferro, e os pés, de ferro e barro (verso 32, 33).

Há uma diminuição no valor dos metais, o que indica uma degradação sucessiva dos reinos. A degradação do reino unido de Israel e, posteriormente, do reino do Sul, foi marcada pelos escudos de ouro do templo, que depois foram substituídos pelos de bronze (1 Samuel 14:26; 1 Reis 14:27; 2 Crônicas 12:10). Aliás, a conquista dos povos visava à acumulação de metais, fosse pelo saque, de “presentes” ou por meio de impostos (2 Samuel 8:7; 1 Reis 15:18, 19; 20:3; 2 Reis 15:19, 20; 16:8). A Medo-Pérsia, por exemplo, conquistou Babilônia, mas adotou sua cultura.[1] O mesmo ocorreu com os romanos, que abraçaram a cultura grega. A ideia de deterioração é central na visão escatológica da Bíblia, até a intervenção divina.

Os reinos

Após o domínio de ouro de Babilônia (ou neobabilônico), entre 605 e 539 a.C., vieram, na sequência:

Prata – Medos e persas (539-331 a.C.): Na corrente de interpretação preterista, para se identificar o quarto reino como o do rei selêucida perseguidor Antíoco Epifânio, divide-se o segundo e o terceiro impérios entre os medos e os persas, como se um tivesse antecedido o outro. Porém, isso “tortura” o texto de Daniel, fazendo-o afirmar o que não diz. No capítulo 8:20, por exemplo, o império medo-persa é representado por um só animal. No restante do livro, o segundo império sempre é referido de maneira dupla, como “os medos e persas” (5:28; 6:8, 28). Ciro, um persa, dominou a Média (que antes dominava os persas) poucos anos antes de invadir Babilônia. Porém, mesmo em submissão, os medos foram tratados como parceiros, ao ponto de ter sido concedido a Dario, “o medo”, tornar-se rei de Babilônia (Daniel 6:1; 9:1). O Cilindro de Ciro, que se encontra no Museu Britânico, relata em detalhes a conquista de Babilônia por Ciro. O historiador antigo Heródoto também menciona o persa Ciro como o conquistador.[2] A Pérsia dominava a partir do atual Irã, passando pela região de Babilônia (atual Iraque) e se estendendo pela Síria, Palestina, até o Egito,

Bronze – Grécia (331-168 a.C.): Mencionada por nome em Daniel 8:21, a Grécia é o reino que substituiu o dos persas, após uma série de confrontos nos quais sempre estiveram em grande desvantagem numérica e naval, mas ainda assim venceram. Alexandre, o Grande, obteve a vitória definitiva contra os persas nas batalhas de Grânico, Isso e Arbela (334, 333 e 331 a.C., respectivamente). Conhecido geralmente como o império macedônico ou helenístico, partia da Macedônia e da atual região da Grécia, abrangendo todo o império persa, até a Índia. Curiosamente, os soldados desse império usavam armaduras e escudos de bronze, o mesmo metal da estátua de Daniel. Após a morte de Alexandre, sua família e aspirantes ao trono foram mortos, sendo seu reino mais tarde dividido por quatro de seus maiores generais, simbolizados pelas quatro cabeças do leopardo, no capítulo 7.

Ferro – Roma (168 a.C.-476 d.C.): Inicialmente dominada pelos etruscos, no 10o século, a península Itálica foi gradualmente controlada por outro povo, o romano, que formou uma república, em cerca de 500 a.C. Por volta de 200 a.C. Roma venceu a rival norte-africana Cartago, passando a avançar para o oriente e para o sul, dominando o mar Mediterrâneo e os quatro reinos em que se dividiu o império de Alexandre.[3] Em 168 a.C., mesmo em desvantagem numérica, os romanos venceram o reino da Macedônia liderado por Perseu e depois partiram em direção ao Oriente, até dominar a Síria, a Judeia, o Egito e a Mesopotâmia. Chamada por Edward Gibbon de “monarquia de ferro,”[4] Roma se caracterizava pelo tratamento brutal dado aos rivais e aos povos conquistados – um exemplo disso foi a destruição de Jerusalém e a proibição posterior de que os judeus sequer pisassem em sua região natal. Os romanos ainda condenaram centenas de milhares à cruz por todo império, entre eles, o Salvador Jesus Cristo.

