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Coluna | Wilson Borba

Iminência sim, radicalização não!

A iminência da volta de Jesus requer um cuidado: a marcação de datas para Seu retorno


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Estudiosos da Bíblia supõem muitas datas para a criação do mundo, mas a urgência deve ser em estar preparado para a volta de Jesus (Foto: Divulgação)

As Escrituras Sagradas apresentam o relato da criação como revelação factual, ou seja, “história de algo que ocorreu como está escrito, assim como aceito por Jesus e os demais escritores bíblicos..”[1] Ou aceitamos o relato da Criação como literal e histórico ou cairemos em um mar de relativismo. O Criacionismo propõe uma origem recente da vida, por meio de Deus, há poucos milhares de anos.[2] A semana da Criação teria ocorrido aproximadamente há 6 mil anos.[3]

O relato literal da criação, conforme o capítulo 1 de Gênesis, foi aceito pela maioria dos estudiosos da Bíblia ao longo dos tempos. Algumas pessoas, no entanto, fizeram afirmações radicais como, por exemplo, o arcebispo James Usher (1581-1656). Ele declarou que a criação ocorreu no ano 4036 a.C.[4] Já o hebraísta Linghfoot (1602-1675) afirmou, de modo ainda mais radical, que a criação ocorreu entre os dias 18 a 24 de outubro de 4004 a.C., e que Adão foi criado no dia 23 de outubro de 4004 a.C. às 9 horas da manhã.[5]

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Tomando a ideia de Linghfoot, alguns indivíduos fizeram o seguinte cálculo: 6000-4004, e apontaram 1996 como o ano da volta de Cristo à Terra. Já Frederick Nolan (1784-1864), teólogo anglicano e linguista irlandês, em seu livro Time of the Milennium, apresentou a teoria de que o mundo duraria 6 mil anos, os quais concluiriam aproximadamente no ano 2000.[6] Entre os defensores desta teoria aparecem George Faber (1773-1854), Alexander Campbell (1788-1866), José Maria Gutierrez de Rozas (1769-1848) e Robert Scott (1760-1834). Eles conseguiram persuadir a milhares de que “até dois mil chegará, mas daí não passará”.[7] O tempo passou e você imagina o que aconteceu.

É necessário fazer diferença entre crer de maneira sensata de acordo com o relato bíblico que a semana da criação ocorreu há aproximadamente 6 mil anos e radicalmente marcar uma data para aquele evento. É imprudência e radicalização pretender acertar o ano da criação. Esse assunto não foi revelado por Deus. Nem Jesus, nem os profetas, nem os apóstolos gastaram tempo com isso. Note a seguinte radicalização: se desde a semana da Criação se passaram exatamente 4.000 anos até o ano 27 d.C. (ano do batismo de Jesus), ou até o ano 31 d.C. (ano de sua morte), isso promoveria especulação em torno da data do retorno de Cristo. Simplesmente deveríamos somar mais 2000 anos, e teríamos marcado de forma sutil e enrustida a data do retorno de Cristo para o período entre 2027 e 2031. Fácil, hein?

À luz da Palavra de Deus, decisivamente esse tipo de recurso não ajuda a Igreja em sua missão de pregar o evangelho eterno, pois não há base bíblica exata para assim declarar. Cada vez que pessoas polarizam em torno de uma data para o retorno de Cristo, passando o referido tempo, a expectativa e euforia inicial, geralmente se transformam em frustração, desânimo, incredulidade e apostasia.

Um bom conselho sobre evitar datar exatamente a Criação do mundo, e em sequência incentivar ou marcar data para a segunda vinda de Cristo pode ser: “as coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29:29). As Escrituras apresentam uma saudável doutrina da iminência do retorno de Cristo à Terra. Por exemplo, leia o sermão profético de Cristo em Mateus 24 e 25. Jesus deu sinais claros do seu retorno, mas não fez especulação nem radicalização em torno de datas.

Igualmente, Ellen White nunca se referiu com exatidão à data da Criação, ou da entrada do pecado, ou da volta de Cristo. Ela escreveu: “tenho sido repetidamente advertida com referência a marcar tempo. Nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo”.[8] E, “qualquer pessoa que comece a proclamar uma mensagem para anunciar a hora, dia, ou ano do retorno de Cristo, abraçou um jugo e está proclamando uma mensagem que o Senhor nunca lhe deu”.[9] Portanto, doutrina da iminência sim, radicalização em marcar datas não.

Referências:

[1]Elias Brasil de Souza e Adenilton Tavares de Aguiar “A Criação e a Teologia Adventista: Gênesis 1 e a linguagem criacionista de João”, em Criacionismo no Século 21, organizado por Wellington dos Santos Silva (Cachoeira, BA: CePliB, 2013), 187.

[2]Ariel A. Roth, Origens (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), 155.

[3]L. James Gibson y Humberto M. Rasi, ed. Fe y ciencia (Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 2011), 111.

[4]Ruben Aguilar, “Os céus, o intervalo e a semana da criação”, Parousia, Unaspress, 1º semestre de 2010, 9.

[5]Bernard Ramm, The Christian View of Science and Scripture, (Grand Rapíds, MI: Erdmans Publishing Company, 1966), 174.

[6]Enoch de Oliveira, Ano 2.000 angústia ou esperança (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1988), 14.

[7]Ibíd.

[8]Ellen G. White, Mensagens Escolhidas, 1: 188.

[9]Ellen G. White, Review and Herald , 12 de setembro de 1893.

Wilson Borba

Wilson Borba

Sola Scriptura

As doutrinas bíblicas explicadas de uma forma simples e prática para o viver cristão.

Bacharel em Teologia pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (Unasp), campus São Paulo. Possui mestrado e doutorado na mesma área pelo Unasp, campus Engenheiro Coelho. Possui um mestrado em Sagrada Escritura e outro doutorado em Teologia pela Universidade Peruana Unión (UPeU). Ao longo de seu ministério foi pastor distrital, diretor de departamentos, professor e diretor de seminários de Teologia da Igreja Adventista na América do Sul.