Pastor missionário descreve rotina vivida na Mongólia
Salvador, BA…[ASN] Hoje completa um ano em que o pastor Yure Gramacho se mudou para a Mongólia, juntamente com a esposa e o filho. De férias no Brasil, ele separou um tempo para contar a incrível experiência de viver longe do país de origem. Ele par...
Salvador, BA…[ASN] Hoje completa um ano em que o pastor Yure Gramacho se mudou para a Mongólia, juntamente com a esposa e o filho. De férias no Brasil, ele separou um tempo para contar a incrível experiência de viver longe do país de origem. Ele participa do projeto missionário criado pela Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, Missionários para o Mundo. A Mongólia está localizada entre duas grandes potências do mundo: ao sul está a China e ao norte, a Rússia. Tem a capital mais fria do mundo, Ulan Bator, com um dos invernos mais longos e rigorosos. As temperaturas por seis meses variam entre 20 e 50 graus negativos.
Há quanto tempo você já está em missão?
Há 1 ano. Chegamos na Mongólia no dia 26 de fevereiro de 2015.
Existe um tempo estimado para permanecer nesse país?
O projeto estabeleceu um período total de 5 anos de serviço missionário além mar.
Como surgiu o desejo de ser missionário fora do Brasil? Foi uma oportunidade ou um sonho antigo?
Sempre achei fascinante dialogar com outras culturas e cosmovisões. Durante o seminário teológico, a leitura de um livro que abordava o assunto de missões transculturais chamado O Fator Melquisedeque mexeu muito comigo e me despertou para os desafios de trabalhar overseas (além mar). Quando soube que a DSA (Divisão Sul-Americana da Igreja Adventista do Sétimo Dia) estava iniciando um projeto para enviar 25 famílias missionárias para países onde o cristianismo é praticamente desconhecido, o coração ardeu dentro do peito. Senti claramente o chamado de Deus e entendi que Ele estava colocando diante de mim e da minha família uma grande oportunidade de servirmos nos confins da terra. Participamos de um longo processo seletivo e por fim fomos chamados para trabalhar no continente asiático, mais especificamente em um país remoto, chamado Mongólia.
Você é casado e tem filho. Como foi deslocar a família para participar de uma missão tão importante como essa? Eles têm algum tipo de envolvimento com a missão?
Sem dúvida não é uma decisão fácil largar tudo no Brasil e se dispor a viajar rumo ao desconhecido principalmente porque isso envolve outras pessoas, familiares e amigos, tanto os que ficam quanto os que vão. No meu caso, o apoio incondicional de minha esposa foi fundamental antes e agora durante o desenrolar do processo. O choque cultural de uma mudança como esta, atinge todos os membros da família missionária, portanto é fundamental que todos estejam 100% envolvidos com a missão e comprometidos em se apoiarem mutuamente. Laís, minha esposa, é fisioterapeuta e está ajudando na área de saúde e no ministério da criança. Meu filho Kauai tem apenas 2 anos e meio e sempre nos acompanha em todas as atividades. O detalhe é que o meu filho tem atraído a atenção do povo local, pois apesar de não saber falar direito ainda, ele consegue falar um idioma que poucas pessoas falam, mas que todas as pessoas do mundo entendem, a linguagem do amor. Ele sorri, abraça e beija, transmitindo muito carinho em suas atitudes. As pessoas ficam curiosas para saber de onde vem tanto amor. Aprendi muito com ele esse ano!
Você abriu mão de muitas coisas para ser um missionário. Qual coisa mais você sente falta?
Sou muito flexível quanto a vivenciar novos hábitos culturais, portanto isso me ajudou bastante nesse período de transição. Não senti muita falta do lugar em si (no caso de Salvador e do Brasil), apesar de amar a minha terra, mas o que de fato são insubstituíveis, são as pessoas. Quando estamos distantes, percebemos mais do que nunca que nossa família e nossos amigos são o bem mais precioso que temos em nossa terra natal.
Quais as dificuldades encontradas para desenvolver seu trabalho na Mongólia?
A Mongólia é um país de extremos, a começar pelo clima. Ulan Bator, na Mongólia, é considerada a capital mais gelada do mundo com temperaturas que chegam facilmente a 40 graus abaixo de zero. Mais de 60% da população vive em condições sub humanas, muito abaixo da linha de pobreza. O país tem como religião oficial o budismo tibetano e menos de 3% da população local é cristã, o que faz de Jesus um nome praticamente desconhecido nesta região. Apesar de haver liberdade religiosa, o governo cria uma série de empecilhos burocráticos para dificultar a propagação do evangelho. Muitos mongóis ainda possuem um sentimento de desconfiança em relação a tudo que venha do ocidente e muitas vezes o cristianismo é visto apenas como uma ferramenta de colonização e exploração comercial. Mas entre tantos desafios, com certeza a comunicação se destaca como um dos maiores. O idioma mongol é muito complexo com um alfabeto, gramática e pronúncia completamente diferentes do nosso ou mesmo do inglês. Em contrapartida, quando falamos algumas frases na língua local, mesmo que em um nível básico, conseguimos nos aproximar das pessoas e conquistar sua confiança, pois ao ouvirem a mensagem em sua língua materna esta lhes chega com mais facilidade ao coração.
