Igreja, dívida e educação financeira das famílias
A fragilidade da economia brasileira tem ampliado o número de famílias endividadas. Dados do Banco Central mostram que 46% das famílias brasileiras estão com despesas fora do controle.
Avalanche é um fenômeno natural traiçoeiro, capaz de provocar uma tragédia na vida de muita gente. De repente, uma camada de neve se movimenta de forma violenta, tornando-se maior na medida em que desce um vale, arrastando casas, árvores, rochas, movendo-se de forma mais acelerada e destruidora em uma velocidade superior a 160 quilômetros por hora. E é assim, de repente, que um movimento sorrateiro se torna em algo com impressionante poder de destruição.
É possível usar a avalanche como a analogia perfeita do endividamento. Você não percebe, mas despesas não acompanhadas, seguidas por compras no cartão de crédito, parcelamentos em cartões de lojas, vão se transformando inicialmente numa bola de neve. Com a crise econômica pela qual o país atravessa, essa bola de neve vai ganhando cada vez mais consistência e força. De repente, as finanças de uma família inteira sofrem uma corrosão digna de uma avalanche.
O endividamento provoca insegurança, problemas de saúde, de relacionamento, autoestima. A fragilidade de nossa economia tem ampliado o número de famílias endividadas. Os dados do Banco Central mostram que 46% das famílias brasileiras estão com dívidas fora do controle. Isso é algo que passa por outra realidade, igualmente dura, mostrada pela Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio (Pnad), que calculou o desemprego em 2015 atingindo o patamar de 8,4%. São quase 2 milhões de pessoas que perderam o emprego. A desigualdade social no Brasil, que registrava 14 anos de melhoria sistemática, aumentou pela primeira vez em 2015. É realmente um cenário novo e diferente para muita gente que não viveu crises semelhantes no país, entre a década de 80 e começo dos anos 90.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia tem algo a acrescentar para a sociedade brasileira nesse contexto - uma sólida orientação sobre educação financeira para as famílias. Isso é algo inclusive que me espanta o fato de não ser uma iniciativa comum a um número maior de igrejas. Os adventistas podem contribuir com o país abrindo portas de seus templos, escolas, universidades e outras instituições para ensinar os brasileiros noções necessárias de economia e administração financeira. Existe farta literatura sobre isso. E o alerta é bem claro. Ellen White chegou a sugerir a seus leitores para que fugissem das dívidas como quem foge de lepra. (Conselhos sobre Educação, 203).
Como a Igreja pode orientar a população sobre educação financeira? As possibilidades são muitas. Uma série sobre o assunto pode ser abordada em cultos especiais de jovens, em um sábado à tarde, mostrando o drama do endividamento e a importância de saber fazer e administrar um orçamento desde cedo. É possível criar estudos da Bíblia focados nessa noção de economia, e a importância dela para o equilíbrio e bem-estar dos fiéis. Classes de estudo sobre educação financeira e gestão dos próprios recursos podem ser criadas e mantidas em nossas Igrejas. Sites e blogs podem ser criados com orientações para essa finalidade.
O brasileiro não tem a cultura da economia de seus próprios recursos. Há quem atribua esse fato à Previdência Social, uma vez que países que não têm esse direito estabelecido de forma tão culturalmente forte, como o Brasil, precisam aprender a poupar pensando nos tempos de velhice e aposentadoria. De qualquer forma, a má gestão financeira é um problema nacional. E os adventistas têm pedigree e elementos intelectuais e bíblicos para ajudar as pessoas a se desenvolverem nessa esfera importante da vida. Nesse contexto tão brutal de crise econômica, desemprego e desigualdade, essas iniciativas ajudarão a Igreja a ser socialmente relevante nas comunidades.