Nossos jovens e a luta pelo primeiro emprego
As igrejas podem ser relevantes para ajudar os jovens na luta pelo primeiro emprego
Na semana passada separei um tempo para ler a Proposta de Emenda Constitucional 241, a PEC dos Gastos Públicos, que promete mudar muita coisa na vida econômica e social do país. É uma proposta de alteração na Constituição para limitar o crescimento das despesas do governo. As contas públicas perderam o controle, chegando a 70% do Produto Interno Bruto (PIB) em agosto. Pela proposta, nos próximos 20 anos, o governo, o legislativo e o judiciário poderão gastar o mesmo valor que foi gasto no ano anterior, corrigido pela inflação. Ouvi posições contra e a favor desta medida, pensei sobre o impacto na saúde, na educação e no salário mínimo, o impacto no bolso, na geração de empregos e no equilíbrio das instituições. É uma discussão necessária. Deveríamos trazê-la para os membros da igreja?
Eu fiquei pensando em uma roda de debates sobre o assunto liderada pelo ministério jovem, por exemplo, incluindo universitários, convidando economistas, trazendo luz sobre algo que tem se falado muito, mas onde ainda parece haver pouca compreensão. E pensei em uma ação protagonizada pela liderança jovem da igreja porque há um público numeroso, dentro e fora da igreja, que terá o desafio de buscar o primeiro emprego nesse cenário que promete se estender por duas décadas.
Imagine o que representa lançar-se no mercado em busca do primeiro emprego nessa era de vacas magras, onde o desemprego atingiu 12 milhões de pessoas, segundo dados do IBGE. Como ajudar os jovens que precisam encarar essa realidade, de oportunidades escassas? Como a igreja poderia dar apoio, motivação e inspiração para essa travessia que os jovens precisam enfrentar?
Algumas igrejas brasileiras de outras confissões saíram da reflexão para a ação e fizeram a diferença na vida das pessoas. Em Sorocaba, uma paróquia se tornou ponto de encontro para pessoas em busca de uma colocação no mercado de trabalho. Quando a missa acaba, a paróquia se transforma em uma agência de emprego e quem está procurando por uma oportunidade vai ao lado do altar e coloca o currículo. O líder dessa comunidade religiosa avalia currículos e chega a agendar entrevistas de emprego para os fiéis. Um lindo exemplo de cristianismo prático, para muito além da teoria cristã.
Valores e integridade ensinados nas igrejas são importantes para a formação dos jovens, e isso é um ponto importante até mesmo na busca de oportunidades de emprego. Dois anos atrás, a editoria de economica do portal Uol noticiou a estratégia de uma franquia do restaurante Griletto, em Indaiatuba, que divulgava pelo padre da cidade as vagas de emprego do seu negócio. "Sempre vou à missa e via vários jovens trabalhando lá como voluntários e pensava: se estão trabalhando comprometidos como voluntários porque não podem ganhar dinheiro registrados?", disse Emerson Sérgio, dono da franquia, com dois restaurantes na cidade. A propaganda funcionou e o empresário resolveu adotar a estratégia como padrão. Cerca de 30 de seus 45 funcionários foram contratados por meio da igreja na comunidade, a entre 18 e 26 anos. "Essas pessoas nunca trabalharam e têm dificuldade em conseguir o primeiro emprego", avaliou o empresário.
São exemplos extraordinários e inspiradores. E quanto a nós? O que podemos fazer para ajudar os jovens na busca do primeiro emprego?
Segundo dados da sede sul-americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, 22,7% de seus membros estão na idade para conviver com esse dilema. É um universo gigantesco, considerando que existe 2,4 milhões de adventistas nesse território. É um desafio e uma oportunidade de ação para nossas igrejas e instituições. Fiquei feliz em ver orientação sobre este assunto no programa Saldo Extra, da TV Novo Tempo. Através do programa na tevê e de uma página no site, li algumas orientações importantes para ajudar os jovens nessa jornada. Conhecimento do mercado, preparação do currículo, preparação para entrevista, desenvolvimento de competências. Vale a pena você ler o artigo neste link. É sem dúvida uma boa iniciativa de uma de nossas instituições.
Acredito que as igrejas também poderiam ser relevantes nesse cenário. Sua igreja tem feito algo para ajudar os jovens na luta pelo primeiro emprego?
Fico pensando em algumas iniciativas que poderiam ser adotadas por nossas congregações. E compartilho três ideias com vocês:
1) realização de encontros de preparação para o mercado. Nesses encontros, os jovens contariam com o apoio de psicólogos, diretores de recursos humanos, profissionais experientes que frequentam a igreja, ou mesmo convidados, para ajudar a se preparar para encarar o mercado. Seria uma oportunidade de conhecer mais sobre a realidade do mercado, de entender os meios para conquistar uma vaga de emprego, de estabelecer uma rede de contatos com profissionais de várias esferas do mercado.
2) Feira de profissões. Com o apoio de profissionais experientes da igreja, em vários ramos de atuação, seria possível fazer uma exposição de profissões, com estandes onde os profissionais de várias áreas de atividade apresentariam a realidade de seu mercado, e as competências necessárias para se dar bem na busca de uma oportunidade. Para os jovens, seria uma excelente oportunidade de interação com a realidade desse mercado, e essa informação pode motivá-lo na busca dessa chance.
3) Mobilização de empreendendores. Muitos fiéis da igreja têm negócios próprios, e poderiam orientar os jovens, em um programa organizado pelo departamento que cuida dos jovens na igreja, a refletir sobre o empreendedorismo, e avaliar a possibilidade de ser dono de um negócio próprio. Eventualmente, esses empreendedores poderiam dar palestras sobre como abriu o negócio, as dificuldades pelas quais passou, e os caminhos que precisam ser seguidos para ser dono de um negócio no Brasil.
Essas são ideias simples, de fácil implementação nas igrejas. Você teria outras para contribuir com esse artigo?