Sentiu medo ao chegar em um local completamente diferente do que estava acostumado?
É natural sentir um “friozinho” na barriga sempre que você tem que enfrentar algo que ainda não conhece, mas em nenhum momento sentimos medo, pois tínhamos e temos a certeza de que o Senhor nos enviou até a Mongólia, Ele está no comando da Sua obra por isso cremos que estamos em suas mãos e que Ele nunca nos abandonará a despeito das circunstâncias adversas que virão.
Certamente, você já viveu inúmeras experiências. Qual é a mais marcante?
É impressionante quanta coisa acontece em um ano de trabalho como missionário. Obviamente não temos espaço para registrar tantas experiências interessantes, envolvendo também questões de aspectos culturais e alimento um blog, onde relato várias dessas situações. Mas, sem dúvida, uma das coisas mais marcantes para mim, ocorreu uma semana após a nossa chegada no país. Depois de um dia de aulas do idioma local eu estava voltando pra casa de ônibus, quando notei uma jovem senhora mongol conversando em inglês com o seu filho. Como não é muito comum encontrar alguém falando inglês na Mongólia, me aproximei deles e puxei conversa. Procurando estabelecer um ponto de contato inicial, disse a ela que estava morando na Mongólia com minha família e que estava estudando a língua. Logo em seguida, ela me perguntou o que eu fazia na Mongólia, qual o meu trabalho. Respondi que eu era um pastor, mas como ela não entendeu o termo, tentei explicar dizendo que era um líder religioso, comparando aos lamas (monges budistas), mas que ao invés de ser um discípulo de Buda, disse a ela que eu era um discípulo de Jesus. Foi então que esta senhora coçou a cabeça e disse: “Jesus? Eu não tenho certeza, mas acho que devo ter ouvido esse nome alguma vez. Quem é ele mesmo?” Confesso que não estava preparado para aquilo, foi muito chocante pra mim pois foi a primeira vez que me deparei com alguém que realmente nunca havia ouvido falar de Jesus e Sua mensagem de salvação! Naquele momento a minha ficha caiu e só ali comecei a entender o tamanho do desafio missionário que estava diante de nós.
Qual a sua rotina como missionário?
Esse primeiro ano foi um ano, sobretudo, de adaptação. Nos primeiros meses, estive focado em estudar a língua mongol e compreender a cultura local com o propósito de identificar pontos em comum com o evangelho, criando assim pontes de comunicação para a pregação das boas novas de forma contextualizada e revelante para esta sociedade milenar. Pela manhã, após nossa devoção pessoal e familiar, vou para a escola de idiomas onde estudo por três horas o idioma mongol com uma professora local. Na parte da tarde, me divido entre as atividades no escritório da igreja (Mongólia Mission), onde trabalho como Diretor de Comunicação e MIPES (Ministério Pessoal e Escola Sabatina) e também para me misturar com o povo nas praças, parques, feiras, monastérios e templos. Acredito plenamente no que diz a escritora Ellen G. White quando afirma que “Unicamente os métodos de Cristo trarão verdadeiro êxito no aproximar-se do povo. O Salvador misturava-Se com os homens como uma pessoa que lhes desejava o bem. Manifestava simpatia por eles, ministrava-lhes às necessidades e granjeava-lhes a confiança. Ordenava então: ‘Segue-Me’”. João 21:19. (A Ciência do Bom Viver, p. 49). Tenho procurado seguir diariamente o modelo de trabalho do Mestre.
Qual mensagem você deixa para quem deseja ser missionário?
Prepare-se com oração e estudo para os desafios radicais do campo missionário. Deus quer te usar de acordo com os seus dons e haverá sempre um lugar na grande seara para todos aqueles que verdadeiramente desejam trabalhar pela salvação de almas para o reino de Deus. A igreja hoje precisa de profissionais das mais diversas áreas de atuação, para que adentrem, principalmente, nas áreas do planeta que ainda estão fechadas para a pregação do evangelho, como a janela 10/40. Lembre-se também de se dedicar com afinco ao estudo do inglês, pois geralmente o aprendizado da língua nativa (no campo missionário) se dará a partir do inglês. Se possível, viaje para lugares (cidades, estados e países) com uma cultura diferente da sua. Misture-se com as pessoas e procure familiarizar-se com as mais diversas necessidades humanas, através do relacionamento e serviço. Comece sendo um missionário na sua família e entre seus vizinhos. Tenha humildade e o espírito de um eterno aprendiz. Mas, acima de tudo, viva uma vida de comunhão diária e intimidade com o Senhor pois “sem Ele, nada poderemos fazer” (Jó 15:5). [Equipe ASN, Monique dos Anjos]
“Understanding in order to be understood is the key of every testimony.”
(Trad. Compreender para ser compreendido é a chave de todo testemunho)
Ganoune Diop.
Todos podem acompanhar nossas aventuras na Mongólia através do blog www.odiariodeummissionario.blogspot.com