Ferro e barro – reinos divididos (desde 476 d.C.): As regiões dominadas pelos quatro impérios jamais foram conquistadas simultaneamente por nenhum império posterior. Fosse por meio de guerras, de alianças políticas ou matrimoniais, as diferenças culturais, religiosas e econômicas sempre foram tamanhas que os reinos europeus jamais puderam se unir. Da mesma forma, o Oriente se divorciou do Ocidente há mais de um milênio. Esse é um dos elementos mais impressionantes e confirmadores do livro de Daniel como profecia. O papado, o Sacro Império Romano-Germânico, os impérios Mongol e Turco-Otomano, Napoleão, Hitler e a União Europeia tentaram, mas não conseguiram governar sobre todos os povos europeus. A Ásia jamais se curvou ao Ocidente, pelo contrário, ambos os “mundos” permanecem divididos até os nossos dias. O falecido pastor adventista de origem alemã Geraldo Marski, sendo chamado para lutar no exército de Hitler, afirmou, assim como Franz Hasel, que o nazismo não venceria.[5]

Direção divina

A condução divina da história por meio de nações serviu tanto aos propósitos divinos quanto aos satânicos. Todos os impérios, sem exceção, em alguns momentos serviram para a proteção e bênção do povo de Deus, assim como em outros buscaram sua destruição. De modo geral, enquanto serviram aos planos divinos, esses reinos permaneceram. Quando atingiram o limite da presunção e perseguiram o povo de Deus, caíram.[6]

Como instituições humanas poderosas, os reinos se arrogam ter direito de vida e morte, bem como de anular os decretos divinos. São poderes que tentaram rivalizar com “aquele que é, que era e que há de vir” (Apocalipse 1:4, 8; 3:10; 4:8), mas que não passaram de uma força política e militar que “era e não é” (Apocalipse 17:8, 9). Transitórios, atingiram um apogeu, mas encontraram seu fim. Vários deles caíram em seu auge, pela mão divina. Vários desses impérios perderam guerras, mesmo tendo recursos e exércitos muito superiores.

Após a queda do império romano, não foi plano de Deus que houvesse mais impérios dominadores como os antigos. As nações deveriam permanecer divididas. E será nessa fase da história humana que Jesus voltará à Terra pela segunda vez, para instaurar um reino divino definitivo: “Mas, nos dias destes reis, o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído; este reino não passará a outro povo; esmiuçará e consumirá todos estes reinos, mas ele mesmo subsistirá para sempre, como viste que do monte foi cortada uma pedra, sem auxílio de mãos, e ela esmiuçou o ferro, o bronze, o barro, a prata e o ouro” (Daniel 2:44, 45). A pedra que destrói a estátua [cujo elemento central é o barro, demonstrando a fragilidade dos dominadores humanos] e se transforma num monte, representa o reino de Deus. Montes na Bíblia e nas profecias apocalípticas representam reinos.[7]

Tantas profecias cumpridas nos ajudam a confiar ainda mais na Palavra de Deus e devem nos fazer refletir sobre os tempos em que vivemos. Mais do que nunca, estamos próximos do Grande Dia (Apocalipse 6:17; 16:14; Romanos 13:11). Jesus veio para falar sobre o reino de Deus e chamar pessoas para fazer parte dele. Falta apenas uma resposta decidida de nossa parte, de se preparar para o reino, pregar uma mensagem de arrependimento, preparando pessoas para sua manifestação.


Referências:

[1] Nichol, F. D. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2013, vol. 6, p. 850.

[2] Heródoto. História. vol. 1, p. 95, 96. Para se aprofundar sobre a relação entre os medos e persas, ver Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 3, p. 33-41, 84-87; vol. 6, p. 896-900.

[3] Nichol, p. 852.

[4] Ibid.

[5] Ver Marski, Geraldo. Primeiro o Reino de Deus. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2007. Mundy, Susi Hasel; Schurch, Maylan. Mil Cairão ao Teu Lado. Tatuí: Casa Publicadora Brasileira, 2006.

[6] A Bíblia registra diversas ocasiões em que isso ocorreu, em relação ao faraó do êxodo (Êx 5:2), aos assírios (2 Reis 18:30; 19:35) e aos babilônios (Daniel 5:30, 31). Os persas decretaram a morte dos judeus (ver livro de Ester); não é de se estranhar que, por volta da mesma época, os gregos tiveram suas primeiras vitórias contra eles, até derrotá-los completamente. O império selêucida (um dos quatro remanescentes do império “grego”) perseguiu ferozmente os judeus, sacrificou porcos no Templo, sofrendo depois disso a Revolta Macabeia e, em seguida, uma derrota mortal pelos romanos. Esses, por sua vez, subjugaram a Judeia, crucificaram a Cristo, perseguiram os cristãos, contribuíram para a paganização do cristianismo, até que perderam seu poder.

[7] Isaías 14:4, 22, 23; cf. Salmo 48:2; 78:68; Isaías 2:2-3; 13:4; 31:4; 41:15; Ezequiel 35:2, 3; Obadias 8, 9; Apocalipse 17:9. Ver Stefanovic, Ranko. Revelation of Jesus Christ. Berrien Springs: Andrews University Press, 2009, 2ª ed., p. 296.

Diogo Cavalcanti

Diogo Cavalcanti

Apocalipses

O universo das profecias bíblicas e suas respostas para as inquietações atuais

Formado em Teologia e em Comunicação Social, e pós-graduado em Letras, trabalha na Redação da Casa Publicadora Brasileira (CPB). É um dos editores de livros, entre eles, o Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia.