O medo de perder tira a vontade de ganhar
Na vida cristã, um passo rumo à morte pode significar caminhar em direção à vida
“O medo de perder tira a vontade de ganhar”. Essa frase foi dita pelo técnico Vanderlei Luxemburgo e, hoje, digo que modela, sem dúvida, muito dos comportamentos corporativos. Nossa capacidade de protagonismo está quase castrada em benefício de uma sobrevivência institucional. Regras implícitas, padrões preconcebidos e nem sempre oficializados têm limitado o grau de independência que deveria ser inato ao ser humano, à parte de seu compromisso laboral.
Esse artigo busca refletir sobre isso, notadamente em nível eclesiástico, e pretende uma conclusão autoral, consideradas as instâncias às quais dependo e me reporto respeitosamente, como pastor desta Igreja.
Um dia, quando ainda era estudante do curso de Teologia, ouvi de um experiente servidor adventista algo que ainda hoje repercute em minha mente: “Mais vale um cachorro vivo do que um leão morto”. Uma frase bíblica, por supuesto. Esse amigo fazia referência ao desafio da sobrevivência em ambientes hostis a opiniões divergentes ao establishment. O verso de Eclesiastes se insere no contexto da preservação da vida porque, na morte, não há lucro, reconhecimento e, sobretudo, sentido existencial! O majestoso leão que ruge alto e forte, morto, perde sua pose, poder ou influência. Daí que, diante do risco da morte física ou institucional, melhor é contentar-se com a vida, ainda que permaneças não mais do que um cão, ladrando, mas vivo!
O dilema da vida é escolher a opção mais adequada, ainda que pareça óbvio querer continuar vivo! Que tipo de vida? Uma vida sem sal, insípida, conformada aos paradigmas estabelecidos ou uma existência disposta ao protagonismo, a pagar o preço, ainda que ele seja a morte institucional…
Muitos já sofreram as consequências do protagonismo. A vida mesmo, seus compromissos e complexidades, vai exigindo uma espécie de inteligência emocional que assegure uma sobrevida sem que isso signifique vender a alma. Os muito corajosos, às vezes, são os leões mortos pela estrada da vida. Não existe ambiente social ou profissional que não nos vá exigir uma conformação. O ponto é entender a dialética da estrutura e rompê-la para que a mesma não nos absorva de tal forma a anular-nos. Se eu tivesse a fórmula, já estaria rico, famoso e vendendo ideias pelo TED!
O que me assusta é que a contrarrevolução vendida por Cristo seja anulada pela própria agência instituída pelos céus para representá-lo na Terra: a Igreja. Essa instituição não foi idealizada para aqueles que possuem um título eclesiástico! A própria expressão “irmãos laicos” é um exemplo da disfunção social vivida dentro da eklesia. Do grego laos, significa povo. Assim que, etimologicamente não deveria conter em si a ideia de separar laicos e pastorado porque, mesmo nós, pastores, somos o laos de Deus! Acontece que a estrutura acaba, em muitos momentos, privilegiando essa classe que, creio, não conforma o ideal divino!
É tanto assim que já vi inúmeras vezes os próprios laicos incorporando aos seus companheiros o título “pr” como maneira de fazer-lhes crescer de importância na pirâmide eclesiástica. Um “pr” à frente abre portas, cria vantagens e pode até massagear egos desinflados…
Pessoas próximas a mim, e eu mesmo, já ´pagamos´ de leão morto! Já deveríamos ter aprendido a lição, não é verdade? Não! Minha aspiração pela vida inclui rugir o mais alto que possa. No simulacro da existência não me imagino cumprindo o papel do latido. Dizer amanhã o que todos estão liberados a dizer não me contenta! Prefiro dizer antes, quando o risco da morte pode ser uma realidade iminente. Quando chegar o momento de declarar nossa fé diante de toda uma circunstância contrária, creio que Deus pedirá de cada um de nós um rugido forte em defesa da fé e muitos vamos morrer! Uma morte digna da salvação pelos méritos de um Cristo que bradou o maior grito silencioso da história, pendurado naquela cruz, como um leão morto. O leão da tribo de Judá!